A SuperMassive Games surpreendeu muita gente com a qualidade entregue em Until Dawn em 2015, um dos grandes exclusivos do PS4. O jogo de terror apresentado nos moldes de “filme” narrativo com diversas escolhas para delimitar o destino da história, foi consagrado como um dos melhores do gênero que já havia sido explorado pela Quantic Dream com Heavy Rain e Beyond. 

Até então, na época, Detroit não havia sido lançado e Until Dawn conquistou o destaque de todo o gênero por se propor a ser uma experiência de horror definitiva – mesmo que a história por si seja uma reverência ao cinema hollywoodiano do gênero dos anos 80, 90 e 2000.

Agora, nove anos depois, o jogo retorna totalmente refeito pela Ballistic Moon. Com o PlayStation 5 já tendo uma má fama enorme envolvendo a quantia massiva de remasters e remake, muita gente entortou o nariz para a nova versão do jogo, mas afirmo categoricamente que se trata de um dos melhores remakes já produzidos e que fazem sentido de existir. 

Marketing fraco, experiência rica

O que mais vai prejudicar Until Dawn é seu marketing fraco. Muitas novidades sobre o remake, só fui descobrir quando de fato comecei a jogar. A começar, o jogo inteiro foi feito na nova Unreal Engine 5 e parece usar a técnica dos meta humanos, apresentando modelos de personagens ainda mais realistas com animações faciais aprimoradas. 

Enquanto no elenco de nove protagonistas as animações são ok, o jogador vai experimentar o vale da estranheza com o Dr. Hill que sofre de um exagero gigante em suas expressões faciais caricatas prejudicadas pelo overacting do ator Peter Stormare. 

Por conta da mudança de engine, agora é possível mexer a câmera livremente, largando os enquadramentos fixos do original. Por conta disso, a exploração do jogo é mais encorajada e a interação com objetos e colecionáveis, fica muito mais interessante e presente. Ainda assim, isso não significa que o level design apresente mudanças significativas. Ainda se trata de um jogo extremamente linear de corredores estreitos com alguns bolsões exploráveis. 

A jogabilidade mistura bastante os trechos de câmera livre para as cinemáticas interativas nas quais o jogador decide os caminhos do Efeito Borboleta e acerta os quick time events. Nesses trechos mais cinemáticos de exploração limitada, a Ballistic Moon aproveitou para enquadrar novos planos e oferecer uma experiência ainda mais cinematográfica. 

Se valendo do Lumen e de efeitos Ray tracing em iluminação e sombreamento global, preservando a paleta de cores azuis e brancas, de fato a apresentação de Until Dawn nunca foi tão bela. A modelagem dos personagens está bastante fidedigna aos originais com aperfeiçoamentos nítidos. 

Como o sistema de iluminação está retrabalhado, a experiência fica bastante imersiva. Por eu ser muito calejado com terror e tendo visto muitos filmes do gênero, não me assusto com o jogo de modo algum e a atmosfera não é muito opressiva a ponto de causar ansiedade ou de me congelar pelo medo do desconhecido. 

O tom de Until Dawn sempre pende mais para o camp de horror teen em vez de ser algo mais cerebral e aterrorizante. A direção original sempre gostou de reverenciar o estilo escrachado de Sam Raimi em Evil Dead e slashers de psicopata com toques de Jogos Mortais. Logo, há muito investimento em jump scares fajutos com muletas sonoras de efeitos de som altos para garantir o susto. Isso pode funcionar em muita gente, mas pessoalmente já achava bem pedestre desde a época do original. 

O que quero dizer é que a experiência de horror de Until Dawn será mesmo pessoal. Se você gosta desse estilo de terror, terá um verdadeiro prato cheio com o remake. Terror adolescente clássico de qualidade. 

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SIE

Oportunidades perdidas em novo Until Dawn? 

Porém, nem tudo é positivo no remake, no que tange a versão de PS5 pelo menos. Infelizmente o jogo roda travado nos 30 fps, sem a possibilidade de aumentar o frame rate. Isso traz sim a experiência cinematográfica desejada pelo estúdio, mas ao mesmo tempo prejudica a gameplay já vagarosa do jogo. 

É uma tortura controlar os personagens se arrastando, andando no passo mais lento possível, como se fossem verdadeiros tanques de guerra. Como não se trata de um survival horror e sim um filme interativo, essas passagens de gameplay podiam ter sido reformuladas ou pelo menos terem adicionado uma velocidade de marcha para os personagens andarem um tanto mais rápido. 

Por conta disso, o jogo sofre um pouco no ritmo, mas quando a situação quase fica realmente negativa, uma passagem de ação acontece para tornar a experiência mais divertida. Ainda se tratam de dez capítulos variando de tamanho, trazendo 22 opções importantes do jogador para delinear a história e alguns colecionáveis. 

Aliás, os totens seguem esquisitos com os personagens os investigando, tendo premonições bizarras e não emitindo nenhuma opinião sobre o que foi mostrado. Bem esquisito mesmo, uma falha de design herdada da versão original. Aliás, a trilha musical também é retrabalhada com novas canções licenciadas, além de haver por padrão a proporção ultrawide de 21:9 que realmente foi uma boa adição aqui. 

De glitches e bugs, o jogo tem sua parcela, no entanto. Há alguns pop-ins que surgem em tela com carregamento tardio de texturas e algumas quedas de fps. Nada é grave, porém, e é certo que tudo seja corrigido em patches futuros. 

Até o Amanhecer

Para quem nunca jogou Until Dawn, é óbvio que esta versão é a recomendada. Entretanto, para quem já é veterano e ainda tem a aventura violenta da Supermassive recente na cabeça, não é uma boa ideia investir no valor cheio do jogo. Trata-se de uma experiência curta com um fator de replay relativamente limitado. 

Logo, é bom esperar alguma promoção boa para cair de cabeça no título, além de que ele deve receber melhorias para quem adquirir a versão Pro do console. Já no PC, se trata de uma bela oportunidade de conhecer o jogo que lançou a Supermassive como referência no mercado, sendo especialista em jogos do tipo tendo lançado o igualmente bom The Quarry há um tempo. O título tem a minha recomendação de qualquer forma. Trata-se de uma experiência divertida de alta qualidade lançada em um momento muito propício: o querido mês do Halloween. 

Agradecemos a PlayStation pela cópia gentilmente cedida para a realização desta análise.

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Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

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