Despedida a uma das vozes mais marcantes do Brasil
Morreu nesta quinta-feira (15), aos 100 anos, a soprano Maria Lúcia Godoy, um dos maiores nomes da música brasileira no século XX. Mineira de Mesquita, consagrou-se como a intérprete definitiva de Heitor Villa-Lobos, eternizando sua voz em gravações emblemáticas como a das Bachianas Brasileiras nº 5. Ao longo de décadas de carreira, Godoy transitou com naturalidade entre o repertório erudito e a música popular, interpretando desde modinhas imperiais até canções de Milton Nascimento e Chico Buarque.
Uma carreira dedicada à arte e ao Brasil
Formada em letras e iniciada no canto já adulta, Maria Lúcia Godoy venceu concursos, estudou no Rio e na Alemanha e fundou, em 1956, o Madrigal Renascentista, grupo que teve papel fundamental na divulgação da música mineira e brasileira, inclusive em turnês internacionais. O grupo se apresentou na inauguração de Brasília e mesclava árias de ópera com canções populares, como Travessia, de Milton Nascimento.
Godoy também brilhou em récitas com a Orquestra Sinfônica de Houston, interpretando obras como Shehérazade, de Ravel, e participou de momentos históricos, como o velório de Glauber Rocha, onde cantou as Bachianas nº 5, trilha marcante de Deus e o Diabo na Terra do Sol.
Uma artista reverenciada por gerações
Maria Lúcia foi exaltada por nomes como Bidu Sayão, que a considerava sua única sucessora, Carlos Drummond de Andrade, que descreveu sua voz como “ouro que não se destrói”, e Ferreira Gullar, que a comparou a “um pássaro voando”. Inspirou ainda a melodia de Sabiá, de Tom Jobim, com letra de Chico Buarque.
Gravou nomes centrais da música brasileira como Hekel Tavares, Carlos Gomes, Guerra-Peixe, Edino Krieger e Waldemar Henrique, além de lançar seu último disco, Acalantos, em 2012, com canções de ninar compostas por ela própria.
Homenagens e legado
Em setembro de 2024, foi homenageada em seu centenário pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Há cerca de dez anos longe dos palcos, fez suas últimas aparições públicas em 2014, em concertos no Palácio das Artes e no Teatro Francisco Nunes, ao lado do pianista Túlio Mourão e do sobrinho, Celso Godoy.
Seu velório ocorre nesta sexta-feira (16), a partir das 10h, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, com enterro marcado para às 17h no Cemitério do Bonfim.