Ainda Estou Aqui ganha estreia internacional e críticas divididas na França
Após o sucesso no Brasil, o filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, começa a ser exibido internacionalmente, com estreia nesta quarta-feira em 200 salas na França sob o título Je Suis Toujours Là. O filme, que já conquistou o público brasileiro, tem gerado resenhas mistas nos jornais franceses, dividindo a opinião dos críticos.
No Le Monde, uma das principais publicações do país, a crítica de Jacques Mandelbaum se destacou por seu tom ácido. O crítico apontou que a “focalização melodramática” na personagem Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, faz com que o filme não consiga explorar de forma mais profunda o contexto totalitário em que se passa. Segundo Mandelbaum, a interpretação de Torres é “passavelmente monocórdia”, e sua representação do sofrimento da personagem lembra mais uma figura religiosa do que uma análise social crítica. Ele ainda comparou a atuação de Torres à de Sônia Braga em Aquarius (2016), um filme que, segundo ele, abordou o sofrimento de uma mulher de maneira mais complexa e menos melodramática.
Apesar das críticas, o filme recebeu elogios em outras resenhas. A revista Télérama, por exemplo, deu ao longa a nota “très bien”, a segunda mais alta em sua escala de cinco, reconhecendo as qualidades da produção e do enredo. A abordagem do filme, que discute os efeitos do totalitarismo e as marcas deixadas por regimes opressores, encontrou mais aceitação entre outros críticos que destacaram a importância da obra.
A atuação e a crítica à abordagem do sofrimento
A personagem Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, é central para a trama de Ainda Estou Aqui, que se passa em um período marcado por repressão política. No entanto, a escolha do diretor de abordar o sofrimento de forma melodramática, segundo a crítica de Mandelbaum, faz com que a reflexão sobre o totalitarismo no filme seja tratada de maneira superficial. A comparação com Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, parece apontar para uma expectativa de um tratamento mais político e profundo do tema, algo que, para Mandelbaum, Ainda Estou Aqui não alcança completamente.
Por outro lado, a atuação de Torres tem sido elogiada por sua entrega emocional, mesmo que o tom do filme tenha sido questionado quanto ao equilíbrio entre drama e crítica social.