Há mais de uma década, ainda na era dos saudosos Xbox 360 e PS3, Warhammer 40,000: Space Marine fazia sua estreia. Participando do zeitgeist de jogos de tiros em terceira pessoa que marcaram a época, conseguiu um sucesso módico apresentado a história do tenente ultramarine Titus.
Com a saga Warhammer sendo uma das mais populares dos nichos nerds, a Focus Entertainment deu um voto de confiança para a Saber Interactive resgatar a franquia Space Marine do ostracismo e apresentar uma nova aventura visceral da guerra sem fim que a humanidade enfrenta nesse universo distópico.
Com um pacote completo contendo campanha, missões secundárias, jogabilidade cooperativa online e modos multiplayer, a Saber convida o jogador a uma sessão nostalgia que há anos não se via, tudo isso no prisma de uma apresentação visual belíssima.
Ação brucutu
Quando digo que a Saber queria levar o jogador de volta ao tempo, falo sério. Space Marine 2 traz uma campanha de alta testosterona, com personagens que não conseguem tirar o semblante sério da face, muito tiroteio, porradaria insana e extrema violência.
Particularmente, louvo bastante as características, ainda mais em uma aventura meio descerebrada que não exige praticamente nada do jogador, mas prende o suficiente para ver seu término.
Após ser punido pelos eventos da história original, o tenente Titus serve a Death Watch por um século inteiro, sendo encarregado a resolver uma invasão de Tirânidos em Kadaku. Após o sucesso da missão e ser promovido a um Primaris, escalão de prestígio dos Astaris, Titus terá enfrentar outros focos da invasão destes alienígenas em diferentes planetas.
Para isso, contará com a ajuda de dois ultramarines: Gadriel e Chairon. Entretanto, por conta das incursões passadas, Titus enfrentará dificuldades em conseguir confiar em seus novos comparsas.
Em essência, a história de Space Marine 2 é isso: uma jornada para Titus aprender a confiar mais uma vez nos ultramarines. Logo, mais uma vez me vejo na obrigação de desmentir a produção da obra: é importante sim saber da história do primeiro jogo. Além de melhorar a história e trazer valor à boas referências, há uma reviravolta final importante que liga os dois títulos, além do terceiro ato inteiro ser sustentado pela problemática que era presente no título anterior.
Jogadores novos podem apreciar a história que, apesar de ser sim dependente do primeiro jogo, consegue se sustentar sozinha, mas a atenção do jogador certamente não será a mesma que a de um veterano.
Os novos personagens são bons, assim como os diálogos altamente adequados ao universo Warhammer, porém tive algumas sensações incômodas em relação à narrativa por ser bem previsível, além de pouco imaginativa na interação do trio e também da falta de set pieces mais épicas.
Ocorre que, pela estrutura do jogo em trazer esquadrões diferentes para realizar objetivos distintos em uma mesma missão, muitas vezes Titus e seus parceiros acabam realizando a parte mais insossa da aventura. O jogador pode se aventurar nessas partes mais interessantes no centro de Operações, que complementa esses buracos de ação mais interessantes da história.
Outro ponto que é negligenciado pelos desenvolvedores é a falta completa de um códice, bestiário ou sumário. O universo de Warhammer é extremamente rico, logo se torna um descuido enorme não ter uma seção do jogo trazendo resumos sobre os Tirânidos, os ultramarines, Astaris, Orks, o Omnissiah, os magus e diversos outros elementos do lore. Um verdadeiro desperdício que afasta muito o jogador deste universo.

Banho de sangue
O ciclo de jogabilidade de Space Marine é extremamente simples. O jogador, seja com Titus ou outros personagens, está munido de duas armas de fogo, uma arma branca, três granadas e alguns kits médicos para restaurar a saúde. Posteriormente, Titus ganha um “modo fúria” que aumenta seu dano e restaura a saúde por alguns segundos. Em algumas missões, há a presença do jetpack que adiciona uma variedade bem-vinda, explorando mapas verticalizados.
Todos os sistemas funcionam bem, mas pela mecânica de restaurar saúde e escudos, o jogo incentiva uma abordagem mais direta no combate corpo a corpo, principalmente contra a legião de Tirânidos (aliás, é sempre impressionante ver centenas de criaturas atravessando o mapa e se empilhando umas as outras para te matar). Contando com uma variedade satisfatória de inimigos, o jogador precisa ficar atento para não ser sobrepujado pelas criaturas que também sabem atirar em determinados momentos.
