No auge de sua carreira, Danny Boyle conquistou o Oscar de Melhor Filme e Melhor Diretor por Quem Quer Ser um Milionário? (2008), mas, em uma reflexão contundente, o cineasta britânico agora acredita que sua obra mais celebrada seria impossível de ser realizada nos dias de hoje. Em uma nova entrevista, Boyle afirmou que as sensibilidades culturais atuais e o debate sobre representatividade impediriam que um diretor ocidental contasse aquela história.

A declaração foi dada ao jornal The Guardian em uma matéria publicada nesta sexta-feira (20), mesma data em que seu novo filme, 28 Anos Depois, chega aos cinemas. “Sim, não seríamos capazes de fazer isso agora. E é assim que deveria ser”, declarou Boyle sobre o longa estrelado por Dev Patel. “É hora de refletir sobre tudo isso. Temos que olhar para a bagagem cultural que carregamos e a marca que deixamos no mundo.”

Um “método falho” e a autocrítica

Questionado se considerava a produção uma forma de colonialismo, Boyle negou, mas admitiu as complexidades. “Na época, parecia radical. Tomamos a decisão de que apenas alguns de nós iríamos para Mumbai. Trabalharíamos com uma grande equipe indiana e tentaríamos fazer um filme dentro da cultura”, explicou. No entanto, ele reconhece os limites dessa abordagem. “Mas você ainda é um estranho. Ainda é um método falho. Esse tipo de apropriação cultural pode ser sancionada em certos momentos. Mas em outros, não pode ser.”

O diretor, que se diz orgulhoso do filme, foi enfático ao afirmar que a indústria mudou. “Você nem pensaria em fazer algo assim hoje em dia. Nem mesmo conseguiria financiamento”, ponderou. “Mesmo se eu estivesse envolvido, estaria procurando um jovem cineasta indiano para filmá-lo.” A fala de Boyle é especialmente poderosa vindo do diretor de um filme que foi um fenômeno global, arrecadando oito estatuetas do Oscar em 2009.

Do Oscar ao retorno de um clássico de terror

A reflexão de Danny Boyle sobre seu passado acontece em um momento de grande expectativa para seu futuro. Nesta sexta-feira, ele retorna às telonas com 28 Anos Depois, uma aguardada sequência de seu clássico de terror 28 Dias Depois (2002). O novo projeto, orçado em US$ 60 milhões, reúne o diretor com o roteirista Alex Garland e o executivo da Sony, Tom Rothman, o mesmo que apoiou Quem Quer Ser um Milionário? na época.

O estúdio já se comprometeu a produzir uma trilogia, com o próximo filme intitulado 28 Anos Depois: O Templo dos Ossos. O retorno de Boyle a uma de suas franquias mais icônicas, ao mesmo tempo em que reavalia seu maior sucesso, ilustra o profundo processo de mudança e autoconsciência que atravessa Hollywood. Suas palavras indicam um novo paradigma na indústria, onde a autenticidade e a origem de quem conta a história se tornaram tão importantes quanto a história em si.

Mostrar menosContinuar lendo