Um filme que nunca deveria existir: “Rust” estreia após anos de luto e reconstrução
Três anos após a trágica morte da diretora de fotografia Halyna Hutchins, o faroeste Rust finalmente chega ao público. O lançamento acontece nesta sexta-feira, 2 de maio, em circuito limitado nos cinemas dos EUA e em plataformas de streaming como Apple TV e Prime Video, por US$ 14,99. O projeto, que quase foi abandonado, retorna marcado por controvérsias, luto e profundas reflexões éticas — especialmente por parte de seu roteirista e diretor, Joel Souza.
Diretor lamenta: “Queria nunca ter escrito esse filme”
Souza foi ferido no ombro no mesmo disparo que matou Hutchins, feito acidentalmente por Alec Baldwin durante as filmagens em 2021. O retorno ao set foi um processo emocional devastador para o diretor. “Eu tinha repulsa pela ideia de voltar”, contou em entrevista ao The Guardian. “Mas a família de Halyna queria que o filme fosse concluído. E eu não conseguia viver com a ideia de outra pessoa fazer isso.”
Apesar disso, Souza é categórico ao afirmar que, se pudesse voltar no tempo, preferiria que o filme nunca tivesse existido. “Falando em efeito borboleta — eu gostaria de nunca ter escrito o maldito filme.”
Relação com Baldwin é inexistente: “Não somos amigos”
Alec Baldwin, protagonista e produtor do filme, chegou a ser acusado de homicídio culposo, mas as acusações foram retiradas por falhas na manipulação de provas. A armeira Hannah Gutierrez-Reed, no entanto, foi condenada e cumpre pena de 18 meses de prisão.
Souza deixou claro que sua relação com Baldwin hoje é nula. “Não somos amigos. Não somos inimigos. Não há relacionamento.” Ao ser perguntado se assistiu ao reality show da família do ator, ele ironizou: “Acho que estava ocupado me batendo no rosto com uma frigideira naquela noite.”
Crítica aponta um filme competente, mas emocionalmente morno
A crítica do The Hollywood Reporter descreveu Rust como um faroeste clássico e visualmente belo, mas que “carece de intensidade emocional”. A cinematografia — iniciada por Hutchins e concluída por Bianca Cline — foi elogiada como “harmoniosa e impressionante”, com belas composições de luz e sombra.
Contudo, a história, centrada em dilemas morais e violência no Velho Oeste, não teria conseguido transmitir toda a carga emocional esperada de um projeto tão marcado pela tragédia. “Um conjunto tão complexo de personagens deveria nos fazer sentir mais — e Rust luta para conseguir isso”, diz a crítica.
Lançamento cercado por questões éticas
O lançamento de Rust reacende debates sobre segurança em sets de filmagem e sobre a ética de completar obras marcadas por tragédias. Joel Souza, ainda emocionalmente abalado, reconhece o esforço da equipe e da família de Hutchins para dar algum sentido à conclusão do projeto: “A equipe me carregou. Minha família me carregou. Emocionalmente, eu estava completamente perdido.”