“Dragon Age: The Veilguard”, lançado em outubro de 2024, foi uma decepção para muitos fãs e, ao que tudo indica, para a própria EA. Agora, uma nova e extensa reportagem do jornalista Jason Schreier, da Bloomberg, publicada nesta quarta-feira, 11 de junho, lança luz sobre os bastidores da produção, revelando um ciclo de desenvolvimento caótico, com mudanças drásticas de direção, prazos impossíveis e uma crescente preocupação sobre o futuro do lendário estúdio BioWare.

De single-player a serviço online, e de volta: a crise de identidade

A reportagem detalha como o projeto, que demorou quase uma década para ser lançado, sofreu com uma grave crise de identidade imposta por decisões executivas. O jogo começou seu desenvolvimento como um RPG single-player tradicional, no estilo clássico da BioWare. No entanto, em um determinado momento, executivos da EA forçaram uma mudança de rumo, exigindo que o título fosse transformado em um jogo multiplayer de serviço ao vivo (live service), seguindo a tendência de mercado da época.

Essa decisão teve consequências imediatas e significativas. O então diretor criativo da franquia, Mike Laidlaw, uma figura chave nos aclamados “Dragon Age: Origins” e “Inquisition”, discordou da mudança e deixou o estúdio. Matt Goldman assumiu seu lugar para trabalhar na nova versão multiplayer.

Anos depois, em outra reviravolta, a EA reverteu a decisão, pressionando a equipe para que o jogo voltasse a ser uma experiência single-player. O problema, segundo Schreier, é que essa nova mudança foi feita sem uma “reinicialização do desenvolvimento”. A equipe teve que adaptar o que já havia sido construído para o multiplayer, “reformulando toda a história” e a “estrutura fundamental do jogo” em um prazo apertado de apenas um ano e meio.

Prazos apertados e um tom que não agradou

Este prazo rígido se tornou um problema crônico. “A equipe de desenvolvimento tomava decisões acreditando que tinha menos de um ano para lançar o jogo, o que limitava severamente as histórias que poderiam contar e o mundo que poderiam construir”, aponta a reportagem.

Além dos problemas estruturais, o tom do jogo também foi um grande obstáculo. Testes alfa internos revelaram uma “falta de escolhas e consequências satisfatórias” – a marca registrada da BioWare – e um tom de diálogo que desagradou os testadores. Isso forçou a equipe a reescrever grande parte dos diálogos para adotar um tom mais sério, mais alinhado com as expectativas dos fãs da franquia.

O futuro da BioWare e a “última chance” com “Mass Effect”

O lançamento sem brilho de “The Veilguard”, que se soma aos resultados mistos de “Mass Effect: Andromeda” e ao fracasso de “Anthem”, coloca a BioWare em uma posição delicada. Schreier afirma em sua reportagem que o futuro do estúdio de 30 anos é uma “preocupação” interna.

Atualmente, uma equipe pequena, de “algumas dezenas” de funcionários, já está trabalhando no próximo jogo da franquia “Mass Effect”. Muitos dentro da indústria e do próprio estúdio veem este novo projeto como o que pode ser a “última chance” para a BioWare provar seu valor e reencontrar o caminho do sucesso que a consagrou como um dos estúdios de RPG mais amados da história.

A EA, segundo a reportagem, se recusou a comentar as informações. A história de “Dragon Age: The Veilguard” serve como um alerta sobre os perigos da interferência executiva e de um desenvolvimento conturbado, cujas consequências se refletiram no produto final entregue aos jogadores.

Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

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