A sanguinolência e desmembramentos são garantidos no jogo inteiro, além de contar com cinquenta animações únicas de execução (essas são as que restauram a saúde do jogador). Para variar o combate, também é possível defletir alguns inimigos que saltam sobre você e também se esquivar em golpes impossíveis de bloquear.
Os chefes também são bastante divertidos de batalhar contra, mas admito que poderiam ter mais batalhas deste porte, pois sempre são os pontos altos dos capítulos.
Entretanto, a partir da metade do jogo, uma nova facção é apresentada e acaba mudando bastante os hábitos do jogador, reforçando algumas falhas no balanceamento das armas. Apesar de contar com um arsenal extenso, todas as metralhadoras bolter parecem não emplacar dano o suficiente, deixando a impressão dos inimigos serem esponjas de bala.
Então se torna comum usar uma pistola de plasma ou um rifle de precisão. Como o jogo não tem um sistema de cobertura, a ação fica menos intensa com os tiroteios estratégicos predominando no restante da experiência.
Nesta jornada de volta ao passado, também temos um game design clássico dos anos 2010. As fases são longos corredores muito bem decorados com alguns espaços de arena e raros pontos sem saída que trazem logs de áudio ou recursos para reabastecer munição.
A estrutura linear permite que o modo cooperativo online funcione já que nenhum jogador pode ficar acaba afastado demais do grupo, além de muitos elevadores reforçarem a necessidade de união e proximidade. É restritivo, mas faz sentido para a proposta.
Os cenários também variam bastante entre selvas exuberantes, cavernas perdidas a cidades monumentais que evidenciam os acertos da direção de arte. A produtora capturou com perfeição o clima opressor da arquitetura gótica retrotecnopunk que Warhammer carrega.
São cenários extremamente detalhados com bastante atenção. Dá para notar que os desenvolvedores realmente são apaixonados pelo universo da saga. Além disso, há muito capricho com os horizontes da visão do jogador, exibindo tiroteios e batalhas massivas a distância.
O jogo também chega bem otimizado para PC, mas pela quantidade exuberante de inimigos, é bom estar ciente da necessidade de uma boa CPU que passa a ser o componente mais importante para garantir estabilidade e maiores fps.
Tecnicamente, a única coisa que posso dizer que desaponta são as telas de carregamento. Algumas são caprichadas com o briefing da missão, mas na barcaça principal que serve como hub de interação com o armeiro e seleção do modo de jogo, se torna um teste de paciência o entra e sai contínuo em elevadores.

Longevidade para milênio
A Saber, ao propor esse pacote completo e redondo, também trouxe mais modos de jogo. O Operações, como já mencionado, trazem seis fases PvE com elementos narrativos para os jogadores se aventurarem entre seis classes disponíveis.
As mesmas classes estão disponíveis no modo Horda que traz desafios intensos de ondas de inimigos. Esses dois modos são consideravelmente mais difíceis então é uma boa ideia contar com a companhia de amigos.
Por fim, há o PvP em modos de jogo bastante clássicos como mata-mata e captura de território. É divertido, mas a natureza repetitiva do combate vai exigir atualizações constantes para manter o interesse do jogador ativo.
Nisso, somos recompensados com moedas de jogo para desbloquear tintas e novas peças de cosméticos para criar o ultramarine exatamente do modo que o jogador quer. Exige um bom grinding, mas para quem é fã da saga, imagino que seja um verdadeiro deleite dedicar horas para destravar todo o conteúdo.
Bons e velhos tempos
Space Marine 2 evoca a lembrança na memória de épocas mais simples que os jogos tinham finalidades e propostas mais segmentadas, para nichos específicos de jogadores. Ao contrário dos projetos AAA atuais que visam agradar a maior parte possível dos consumidores em potencial.
Sendo uma obra muito caprichada, com visuais belíssimos, boa trilha musical, história satisfatória e gameplay divertido, é difícil não recomendar o título. Espero que a indústria perceba a movimentação dos jogadores por títulos mais focados em uma tendência que tem acontecido desde o lançamento de Baldurs Gate 3 no ano passado.
Ao jogar Space Marine 2, me senti mais uma vez com 14 anos, me divertindo nas noites que chamava meus amigos para compartilharmos ótimos momentos jogando Halo ou Gears of War. Que o jogo consiga propiciar novas memórias tão especiais para uma geração mais jovem de jogadores. No futuro, vão lembrá-lo como um clássico dos “bons e velhos tempos”.
Agradecemos a Focus Entertainment pela cópia gentilmente cedida para a realização desta análise.