Ashly Burch, a talentosa e prolífica atriz conhecida por dar voz a personagens icônicas como Aloy na série “Horizon”, Mel em “The Last of Us 2” e Chloe Price na franquia “Life is Strange”, manifestou profunda preocupação com o avanço da inteligência artificial na indústria de videogames. Em uma entrevista recente, ela destacou o risco de a IA substituir atores humanos, especialmente em papéis menores, o que poderia comprometer o surgimento de uma nova geração de talentos na dublagem.

O temor pela “próxima geração”: IA ameaça papéis de entrada para atores

Durante sua participação em um novo episódio da série “The Games That Made Me”, da Ginx TV, Burch abordou o tema delicado da crescente presença da IA nos jogos. Sua principal apreensão não reside, por ora, na substituição completa de protagonistas por vozes sintéticas, mas sim no impacto que a tecnologia pode ter sobre os papéis secundários – aqueles que historicamente servem como porta de entrada e campo de aprendizado para atores em início de carreira.

“Tenho medo de alguns desenvolvedores tentarem usar IA para substituir atores em papéis que eu aprendi a interpretar”, confessou Burch. Ela argumenta que personagens não jogáveis (NPCs) em vastos mundos abertos ou vozes para chamadas em jogos multiplayer, que exigem menos sessões de gravação e talvez não sejam tão centrais para a narrativa, correm um risco maior e mais imediato. “Eu poderia conceber um mundo em que um desenvolvedor poderia dizer: ‘É, vamos deixar a IA fazer isso…'”, ponderou. A consequência disso, alerta a atriz, seria drástica: “Se você cortar tantos desses papéis que os atores mais jovens precisam para se aprimorar e adquirir experiência, vamos perder nossa próxima geração de grandes atores.”

“Horrorizada” com um futuro totalmente IA, mas o perigo imediato é outro

Embora a ideia de “um jogo inteiro de mundo aberto onde todos os personagens fossem IA” a deixe “muito surpresa” e “horrorizada”, Ashly Burch considera que a ameaça mais palpável no momento é essa erosão gradual das oportunidades para novos talentos. A indústria de dublagem para games já é extremamente competitiva, e a eliminação desses papéis de menor destaque, mas cruciais para o desenvolvimento profissional, tornaria o acesso ainda mais difícil.

A perspectiva de Burch é pessoal e reflete sua própria trajetória, onde personagens secundários e com menos falas foram fundamentais para seu crescimento e estabelecimento como uma das vozes mais reconhecidas do setor.

Greves em Hollywood e a luta por proteção contra a IA generativa

Os comentários de Ashly Burch são particularmente relevantes no contexto atual das greves do SAG-AFTRA (sindicato dos atores dos EUA), das quais ela ativamente participa. Uma das principais pautas dos atores em greve é justamente a busca por proteção contra o uso não autorizado de suas performances e vozes pela inteligência artificial generativa.

Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

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