Estrelar um dos jogos mais bem-sucedidos e aclamados da década não é garantia de uma agenda lotada de novos trabalhos. Essa foi a surpreendente revelação feita por três dos principais membros do elenco de Baldur’s Gate 3, que abriram o jogo sobre a realidade da vida de ator de videogame. Em uma entrevista durante a Heroes Dutch Comic Con, na Holanda, os intérpretes de Karlach, Wyll e Halsin explicaram como o sucesso estrondoso do RPG não se traduziu, necessariamente, em mais oportunidades de emprego.

A conversa, conduzida pelo site All in the Game, abordou como a fama do jogo mudou suas vidas. Embora sejam imensamente gratos pelo carinho dos fãs, eles desmistificaram a ideia de que o sucesso no game automaticamente abre todas as portas. “Acho que existe uma suposição de que somos todos superocupados, organizados e ricos, e nada disso é verdade”, declarou de forma direta a atriz Samantha Béart, a voz e performance por trás da amada personagem Karlach.

A “desconexão” entre a indústria de games e a de elenco

Béart ofereceu uma teoria para explicar esse paradoxo. Segundo ela, há uma “desconexão” entre os desenvolvedores de jogos e as empresas de elenco e gravação, que muitas vezes são terceirizadas e não estão imersas na cultura gamer. “Muitas vezes, eles dizem: ‘Claro, você é um figurão, claro que é’, e você tem que apresentar as indicações aos prêmios para eles dizerem: ‘Ah, eu sei o que é ISSO, então vou te dar uma chance'”, explicou, indicando que o reconhecimento de um prêmio como o BAFTA ou o The Game Awards tem mais peso para essas empresas do que o sucesso do jogo em si.

Ela também apontou outro fator: a falta de reconhecimento facial. “E você não vê nossos rostos na maior parte do tempo”, lembrou, um desafio comum para atores de voz e captura de movimentos.

A realidade da “vida de ator”

Theo Solomon, que interpreta o bruxo Wyll, reforçou a fala da colega. “Você faz um jogo tão grande quanto este e todo mundo fica tipo ‘ah, você conseguiu, cara, você deve estar conseguindo todos os trabalhos enormes’, mas não, ainda é a vida de um ator”, disse. “Você continua concorrendo a empregos, continua fazendo trabalhos aqui e ali, continua crescendo. […] Estamos entrando e saindo de trabalho constantemente, esse é o tipo de carreira que é.”

Dave Jones, o Halsin, acrescentou que, no mundo dos games, o sucesso passado tem menos influência do que se imagina, já que a maioria das audições é “cega”, baseada apenas na performance do momento. “O que é como deveria ser”, ponderou. Ele ainda lembrou que a realidade pode ser dura até para os mais premiados. “Eu sei que houve muitos vencedores de prêmios de performance cujos telefones simplesmente não tocaram por meses. […] Nós, atores, estamos acostumados à rejeição.”

O carinho “maravilhoso e assustador” dos fãs

Apesar dos desafios profissionais, o trio é unânime em celebrar o amor que recebem da comunidade de jogadores. “Viajar e participar dessas convenções é incrível. Pessoas voando pelo mundo para nos encontrar, é incrível”, disse Solomon. Samantha Béart brincou com a popularidade que não diminui: “Já faz dois anos, e as filas não estão diminuindo, o que me apavora. […] Mas não desapareceu, é maravilhoso e assustador. Não estaríamos aqui sem essa demonstração de carinho”, concluiu.

Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

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