BGS 2024 - Poucas novidades refletem um evento enfraquecido
Teve fim neste último domingo, 13/10, a Brasil Game Show, o maior evento de games da América Latina. Desde seu surgimento, em 2010, suas edições sempre tiveram como principais atrativos lançamentos de jogos que atraíam multidões e, com o tempo, se tornaram clássicos, como The Witcher 3: Wild Hunt e Horizon Zero Dawn.
A edição deste ano mostrou uma tendência que já vinha se manifestando em edições anteriores, mas em menor proporção: o avanço de marcas não relacionadas diretamente aos games.
Observando os estandes presentes, ficou claro que, com o passar dos anos, o evento tem focado menos em jogos e mais em tecnologias para games, como o lançamento de simuladores virtuais, acessórios de última geração para PCs e computadores temáticos, como os casemods de The Last of Us, que estavam em exposição no evento e um temático do Milan, que pode ser visto no estande Ronaldo TV.
Outra tendência — se é que podemos chamar assim — foi o aumento expressivo de estandes de marcas do setor alimentício. Em 2023, a Fanta esteve presente na BGS para fortalecer sua marca entre o público jovem, mas desta vez muitas outras marcas de alimentos marcaram presença.
Empresas como Takis, Crokitos e Arcor foram algumas das que distribuíram brindes, formando grandes filas de pessoas dispostas a gastar boa parte do tempo para garantir esses itens. É provável que, no próximo ano, esse avanço continue, possivelmente ocupando mais espaço, o que pode fazer com que estandes relevantes de tecnologia e de jogos percam visibilidade.
Games que se Destacaram
Apesar do avanço de marcas não relacionadas aos games, grandes empresas do setor ainda marcaram presença. A SEGA e a Nintendo estavam no evento para mostrar suas novidades e fizeram a alegria do público.
Entre os destaques da SEGA, os participantes puderam jogar Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii, que havia sido anunciado anteriormente na Tokyo Game Show, e Sonic x Shadow Generations, um jogo que lembra bastante Sonic Generations e foi bastante popular no estande da empresa. No estande da Nintendo, um dos maiores sucessos foi Super Mario Party Jamboree, que atraiu grandes filas de jogadores ansiosos para experimentá-lo.
Outros jogos que também puderam ser experimentados e receberam uma recepção positiva dos fãs foram Fatal Fury: City of the Wolves, da SNK, e Dune: Awakening, da Funcom, que ainda está em desenvolvimento e surpreendeu o público ao apresentar sua gameplay.
Na realidade, a BGS 2024 contou com pouquíssimas novidades, e a maioria dos estandes oferecia para experimentação jogos que já estão disponíveis há algum tempo no mercado.
O futuro da BGS é incerto, mas o afastamento gradual do público gamer é evidente. A chave para reconquistar esse público não está nos brindes, e sim em trazer o que realmente importa aos fãs, que são mais lançamentos de games.
Bienal do Livro 2024 - Recorde de vendas e superlotação marcam a edição
No último dia 15/09, encerrou-se a 27ª Bienal do Livro de São Paulo, que registrou o maior número de visitantes dos últimos 10 anos, com 722 mil pessoas. As editoras relataram um aumento nas vendas de livros de diversas categorias, sendo Como Enfrentar o Ódio, de Felipe Neto, e Uma Família Feliz, de Raphael Montes, algumas das obras mais procuradas.
O evento, realizado no Distrito Anhembi, contou com um espaço 15% maior que o da edição anterior, que ocorreu no Expo Center Norte. No entanto, isso não foi suficiente para evitar as filas imensas nos estandes, encontrar espaço nos corredores lotados e ter que disputar mesas na praça de alimentação.
Eventos lotados são normais, especialmente em uma cidade como São Paulo, reconhecida como um polo cultural e com um público ávido por novidades e itens de coleção. A superlotação na Bienal do Livro é recorrente, e os organizadores parecem não conseguir – ou não querer – contornar esse problema.
O problema do evento não se limita às filas quilométricas para comprar livros, mas também à desorganização dos estandes, que priorizaram acomodar o maior número possível de pessoas em seus espaços. Isso tornava impossível a tarefa de encontrar novidades em meio a tantos livros.
As obras mais procuradas da Bienal
Perambulando pelo evento, foi possível constatar que o esoterismo e o misticismo ganharam força, com as editoras Ardane e Pensamento vendendo obras sobre tarô, numerologia, cabala e Wicca. Um destaque encontrado foi o livro Tarô Mágico dos Gatos, um dos mais vendidos pela Ardane no evento.
Como sempre faço nos eventos, passei pelos estandes para conhecer os lançamentos e dar uma olhada nos preços dos livros. Na Panini, as filas davam voltas, especialmente no sábado e domingo, desanimando qualquer um que procurava uma oportunidade de encontrar uma HQ ou mangá. Uma alternativa à Panini, pelo menos em relação aos mangás, era a JBC, que, apesar de ter um espaço acanhado, estava muito bem organizada. Um dos seus destaques da JBC foi o volume único de Your Name.
Surpreendente foi ver como as filas da Editora Galera, embora extremamente longas, andavam rapidamente. Isso fez com que o local ficasse tão lotado que era quase impossível chegar perto de algum livro ou até mesmo circular por ali. A Editora Galera pública as obras de Colleen Hoover, autora focada na categoria Young Adult e conhecida pelos livros É Assim que Acaba, Verity e Todas as Suas (Im)Perfeições.
Assim como a Galera, outras duas editoras se destacaram como as mais requisitadas na Bienal: a Rocco, que trouxe uma vasta variedade de obras do universo de Harry Potter, mas surpreendentemente não teve no topo da lista dos mais vendidos nenhum título relacionado a Anne Rice ou J. K. Rowling, tendo Powerless, de Lauren Roberts, ocupando esse lugar.
