O cinema brasileiro perdeu uma de suas mais importantes e incansáveis defensoras. Morreu, aos 65 anos, a produtora e agitadora cultural Zita Carvalhosa. A informação foi confirmada nesta terça-feira (22) pelo cineasta Francisco Cesar Filho, seu amigo e parceiro de trabalho. Zita, que tratava um câncer, estava internada no Hospital Samaritano, em São Paulo, e teria sofrido um AVC.
O velório será realizado nesta quarta-feira (23), das 10h às 16h, em um local simbólico para sua trajetória: a Cinemateca Brasileira. Sua partida deixa um legado imenso, especialmente na valorização e difusão do curta-metragem no Brasil, formato ao qual dedicou grande parte de sua vida.
A “Dama do Curta-Metragem”
A contribuição mais emblemática de Zita Carvalhosa para a cultura nacional foi a criação, em 1990, do Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo, o Curta Kinoforum. O evento se tornou a principal janela de exibição para o formato no país e um dos mais respeitados do mundo, revelando inúmeros novos talentos ao longo de suas mais de três décadas de existência.
Sua paixão pelo curta-metragem já vinha de antes. Como curadora do Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS-SP), entre 1988 e 1995, ela desenvolveu uma política de difusão para o formato, aproveitando a chamada “Lei do Curta”, que obrigava os cinemas a exibirem produções nacionais curtas antes dos longas estrangeiros. Para Zita, o curta era o espaço ideal para a experimentação e a liberdade criativa no cinema. Em 1995, ela fundou a Associação Cultural Kinoforum, que organiza o festival e realiza oficinas de audiovisual para comunidades.
A produtora por trás de grandes filmes
Além de seu trabalho como curadora e diretora de festival, Zita Carvalhosa era uma produtora de destaque. À frente da Superfilmes, empresa que dirigia desde 1983, ela foi responsável por longas-metragens importantes, como o recente “Carvão” (2022), de Carolina Markowicz, e o clássico dos anos 80, “Anjos da Noite”, de Wilson Barros.
Ela também produziu curtas premiados de cineastas que mais tarde se tornariam grandes nomes, como Cao Hamburger, José Roberto Torero e Eliane Caffé. Na televisão, produziu a premiada série documental “O Povo Brasileiro”, de Isa Ferraz.
Nascida em 1960 e formada em cinema na França, Zita era irmã do artista plástico Carlito Carvalhosa, falecido em 2021. Sua partida deixa um vazio imensurável no cinema brasileiro, que perde não apenas uma grande produtora, mas sua principal guardiã da arte do curta-metragem.