Apesar dos orçamentos bilionários e do impacto cultural massivo, a indústria de videogames ainda está engatinhando em termos de potencial artístico e ainda não produziu sua obra-prima definitiva, seu “Cidadão Kane”. A opinião forte e um tanto polêmica vem de uma figura de peso: Randy Pitchford, o chefe da Gearbox Software, estúdio responsável pela aclamada franquia Borderlands.

Em uma nova declaração, Pitchford argumentou que, mesmo com toda a complexidade e os recursos investidos em jogos como o recente Borderlands 4, a indústria como um todo ainda está “apenas começando” e “descobrindo as coisas”.

‘Ainda estamos descobrindo essa m****’

A reflexão de Pitchford foi feita durante o documentário “24 ‘Til Launch: The Making of Borderlands 4”, do site Shacknews. Ao comentar sobre os riscos e os enormes orçamentos envolvidos na criação de grandes jogos hoje – comparáveis aos de blockbusters de cinema – ele expressou um sentimento surpreendente sobre o estado da arte.

“Adoro que estejamos apenas começando”, disse ele, referindo-se a toda a indústria de games. “Nós nem tivemos nosso Cidadão Kane ainda, muito menos Jurassic Park ou Star Wars. Ainda estamos descobrindo essa m****”, afirmou, usando o clássico de Orson Welles como um marco de maturidade artística que os games ainda não teriam alcançado.

Orçamentos de cinema, mas arte em evolução?

Pitchford destacou a complexidade e o risco financeiro da produção de jogos AAA atualmente. “Os orçamentos dos nossos grandes videogames agora são maiores que os de filmes blockbuster. Você não pode tomar facilmente a decisão de comprometer esses tipos de recursos”, explicou, ressaltando a necessidade de uma crença total no valor do projeto por parte de toda a equipe.

Apesar dessa magnitude, sua visão é de que a linguagem e o potencial criativo dos videogames ainda estão longe de serem totalmente explorados, mesmo após décadas de evolução.

Mas e ‘Daytona USA’?

A comparação com Cidadão Kane (1941) como o marco zero da maturidade cinematográfica levou a uma divertida reflexão no texto original da Shacknews. O primeiro filme reconhecido é de 1906, e Cidadão Kane veio 35 anos depois. O primeiro videogame reconhecido é Tennis for Two (1958). Seguindo a mesma lógica, 35 anos depois seria 1993, ano em que Daytona USA chegou aos arcades japoneses. A conclusão bem-humorada? Talvez o Cidadão Kane dos games já exista, e seja um jogo de corrida sobre carros azuis. Brincadeiras à parte, a declaração de Pitchford certamente adiciona lenha à fogueira no debate sobre a evolução artística dos videogames.

Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

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