Kojima diz que Death Stranding 2 é o reflexo emocional invertido de Metal Gear Solid
Mesmo com Death Stranding 2 se distanciando formalmente da saga Metal Gear Solid, Hideo Kojima reconhece que existe uma ligação emocional direta entre as duas franquias. Em entrevista à edição 411 da revista Edge, o diretor e criador japonês revelou que, para ele, os dois universos são como lados opostos de um espelho — ambos abordam o luto paterno, mas sob ângulos completamente diferentes.
“A perda do meu pai foi um tema importante na série Metal Gear“, afirma Kojima. “Esses jogos exploram o tema de como você supera seus pais. Death Stranding olha para o outro lado: você assume a perspectiva dos pais, olhando para o filho.”
Aos 13 anos, Kojima perdeu o pai, experiência que moldou não apenas sua visão de mundo, mas também o núcleo narrativo de suas obras. Em entrevistas anteriores, ele já havia descrito essa ausência como uma força criativa marcante — e os jogos Metal Gear refletem isso com intensidade. De Big Boss a Solid Snake, passando pela perturbadora história de Otacon em MGS2, a franquia é uma jornada constante de legado, ruptura e reconstrução paterna.
De matar o pai a cuidar do filho
Se em Metal Gear o impulso é romper com o passado — até de forma literal, como quando Snake é forçado a enfrentar sua própria origem —, em Death Stranding, Kojima inverte a equação. Sam Bridges não precisa destruir nada: ele precisa cuidar, proteger e entender. A relação com BB (Lou), que começa como uma função de sobrevivência, se torna uma metáfora tocante da paternidade.
“Você acha que sabe tudo sobre seu filho, mas há algumas coisas que você não sabe”, explica Kojima. “É como um pai adotivo que pode não saber tudo sobre seu filho. Eles podem ter perguntas. Essa é a emoção que eu queria provocar.”
A sequência, Death Stranding 2, deve aprofundar ainda mais essa abordagem, explorando os mistérios não resolvidos sobre Lou e ampliando o vínculo entre pai e filha.
Referências, ecos e reconciliações
Mesmo ao se distanciar de Metal Gear, Kojima não o abandona. Death Stranding 2 está cheio de acenos visuais e conceituais à sua antiga franquia — desde a nave Magellan, que remete ao design de Metal Gear Rex, até uma personagem que se assemelha a Solid Snake e uma referência obscura à capa alternativa de MGS2. O próprio design de base da Magellan lembra a estrutura aberta de MGS5.
Kojima pode ter deixado a Konami, mas a verdade é que Metal Gear permanece com ele — não como uma prisão criativa, mas como um elo emocional. Com Death Stranding 2, ele parece estar tentando resolver um dilema pessoal que Metal Gear apenas começou a tocar: a busca não pela identidade diante do pai, mas pela compreensão diante do filho.
Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.
Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.
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