A 11 bit Studios é especialista em trazer jogos impactantes de conceitos originalíssimos como se fosse o feito mais fácil do mundo. Após conquistar muita gente com o hit This War of Mine, avançaram ainda mais em 2018 ao trazer Frostpunk. 

Por mais que o sucesso não tenha sido imediato, o jogo ganhou uma campanha de recomendação de inúmeros jogadores. Foi através da recomendação de um youtuber que sigo, que acabei conhecendo e virando um fã. 

A proposta de trazer uma jornada sobrevivencialista em um mundo pós apocalíptico no final do século XIX é interessantíssima, ainda mais adicionando o elemento de construção de cidade com diversas escolhas morais muito complicadas com a escassez brutal de recursos. A segunda iteração expande todas as características brilhantes do original para entregar ideias ainda melhores.

O Capitão está morto. Vida longa ao Dirigente! 

A campanha de Frostpunk 2 é bem melhor elaborada que a do jogo original. Atravessando seis capítulos e a mudança de século para os anos 1900, a história começa 30 anos após a grande tempestade que marca o clímax do jogo passado. 

Já idoso e debilitado, o Capitão conseguiu guiar Nova Londres para a prosperidade estável por gerações, mas a morte bate à porta e o personagem se vai. Sem destino certo, a comunidade elege um Dirigente (o jogador) para tentar resolver os inúmeros problemas que se acumulam após anos de crescimento. 

Mesmo se tratando de uma sequência, é possível encarar os dois Frostpunks como experiências radicalmente diferentes. Enquanto o primeiro game era focado em dias, não atravessando mais de um mês para finalizar sua história íntima focada em sobrevivência, o segundo é muito mais expansivo, mais interessado em garantir verdadeiras cidades sustentáveis repletas de tramoias políticas. 

A campanha, vital para entender todas as mecânicas do jogo, segue a filosofia de fracassar para conquistar os objetivos. O jogo segue difícil e, curiosamente, o desafio principal não se trata de garantir recursos. Na verdade, a escassez é de mão de obra para conseguir garantir novos estabelecimentos que são vitais para o progresso do jogo. 

Nisso entram as novas mecânicas. Frostpunk 2 é muito dedicado à escola política. O Dirigente não é o Capitão e, por isso, há um Conselho onde se aprova as leis, como se fosse uma Câmara de Deputados. A cada jogo, há diferentes comunidades como lordes, refugiados, cientistas, militares, etc. 

Em questão de poucos minutos, algumas comunidades se radicalizam e formam facções com visões muito diferentes uma da outra. Por causa disso, o jogador terá que conseguir controlar os ânimos para que nenhuma guerra civil aconteça ao mesmo tempo que garante a sua própria sobrevivência. 

Para isso, a desenvolvedora apresenta diversas formas de conseguir controlar as comunidades e fazer com que as leis que o jogador quer que sejam aprovadas consigam emplacar. É possível financiar os grupos, aprovar leis que eles apoiam e também pesquisar ideias que resolvam alguns dos problemas mais urgentes da cidade. 

É mais fácil falar do que conseguir realizar tudo com sucesso, já que a busca por recursos, apesar de ser menos complicada, continua desafiadora e em algum momento o jogador terá grandes dificuldades. 

É aqui que entra uma das grandes conquistas da obra: a expansão em colônias. Nova Londres já dá trabalho por si só, mas a inserção de colônias adiciona muitas camadas de complexidade. Enquanto uma colônia é até mais fácil de administrar, duas ou mais já se tornam um pesadelo. 

Já se complica porque o jogo é fundamentado nesse alicerce. Cedo ou tarde, o jogador vai ter que montar uma colônia ao explorar as Terras Gélidas e aí sim encarar o verdadeiro pesadelo administrativo do jogo, já que os desafios se multiplicam. As colônias e Nova Londres se complementam e nunca nenhuma delas é autossuficiente. Então fique ciente que essa característica de administração é primordial no ciclo de gameplay do jogo. 

Review | Frostpunk 2 é evolução completa do conceito original da franquia
11bit Studios

O sucesso pelo fracasso em Frostpunk 2

O desafio de Frostpunk 2 também é uma das melhores experiências do jogo porque ele nunca se torna injusto. Nesse escopo muito maior, o jogador fará distritos como residencial, extrativista, alimentar, industrial ou logístico. 

Todos são importantes e consomem recursos, então em algum momento será preciso desativar alguma unidade para ter mão de obra para outro distrito mais urgente. Eles são aprimorados através da árvore de pesquisas (muito mais complexa) que adiciona centros ou construções que otimizam ou complementam de alguma forma. 

Por conta da dimensão do jogo, os mapas são maiores e a adoção dos clássicos hexágonos se torna uma saída de game design. Para implantar os distritos e conseguir evoluir a cidade, é preciso expandir o território habitável com as máquinas gigantes de quebrar gelo. Chegando ao hexágono do recurso (que é finito na maioria das vezes), é possível instalar o distrito. 

A mecânica da finitude de recursos é que faz girar a necessidade das colônias. Felizmente o jogo é muito didático em explicar suas próprias mecânicas e a interface do usuário ser muito intuitiva. Só há um pouco de falta de clareza no menu para destinar recursos às colônias e vice-versa, mas nada que seja impraticável. 

Aliás, a mecânica do clima segue persistente e, agora, as tempestades de gelo são condições orgânicas que podem acontecer várias vezes em uma jogatina. Então é importante manter estoques para se preparar para o pior. 

Review | Frostpunk 2 é evolução completa do conceito original da franquia
11bit Studios

Gélida esperança 

Tecnicamente, Frostpunk 2 apresenta inúmeros aprimoramentos. Não só em toda a programação de suas mecânicas, mas também em seu visual, design de produção e trilha musical (mais épica do que nunca). 

O jogo é bem bonito e conta com diferentes efeitos gráficos elaborados como partículas para as tempestades, efeitos de névoa e fumaça, tesselação e deformação de terreno. É mesmo de se encher os olhos, além de apresentar sete mapas diferentes para o jogador aproveitar. 

Entretanto, tantos efeitos gráficos enquanto o jogo trabalha simultaneamente muitas simulações, acabam pesando bastante a experiência para quem desejar jogar com tudo no máximo. Com geração de quadros, numa 4090, com todos os presets no ultra em 4K, o jogo mal sustentava 30 quadros. 

Com concessões gráficas módicas que ainda preservam toda a beleza do game e no DLSS equilibrado, o jogo flutua a mais de 90 fps. Ele está bem otimizado no estado atual, mas é importante ter isso em mente. De resto, além de alguns glitches visuais, o jogo não apresentou nenhum problema durante minhas sessões de jogo. 

Frostpunk 2 prova a capacidade fantástica da 11bit Studios em conseguir aprimorar ainda mais seus talentos e ideias originais. Sendo um citybuilder de sobrevivência repleto de escolhas e administração de poder, o jogo é um dos melhores do gênero, oferecendo uma experiência completa, excelente, além de um sentimento muito satisfatório de conquista ao superar a montanha de obstáculos que apresenta a cada minuto. Perder nunca foi tão bom e didático. Agora resta aguardar as expansões e ver como a 11bit consegue aprimorar ainda mais essa experiência que já é muito completa. 

Agradecemos a desenvolvedora pela cópia gentilmente cedida para a realização desta análise.

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