Em uma entrevista ao site americano IndieWire, neste sábado, 11 de janeiro, a atriz e escritora Fernanda Torres abordou de forma contundente o debate em torno dos chamados “nepo babies” — termo que se refere a filhos de artistas ou figuras de destaque que seguem a mesma carreira dos pais. A vencedora do Globo de Ouro por sua atuação em Ainda Estou Aqui criticou o estigma associado a esses profissionais e sugeriu que a discussão desvia o foco das verdadeiras causas da desigualdade social.
“A luta errada”: Fernanda Torres critica o foco sobre ‘nepo babies’
Fernanda Torres iniciou sua fala ao afirmar que a atenção dada ao tema dos “nepo babies” é um exemplo de como a sociedade tem investido esforços em batalhas improdutivas. Para ela, o debate não resolve questões fundamentais como o acesso à educação e à saúde, que são essenciais para combater a desigualdade. “A boa luta é por uma boa educação para todos. A desigualdade não se baseia nas oportunidades que um ‘nepo baby’ pode ter. Você pode eliminar todos os ‘nepo babies’ do mundo, e ainda assim não resolverá o problema da desigualdade. Taxar grandes fortunas é uma forma de combater a desigualdade. Lutar por saúde para todos, por educação para todos [é]”, pontuou a atriz.
A artista cresceu em meio ao universo do teatro e da televisão, acompanhando de perto a carreira de seus pais, Fernanda Montenegro e Fernando Torres. Ela destacou que esse ambiente familiar contribuiu para seu desenvolvimento profissional, enfatizando a importância do aprendizado transmitido dentro da família. “A mesa de jantar da minha casa era o lugar onde meus pais ensaiavam”, contou.
A defesa dos ‘nepo babies’ e a valorização das heranças culturais
Ao longo da entrevista, Fernanda Torres criticou a visão de que ser um “nepo baby” garante automaticamente uma vida fácil. Segundo ela, a realidade é bem diferente, pois essas pessoas enfrentam pressões e expectativas específicas. “Não significa que, quando você é um ‘nepo baby’, sua vida está resolvida. Pelo contrário, você tem que se reinventar. Você tem outras questões”, afirmou.
A atriz também defendeu que a transmissão de conhecimentos e experiências dentro das famílias é algo que deve ser valorizado, não destruído. Comparando sua família a uma “família de circo”, Torres ressaltou que muitas carreiras artísticas surgem do ambiente familiar, onde as crianças crescem em contato com a profissão dos pais. “Isso dá às pessoas espaço para apontar dedos umas para as outras, fingindo que estão lutando contra a desigualdade, enquanto estão apenas destruindo algo bonito, como uma família de circo, por exemplo. Eu venho de uma família de circo. Então, sou a prova de que os ‘nepo babies’ têm uma chance! Eles deveriam ter uma chance no mundo. Não matem os ‘nepo babies’!”, disse.
Um chamado para as “boas lutas”
Encerrando a entrevista, Fernanda Torres chamou a atenção para causas que, segundo ela, merecem maior prioridade na sociedade atual. Entre elas, destacou a necessidade de taxar grandes fortunas e regulamentar o mundo digital. “Hoje em dia, estamos cheios de lutas erradas e barulhentas que não nos levam a lugar nenhum. A luta contra a desigualdade, para taxar grandes fortunas, para regular o mundo digital, essas são as boas lutas. Vamos lá, pessoal, acordem.”
A fala de Fernanda Torres reforça uma visão crítica e consciente sobre o papel das famílias no desenvolvimento profissional e cultural, além de trazer à tona questões fundamentais sobre a desigualdade social. A atriz encerra com um convite à reflexão sobre quais batalhas realmente merecem ser travadas.