O fracasso de um filme nas bilheterias é um fenômeno complexo e multifacetado, que vai muito além da qualidade artística da obra. Filmes podem apresentar atuações excelentes, efeitos especiais inovadores e ainda assim falhar em atrair o público esperado. Muitos fatores contribuem para esses fracassos, incluindo o momento de lançamento, estratégias de marketing inadequadas, concorrência no mercado, mudanças nas preferências do público e até problemas nos bastidores. Vamos explorar alguns desses elementos mais profundamente, usando exemplos dos maiores fracassos de bilheteria mencionados. Coringa: Delírio a Dois ainda não está na lista, pois segue em exibição, mas alguns estudos apontam uma perda de até 200 milhões de dólares para a Warner.
Marte Precisa de Mães (2011)
Perda: US$ 180 a 190 milhões
Um dos maiores fracassos da Disney, Marte Precisa de Mães é um caso interessante de como a animação pode impactar a percepção de um filme. O uso intensivo de captura de movimento, similar ao utilizado em O Expresso Polar, criou uma estética visual que muitos consideraram estranha e desconfortável. O uncanny valley (um termo que descreve a sensação de estranhamento diante de figuras humanoides que parecem quase reais, mas não o suficiente) afetou a receptividade do público. Além disso, o título pouco inspirador e a falta de uma campanha de marketing eficiente fizeram com que o público simplesmente não se interessasse pelo filme. O fracasso marcou o fim de uma era para a Disney, que passou a investir menos em animações com essa estética.
Batalha Naval (2012)
Perda: US$ 200 milhões
Batalha Naval representa o erro de acreditar que qualquer franquia de brinquedos ou jogos pode ser transformada em um blockbuster de sucesso. O filme foi claramente uma tentativa de replicar o sucesso da franquia Transformers, mas, ao contrário dos robôs alienígenas, Batalha Naval não tinha um apelo de nostalgia ou uma base de fãs apaixonada. O enredo confuso e a falta de personagens envolventes contribuíram para que o filme fosse visto como superficial, sem alma, e incapaz de competir com outros grandes lançamentos de verão. Mesmo com um elenco relativamente conhecido e efeitos especiais impressionantes, Batalha Naval naufragou por não encontrar uma identidade forte ou um público cativo.

Strange World (2022)
Perda: Estimada em US$ 150 milhões
Este filme da Disney enfrentou problemas que refletem uma tendência maior nas animações atuais. A Disney, que por décadas foi sinônimo de qualidade e sucesso nas bilheterias, viu uma mudança nas preferências do público. Parte disso se deve à saturação do mercado com produções animadas e à ascensão de outras formas de entretenimento, como séries de streaming. Além disso, a pandemia de COVID-19 mudou significativamente os hábitos de consumo do público, com muitos preferindo esperar por lançamentos digitais ou streaming, ao invés de irem ao cinema. Strange World sofreu com uma campanha de marketing fraca, que não comunicou bem o apelo da história para diferentes públicos, resultando em uma performance de bilheteria bem abaixo do esperado.
Sinbad: A Lenda dos Sete Mares (2003)
Perda: US$ 125 milhões
Este filme marcou o fim de uma era para a DreamWorks, que havia investido pesadamente em animações tradicionais, desenhadas à mão. Sinbad chegou em um momento de transição no cinema de animação, quando a tecnologia CGI estava começando a dominar o mercado, graças ao sucesso de filmes como Shrek e Toy Story. O público estava claramente mais interessado em ver animações modernas, e a estética de Sinbad, embora bonita, foi percebida como datada. A má recepção foi uma lição dolorosa para a DreamWorks, que a partir de então passou a focar quase exclusivamente em animações geradas por computador.
Ilha da Garganta Cortada (1995)
Perda: US$ 200 milhões
Antes de Piratas do Caribe, filmes de piratas eram notoriamente difíceis de vender ao público. Ilha da Garganta Cortada foi o exemplo mais dramático disso, sendo um desastre em termos de produção e bilheteria. Problemas nos bastidores, como a troca de diretores e um roteiro que passou por múltiplas revisões, resultaram em um filme confuso e pouco coeso. Além disso, o público simplesmente não estava interessado em histórias de piratas na época, e o marketing do filme falhou em capturar o que poderia torná-lo emocionante. A perda massiva de dinheiro fez com que o gênero fosse evitado por anos, até que Piratas do Caribe o ressuscitou em grande estilo.

Máquinas Mortais (2018)
Perda: US$ 175 milhões
Apesar de ser produzido por Peter Jackson, de O Senhor dos Anéis, Máquinas Mortais foi outro exemplo de como a adaptação de livros de ficção científica para jovens adultos nem sempre se traduz em sucesso nas bilheterias. Após o término de franquias como Jogos Vorazes e Divergente, o apelo por distopias YA estava diminuindo. O filme foi visualmente impressionante, mas sua narrativa foi criticada por ser clichê e mal executada. Além disso, a competição acirrada com outros lançamentos importantes da época contribuiu para o fracasso. Máquinas Mortais ilustra como até mesmo um projeto com uma equipe de peso pode falhar quando o gênero está saturado e o público não se sente atraído pela história.
The Marvels (2023)
Perda: US$ 237 milhões
O MCU foi, por muito tempo, uma garantia de sucesso, mas The Marvels sinaliza uma mudança significativa no apelo das produções da Marvel. O filme foi prejudicado por vários fatores: a fadiga do público com a avalanche de conteúdo do MCU, a falta de popularidade da protagonista e a dependência de uma série de TV (Ms. Marvel) que não teve uma audiência massiva. Embora o filme tenha recebido críticas mistas, com alguns apreciando sua leveza e outros criticando a falta de profundidade, a questão central foi que o entusiasmo pelo MCU como um todo está diminuindo. Isso mostra como até mesmo uma gigante como a Marvel pode sofrer com um ciclo de produção excessivo e expectativas mal ajustadas.
O Cavaleiro Solitário (2013)
Perda: US$ 240 milhões
Mesmo com a equipe de Piratas do Caribe, O Cavaleiro Solitário foi um desastre. Johnny Depp e Armie Hammer não conseguiram levar o filme ao sucesso esperado, e a Disney perdeu uma quantia massiva com esse projeto.

John Carter (2012)
Perda: US$ 250 milhões
John Carter foi um dos maiores fracassos da história recente do cinema, e suas perdas astronômicas são um exemplo perfeito de como marketing inadequado pode afundar um filme. Baseado no clássico de ficção científica de Edgar Rice Burroughs, o filme sofreu com uma campanha promocional confusa que não conseguiu comunicar ao público o que exatamente era John Carter. Além disso, o título genérico não ajudou a atrair fãs de ação e aventura. Embora o filme tenha qualidades, como efeitos visuais e cenários bem feitos, ele foi lançado em um momento em que os épicos de ficção científica estavam em baixa. A produção cara e as expectativas inflacionadas criaram uma tempestade perfeita para o fracasso.
Esses exemplos demonstram como o fracasso de um filme nas bilheterias pode ser resultado de uma combinação de fatores, desde problemas criativos até estratégias de marketing equivocadas. Muitas vezes, o sucesso ou fracasso de um filme vai além da sua qualidade objetiva; timing, tendências de mercado e a forma como o filme é promovido são cruciais. Fracassos de bilheteria também servem como lições valiosas para a indústria, mostrando que até mesmo projetos ambiciosos e de alto orçamento podem naufragar se não conseguirem cativar o público.
Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.
Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.
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