A trajetória de ascensão e queda de Ezra Miller em Hollywood ganhou um novo e peculiar capítulo. Em sua primeira aparição em um tapete vermelho em dois anos, durante um festival de cinema na Itália, o ator rompeu o silêncio com uma entrevista labiríntica e, por vezes, bizarra. Entre reflexões sobre seus dramas pessoais e a indústria, Miller disparou contra o Festival de Cannes, um dos eventos mais prestigiados do cinema, descrevendo-o como um lugar com “fotógrafos, esquisitos e ricos genocidas”.

A declaração polêmica ocorreu enquanto o astro, que se identifica como pessoa não binária, explicava sua breve e discreta passagem por Cannes para prestigiar a diretora Lynne Ramsey, com quem trabalhou em Precisamos Falar Sobre o Kevin (2011). “Se você esteve na selva por três anos, eu não recomendo ir diretamente a Cannes”, aconselhou Miller, marcando o tom de sua “reentrada complicada” no circuito cinematográfico. Este evento na Itália representa um passo calculado em sua tentativa de reabilitação, após uma série de escândalos que quase encerraram sua carreira às vésperas do lançamento de The Flash (2023).

Reflexões, arrependimentos e um novo projeto

Durante a conversa, Ezra Miller admitiu que sua relação com o cinema hoje “não está definida”. O ator refletiu sobre o período de crise, afirmando ser grato “pelas lições que vieram com aquele abismo” e por ter descoberto quem realmente se importava com seu bem-estar. “Quando você trabalha nessa indústria, você se vê em relações profundas com muitas pessoas que nem se importam com você”, desabafou, reconhecendo os próprios erros. “Não é como se eu não guardasse remorso e lamentasse por muitas coisas que eu fiz e que aconteceram”.

Como um vislumbre de seu futuro profissional, Miller revelou que está escrevendo um roteiro em parceria com Lynne Ramsey, e que este “provavelmente será a primeira coisa” que fará em seu retorno. “Tenho escrito bastante porque isso é algo que dá pra fazer com a solidão, que tem sido boa para mim”, completou, indicando um período de reclusão produtiva.

Uma trilha de controvérsias

O retorno gradual de Miller acontece após um 2022 devastador para sua imagem pública. Naquele ano, o astro foi preso duas vezes no Havaí, primeiro por assédio e desordem em um bar, e depois por agredir uma mulher ao arremessar uma cadeira contra ela. As polêmicas se agravaram com acusações de comportamento inapropriado com menores de idade e de abrigar uma mãe e seus três filhos em uma fazenda com condições inadequadas em Vermont. O ponto final de sua onda de crimes foi um roubo a uma residência no mesmo estado.

Após o último incidente, Miller divulgou um comunicado oficial pedindo desculpas e afirmando que buscaria ajuda. “Após passar por um período de intensa crise, agora eu entendo que estou sofrendo de uma questão de saúde mental complexa e comecei um tratamento”, declarou à revista Variety na época. Comprometendo-se a fazer o “trabalho necessário para voltar a um estado saudável, seguro e produtivo”, o ator deu início a um longo processo de recuperação. Se a indústria do entretenimento oferecerá uma segunda chance real, ainda é uma incógnita, mas os primeiros passos, ainda que controversos, estão sendo dados.

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