O polêmico anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre os riscos do uso de Tylenol na gravidez, foi baseado em um novo e robusto estudo científico. A pesquisa, uma análise abrangente de 46 estudos anteriores liderada por pesquisadores da Faculdade de Medicina Icahn do Monte Sinai e da Universidade de Harvard, encontrou “evidências de uma associação” entre a exposição ao paracetamol durante a gestação e um risco aumentado de a criança desenvolver transtornos do neurodesenvolvimento, como autismo e TDAH.
Publicado no periódico BMC Environmental Health, o estudo foi o pilar científico que levou a FDA (agência reguladora dos EUA) a decidir pela nova orientação a gestantes, gerando um intenso debate sobre a segurança do analgésico mais usado no mundo.
O que diz o estudo?
Os pesquisadores utilizaram uma metodologia considerada “padrão-ouro” para analisar os dados de 46 estudos realizados em todo o mundo. A conclusão foi de que existe uma associação consistente entre o uso do medicamento na gravidez e o posterior diagnóstico de transtornos do neurodesenvolvimento.
O autor sênior do estudo, Andrea Baccarelli, reitor da Faculdade de Saúde Pública de Harvard, confirmou que a associação é “mais forte quando o paracetamol é tomado por quatro semanas ou mais”, indicando que o uso prolongado e intenso representa um risco maior.
‘Uso criterioso’, recomendam os próprios pesquisadores
Apesar da associação encontrada, os próprios autores do estudo não recomendam a proibição do medicamento, mas sim o “uso criterioso”. Eles ressaltam que a febre alta e a dor durante a gravidez também podem prejudicar o desenvolvimento do feto, e o paracetamol ainda é considerado a opção mais segura em comparação com outros analgésicos, como o ibuprofeno.
“Recomendamos o uso criterioso de paracetamol — a menor dose eficaz, a menor duração — sob orientação médica, adaptada às avaliações individuais de risco-benefício, em vez de uma limitação ampla”, escreveram os pesquisadores.
A ponte entre a ciência e a Casa Branca
A pesquisa teve um impacto direto e rápido nas políticas de saúde do governo americano. O Dr. Baccarelli confirmou que discutiu suas descobertas com o Secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., nas semanas que antecederam o anúncio de Trump.
Ele forneceu à Casa Branca uma declaração afirmando que, “com base nas evidências existentes, acredito que é necessário cautela quanto ao uso de paracetamol durante a gravidez — especialmente o uso intenso ou prolongado”. É importante notar que, no estudo, Baccarelli declarou ter um conflito de interesses, por já ter atuado como testemunha especialista em um caso judicial sobre o tema. A Kenvue, fabricante do Tylenol, contesta as conclusões, afirmando que décadas de pesquisa não mostram “evidências confiáveis” que vinculem o paracetamol ao autismo.