Casas vazias no Japão: o fenômeno das akiyas e os desafios para estrangeiros
No Japão, um fenômeno peculiar vem chamando a atenção: as akiyas, casas abandonadas, se acumulam em um ritmo alarmante. Segundo estimativas recentes, o país conta com cerca de nove milhões dessas propriedades, e o número pode chegar a 11 milhões na próxima década. Isso representa 13,8% do total de habitações no Japão, cenário que reflete uma complexa combinação de fatores demográficos, culturais e econômicos.
O que explica o aumento de akiyas?
A principal razão para o aumento das akiyas é a crise demográfica. Com uma população que encolhe e envelhece rapidamente, muitas casas ficam desocupadas após a morte de seus proprietários ou quando idosos se mudam para asilos. A falta de herdeiros ou o desinteresse dos mesmos em assumir propriedades rurais agravam o problema.
Além disso, o êxodo de jovens em direção às cidades em busca de trabalho contribui para a desertificação das áreas rurais. O resultado? Pequenas comunidades que antes prosperavam agora enfrentam o abandono.
Culturalmente, casas com mais de 30 anos são vistas como obsoletas, e muitos japoneses preferem construir novas residências a reformar imóveis antigos. Superstições locais, como o receio de casas “amaldiçoadas”, também dificultam a venda desses imóveis.
Oportunidades e desafios para estrangeiros
O mercado de akiyas tem atraído estrangeiros interessados em propriedades acessíveis. Com preços que podem começar em 500 mil ienes (aproximadamente R$ 18 mil), essas casas são vistas como uma alternativa econômica para aqueles que buscam um refúgio ou investimento.
Um exemplo de sucesso é o sueco Anton Wormann, que comprou sete akiyas e as reformou para aluguéis de curto prazo. Após investir cerca de R$ 600 mil, ele alcançou rendimentos mensais de até R$ 62 mil. Wormann, no entanto, alerta sobre os desafios: “É crucial compreender a cultura e estabelecer uma rede local.”
Riscos e complexidades
Investir em akiyas, porém, não é tarefa simples. Além dos elevados custos de reforma, muitas dessas casas apresentam riscos estruturais, especialmente em regiões suscetíveis a terremotos e deslizamentos. A barreira linguística e a complexidade do sistema jurídico japonês são outros obstáculos significativos.
Além disso, encontrar os proprietários ou herdeiros das akiyas pode ser uma tarefa complicada, dificultando negociações e transferências de propriedade.
Embora as akiyas representem uma oportunidade única para estrangeiros, é fundamental que os interessados estejam cientes dos custos e desafios envolvidos. Para quem busca um projeto de longo prazo e está disposto a se integrar à cultura japonesa, essas casas podem ser um investimento gratificante. No entanto, o cenário demográfico e as particularidades do mercado japonês exigem cautela e planejamento.