A saga de Ninja Gaiden 2 é nada menos que icônica para todos os que vivenciaram esse grande momento do hack n’ slash em seu lançamento original em 2008. Foi um dos maiores títulos exclusivos do Xbox 360 por anos, além de se tornar um título lendário ao apresentar um combate tão visceral, frenético e violento, conseguindo fazer frente à God of War, maior expoente do gênero até então.
Como a conservação de jogos exclusivos ainda é um debate complexo, Ninja Gaiden 2, em sua forma original, ainda segue exclusivo dos sistemas Xbox, sendo impossível de jogar em qualquer outro lugar. É uma relíquia nem tão perdida assim já que anos depois, a Koei Tecmo remasterizou a trilogia com a versão Sigma – que por sua vez já foi remasterizada recentemente.
Com o Sigma lançado para o PlayStation 3, a versão trazia conteúdo extra, mudanças de mecânicas e desenho de fase, mas ao mesmo tempo eliminava a sanguinolência e carnificina do original, além de reduzir o número de inimigos simultâneos no combate. Por isso, quando Ninja Gaiden 2 Black foi anunciado e lançado ao mesmo tempo, muita gente exclamou de alegria, pensando que se tratava de um remake digno do original, mas na verdade a história é um pouco mais complexa.
Nostalgia em pauta
Ninja Gaiden 2 Black na verdade é um remake feito na Unreal Engine 5 da versão de Ninja Gaiden 2 Sigma, mas adicionando de volta toda a violência que marcou gerações, além de inúmeras melhorias de qualidade de vida. A história acompanha Ryu Hayabusa, o lendário Dragão Ninja, em sua jornada muito desconexa ao redor do mundo para impedir que a satanista Elizabét consiga trazer o arquidemônio supremo de volta à atividade ao mesmo tempo que conta com a ajuda da agente americana Sonya.
Falar da narrativa do jogo é praticamente uma enorme perda de tempo, pois ela é extremamente simples, repleta de furos bizarros, além de trazer saltos entre locais diferentes ao redor do mundo que fazem pouco ou nenhum sentido. Serve apenas para diversificar as fases conceituais que eram clássicas em games mais antigos que se valiam do design do nível para apresentar novidades como armas e inimigos.
Se tratando da versão Sigma totalmente repaginada, nota-se a ausência completa dos puzzles que ainda existiam no original, mas isso não chega a afetar negativamente a experiência. O que gera uma fadiga é a escolha de mitigar a dificuldade ao apresentar inimigos menos agressivos com maior barra de vida em menor quantidade – ao contrário de trazer inimigos agressivos de pouca vida aos montes como era no clássico.
As três fases adicionais com as personagens Rachel, Ayane e Momiji quebram o ritmo do jogo que já apresenta um certo desgaste em seu ritmo por conta da repetição e falta de novidades no terço final. Além disso, o jogo não traz consigo o modo de New Game+ que certamente afeta seu valor final ao longo do tempo.
Entretanto, ter a oportunidade de rejogar ou até mesmo de conhecer Ninja Gaiden 2 não deve ser esnobada ou minimizada. Ter enfim uma versão definitiva da obra em toda sua gloriosa sanguinolência e sem sofrer censuras para agradar o dito “público moderno” é uma verdadeira conquista.
O jogo nunca foi visualmente tão lindo com texturas atuais, iluminação totalmente retrabalhada, além da adição de diversas características para a direção de arte icônica do game. As diferenças já são notadas desde a primeira fase nos arranha-céus de Tóquio até o final do jogo dentro do Monte Fuji – aqui, o combate já dá uma verdadeira cansada, mesmo com a experimentação de diversas armas e upgrades realizados na loja do Muramasa.
Apesar do rigor técnico do jogo ser positivo e o game funcionar bem depois dos patches de lançamento, há alguns problemas muito particulares à versão de PC que valem o aviso e que certamente prejudicaram minha experiência.
A primeira coisa a ser feita é desativar o ray tracing que faz pouca ou nenhuma diferença a um custo massivo de performance. Além disso, para quem já possui placas RTX 40, é uma boa ideia desligar o frame generation que aumenta a latência do controle de um modo muito inconveniente sem conseguir alavancar os frames de forma significativa. Além disso, o jogo exagera no slider de nitidez para o DLSS, tornando tudo muito desagradável de ser visto – então zere a nitidez por completo para ter uma experiência visual mais polida.
Ainda nisso, há um monte de efeitos de pós-processamento que incomodam como o motion blur mais feio da história recente, vinhetas, aberração cromática, bloom, entre outras coisas. Depois de desativar tudo isso, aí sim deu para notar o quão belo é o jogo, apesar do visual de seus personagens ser tão artificial que confere uma aparência de cartum para eles, principalmente para Sonya e Muramasa.
Há outros bugs bizarros envolvendo a hitbox de alguns chefes, um que encadeia combos de algumas armas em paridade com o FPS, além da batalha de primeiro estágio do chefe final ser uma verdadeira chatice – mas isso é demérito do jogo mesmo na versão original. Mas nada disso chega realmente a ser um impeditivo para concluir a história do jogo que continua dificílimo como sempre foi.
A experiência sonora também não é marcante, mas traz as mesmas músicas genéricas e funcionais do original, além das faixas de voz relativamente remasterizadas. Para mim, a melhor correção envolveu a seção de plataforma da Torre do Relógio – era um verdadeiro pesadelo prosseguir nesse segmento, dar de cara no chão e recomeçar tudo de novo.

Definitivo, mas ainda não ideal
Ninja Gaiden 2 Black é provavelmente o mais próximo que os fãs vão conseguir de um remake do icônico game de 2008. Muito provavelmente o código fonte do original esteja perdido e, por isso, a versão retrabalhada tenha sido a Sigma. Ainda se trata de um título muito divertido de uma época cujo principal objetivo de um game era entreter com ação ininterrupta, fases marcantes, arsenal divertido, exagero e violência. Tempos que certamente não voltam mais.
Então, ter o prazer de jogar mais uma vez Ninja Gaiden 2 com tantas melhorias visuais certamente foi uma experiência muito válida, mas eu não sei se depositaria tanto dinheiro no valor proposto de lançamento. Como o game está disponível no Game Pass para Xbox e PC, não há proposta melhor e, agora, há muito espaço para mods melhorarem ainda mais o título para aproximá-lo das propostas do original. Certamente vale o seu tempo, mas saiba onde investir os reais da sua carteira, afinal trata-se de um jogo curto sem o fator de replay primordial.