Com a estreia da segunda temporada de The Last of Us, uma nova polêmica tem movimentado as redes sociais — e ela não diz respeito à representação, mas à estrutura emocional da própria história. Apesar de veículos como o Collider alegarem que a série está sofrendo um “bombardeio de críticas” por parte de trolls misóginos, o público insiste: a frustração é legítima e está centrada na ausência precoce de Joel.
O artigo assinado por Rahul Malhotra, no Collider, argumenta que a pontuação do público no Rotten Tomatoes — atualmente em 52%, enquanto a crítica profissional mantém 96% — caiu devido a uma “vingança contra produções lideradas por mulheres”. No entanto, essa narrativa tem sido vista como reducionista por parte dos fãs, especialmente aqueles que não jogaram os games e estão assistindo à série pela primeira vez.
Indignação antiga, reação renovada
Em 2020, jogadores que vivenciaram The Last of Us Part II se mostraram divididos diante da decisão de remover Joel abruptamente da trama. Agora, cinco anos depois, a mesma frustração ressurge entre espectadores da adaptação televisiva, revelando que a raiz do problema não está em preconceitos ou campanhas coordenadas, mas sim em uma conexão emocional interrompida sem o devido cuidado narrativo.
Para muitos, Joel — interpretado com intensidade por Pedro Pascal — era o eixo emocional da série. Sua relação com Ellie na primeira temporada foi o ponto central da narrativa. “A série nos fez investir emocionalmente em Joel apenas para tirá-lo de cena de forma abrupta. Isso não é má-fé do público, é um trauma narrativo legítimo”, comentou um usuário no Reddit.
A controvérsia do marketing e da mídia
Parte da indignação remete também à forma como a sequência foi comercializada nos games, com trailers enganadores que sugeriam a presença de Joel ao longo de todo o jogo. A impressão de manipulação ainda ecoa entre os fãs, e agora se reflete na recepção da adaptação.
O artigo do Collider agrava ainda mais o desconforto ao comparar a reação à saída de Joel com a suposta “campanha de ódio” sofrida por outras produções como Capitã Marvel, A Pequena Sereia e Branca de Neve. Para os críticos dessa abordagem, a tentativa de empacotar toda crítica em um único “espantalho tóxico” serve mais à proteção de agendas ideológicas do que à análise real das escolhas narrativas.
A crítica legítima precisa de espaço
Segundo os fãs, reduzir toda manifestação contrária à segunda temporada a misoginia ou fanatismo é apagar críticas genuínas sobre estrutura, ritmo e impacto emocional. Bella Ramsey, por exemplo, tem recebido tanto elogios quanto questionamentos em sua atuação como Ellie. O debate não gira em torno do gênero, mas da fidelidade emocional à personagem apresentada nos jogos.
Mais do que isso: há um padrão preocupante em parte da cobertura midiática, que valida as críticas do público quando elas coincidem com certos valores, mas as desqualifica quando contrariam decisões criativas ou editoriais específicas.
A verdade é simples: a reação à segunda temporada de The Last of Us espelha exatamente o que ocorreu em 2020 com os jogos. E agora, com uma nova audiência, sem passado gamer, a mesma frustração emergiu espontaneamente. Isso indica que o problema não está em campanhas organizadas, mas na percepção de que a série rompeu com seu elo narrativo mais forte sem entregar um substituto à altura.
Criticar essa decisão não é ataque — é feedback. E se há uma lição não aprendida por parte dos criadores e da mídia, é que a audiência continua exigindo algo essencial: respeito pela conexão emocional que constrói uma boa história.