O samba brasileiro está de luto. Morreu, nesta sexta-feira (8), o cantor, compositor e instrumentista Arlindo Cruz, aos 66 anos, no Rio de Janeiro. A informação foi confirmada pela equipe do artista ao UOL. Um dos nomes mais importantes e influentes do gênero nas últimas décadas, Arlindo lutava há oito anos contra as graves sequelas de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) sofrido em 2017.

Poeta do cotidiano, Arlindo Cruz deixa um legado de hinos que embalaram gerações e se tornaram crônicas da vida nos subúrbios cariocas. Ele deixa a companheira, Babi Cruz, e os filhos, Arlindinho e Flora Cruz.

O mestre do Cacique de Ramos e do Fundo de Quintal

Nascido em Madureira, berço do samba, Arlindo Domingos da Cruz Filho teve a música em sua vida desde os sete anos, quando ganhou do pai seu primeiro cavaquinho. Sua carreira profissional floresceu no lugar mais sagrado do samba nos anos 70 e 80: a roda de samba do bloco Cacique de Ramos. Lá, ele tocou e aprendeu ao lado de lendas como Beth Carvalho e Jorge Aragão.

Seu talento o levou a um dos postos mais cobiçados do samba: em 1980, ele entrou para o lendário grupo Fundo de Quintal, onde permaneceu por 12 anos e ajudou a consolidar a sonoridade que revolucionou o gênero. Em 1993, partiu para uma bem-sucedida carreira solo, muitas vezes em parceria com o amigo e também compositor Sombrinha.

A caneta de ouro do samba

Além de intérprete, Arlindo Cruz foi, acima de tudo, um dos maiores compositores de sua geração. Ele é o autor de hinos que se tornaram clássicos em sua própria voz, como “Meu Lugar”, “O Bem” e “O Show Tem Que Continuar”.

Sua “caneta de ouro” também enriqueceu o repertório de outros gigantes da música brasileira. Ele compôs sucessos para artistas como Zeca Pagodinho (“Bagaço da Laranja”), Beth Carvalho (“Grande Erro”), Alcione (“Novo Amor”) e Maria Rita (“Tá Perdoado”). Sua paixão pelo Carnaval também o tornou um vitorioso compositor de sambas-enredo, especialmente para sua escola de coração, o Império Serrano, conquistando três Estandartes de Ouro.

A luta pela vida e as batalhas pessoais

A vida de Arlindo foi interrompida de forma drástica em março de 2017, quando sofreu um AVC grave que o deixou com sequelas severas, como a perda da fala e dos movimentos. Desde então, ele viveu sob os cuidados intensivos da família, que sempre compartilhou sua jornada de recuperação com os fãs.

Em entrevistas, a família também já havia falado abertamente sobre a luta do sambista contra o vício em drogas no passado, uma batalha que ele venceu. Mesmo com a saúde debilitada, Arlindo fez uma de suas últimas e mais emocionantes aparições públicas no Carnaval de 2023, quando foi o grande homenageado no desfile do Império Serrano, cruzando a Marquês de Sapucaí em uma cadeira de rodas, em um momento de grande comoção.

A partida de Arlindo Cruz deixa um vazio imenso, mas sua obra, rica e atemporal, garante que, para ele, o show realmente continue para sempre.

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Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

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