Uma nova e sombria camada foi adicionada à recente onda de demissões na indústria de games. Ex-funcionários da King, o estúdio de propriedade da Microsoft famoso por criar o fenômeno Candy Crush, estão alegando que foram demitidos para serem substituídos pelas mesmas ferramentas de inteligência artificial (IA) que eles passaram os últimos anos desenvolvendo e treinando. A denúncia, que parece saída de um roteiro de ficção científica distópica, foi feita em uma nova reportagem do site MobileGamer.biz.
No início de julho, a King demitiu cerca de 200 funcionários como parte dos cortes em massa promovidos pela Microsoft em sua divisão de jogos. Inicialmente, a empresa afirmou que os cortes afetaram principalmente cargos de gerência e de roteiro. No entanto, a nova reportagem aponta que designers de níveis e de experiência do usuário (UX) também foram amplamente impactados.
“Absolutamente repugnante”: a denúncia dos ex-funcionários
O que torna a situação na King particularmente revoltante, segundo as fontes anônimas da reportagem, é a ironia cruel por trás das demissões. “A maior parte do design de níveis foi eliminada, o que é uma loucura, já que eles passaram meses desenvolvendo ferramentas para criar níveis mais rapidamente”, disse um ex-funcionário ao Mobile Gamer. “Agora, essas ferramentas de IA estão basicamente substituindo as equipes. Da mesma forma, a equipe de redação está sendo removida, já que agora temos ferramentas de IA que essas pessoas criaram”, completou.
“O fato de as ferramentas de IA estarem substituindo pessoas é absolutamente repugnante, mas tudo se resume à eficiência e aos lucros, embora a empresa esteja indo muito bem no geral”, lamentou a mesma fonte.
A ambição de se tornar uma “empresa com foco em IA”
A denúncia dos ex-funcionários, embora chocante, está alinhada com a estratégia publicamente declarada pela King. Em 2023, durante a Game Developer Conference (GDC), o diretor de tecnologia do estúdio, Steve Collins, já havia afirmado que a ambição da empresa era se transformar em uma “empresa com foco em IA”, especialmente após a aquisição da empresa sueca de IA, a Peltarion.
O paradoxo é que o alto custo dos investimentos da Microsoft em inteligência artificial tem sido apontado por analistas como um dos fatores que motivaram a necessidade de cortes de custos em outras áreas, incluindo as demissões em massa que agora afetam a própria King.
Mais uma vítima da reestruturação da Microsoft
As demissões na King fazem parte de uma reestruturação drástica e dolorosa na divisão de games da Microsoft, que pode resultar na perda de mais de 9.000 empregos. Nas últimas semanas, a empresa já havia anunciado o cancelamento dos aguardados jogos Perfect Dark e Everwild, além do fechamento completo do estúdio The Initiative e da saída de desenvolvedores veteranos da lendária Rare.
A história dos funcionários da King, que teriam treinado seus próprios substitutos robóticos, adiciona um elemento perturbador a essa crise, servindo como um conto de advertência sobre o custo humano da corrida pela automação e pela eficiência na indústria de tecnologia.