O mesmo ocorreu com a HarperCollins, que levou diversos livros de J. R. R. Tolkien e C. S. Lewis, como O Senhor dos Anéis e as edições de capa dura de As Crônicas de Nárnia. No entanto, assim como na Rocco, o topo da lista de mais vendidos da HarperCollins não foi dominado por Tolkien ou Lewis, mas por Paola Aleksandra, com seu livro Amor às Causas Perdidas sendo o mais vendido pela editora na Bienal.
A grande questão sobre a Bienal do Livro de São Paulo é o que as editoras precisam fazer para converter o enorme público presente no evento em compradores frequentes de livros, sejam edições físicas ou digitais. Percebe-se que o preço das obras não é uma barreira para a compra, e que o problema está, de fato, relacionado à ida desses leitores às livrarias.
Não existe uma fórmula exata, mas há um caminho a ser explorado, que não envolve o lançamento em massa de obras de influenciadores, como ocorreu na última Bienal, em 2022. O mercado editorial ainda respira, e que venham novas edições da Bienal, melhores e mais organizadas do que esta.
Crítica | Transformers: O Início Indica o caminho que a franquia deve seguir
Em 2023, Transformers: O Despertar das Feras foi lançado, trazendo um novo fôlego para uma franquia que vinha enfrentando dificuldades nas bilheterias. Desta vez, algo diferente aconteceu com Transformers: O Início (Josh Cooley), uma animação de ótima qualidade visual que surpreende não apenas pelo nível de detalhes, mas também pelas intensas cenas de ação e pela abordagem mais violenta em relação aos filmes anteriores.
Transformers One (nome original) não é a primeira incursão da franquia com longas animados. No distante ano de 1986, Transformers: O Filme já havia deixado sua marca, embora tenha frustrado muitos fãs com sua história. Diferente da produção de 1986, o novo Transformers não se preocupa em reverenciar o passado, o que certamente irá agradar aos fãs.
Nesta nova versão, fica claro, já pelo próprio título, que se trata de uma história de origem, explorando como começou o conflito entre os Autobots e os Decepticons, um embate que tem sido retratado em diversas produções audiovisuais ao longo dos anos desde que a linha de brinquedos passou a ser vendida.
Nem todas as histórias de origem são bem-sucedidas nos cinemas, como demonstrado pelos fracassos de bilheteria de Furiosa (2024) e o fraco Han Solo: Uma História Star Wars (2018). Entretanto, há bons exemplos, como a excelente animação As Tartarugas Ninja: Caos Mutante (2023), que possivelmente serviu de inspiração para Josh Cooley criar o longa animado de origem dos Transformers relevante e de alta qualidade.
Sendo um prólogo, a animação não se concentra na já conhecida rivalidade entre Optimus Prime e Megatron. Em vez disso, o filme explora as origens desse conflito, mostrando que, antes de se tornarem inimigos, ambos eram amigos e conhecidos por outros nomes: Orion Pax e D-16.
Além dos dois personagens principais, somam-se ao elenco Elita-1 (Scarlett Johansson), B-127 (Keegan-Michael Key) e aquele que, no futuro, se tornará o mundialmente conhecido Bumblebee, mas que aqui é chamado de Badassatron. Com o fantástico roteiro de Eric Pearson, Andrew Barrer e Gabriel Ferrari, a trama combina um tom dramático com um leve humor, trazendo uma história de ação focada em dois dos personagens mais icônicos da cultura pop atual.
O ponto alto da narrativa, sem dúvida, é a ação, muito bem elaborada e cuidadosamente pensada, junto à qualidade da animação, que lembra bastante o estilo 3D. E ao falar da qualidade do longa, não me refero apenas aos gráficos, mas também ao design dos Transformers e ao cenário como um todo. Quem é fã de animação precisa conferir Transformers One, até porque a produção entrega tudo que o público espera encontrar em um filme do gênero.
Se a Pixar é mundialmente reconhecida por seus belíssimos projetos gráficos de animação, era de se esperar que, por ser uma obra da franquia Transformers, o filme focasse apenas em lutas intensas, com uma trama superficial. Entretanto, o resultado visto é o oposto: uma história com diálogos inteligentes e um roteiro que sabe trabalhar de forma envolvente a dinâmica de amor e ódio entre os protagonistas. Sem dúvida, um dos grandes filmes do ano.
Transformers: O Início (Transformers One, EUA – 2024)
Direção: Josh Cooley
Roteiro: Andrew Barrer, Gabriel Ferrari
Elenco: Chris Hemsworth, Brian Tyree Henry, Scarlett Johansson, Keegan-Michael Key, Jon Hamm, Laurence Fishburne, Stee Buscemi, Vanessa Liguori
Gênero: Animação, Ação
Duração: 104 min.
Crítica | Hellboy e o Homem Torto - Um filme esquecível e entediante
Mike Mignola é o criador das histórias em quadrinhos e do personagem Hellboy, que foi adaptado para o cinema em duas ocasiões por Guillermo del Toro nos anos 2000. Entretanto, o herói endemoniado não recebeu novas oportunidades até 2019, quando uma nova versão dirigida por Neil Marshall foi lançada, mas que se mostrou uma bela perda de tempo.
Essas obras têm algo em comum: todas contaram com a produção de Mignola. O mesmo ocorre com uma quarta tentativa de transformar o personagem em um produto cultural rentável e popular no audiovisual, algo que não vem ocorrendo nos últimos anos. Hellboy e o Homem Torto consegue ser pior do que a versão de 2019 em todos os quesitos: roteiro, direção, fotografia e personagens ruins.
Não há uma justificativa plausível para que tenham sido produzidos dois filmes do Hellboy em um período tão curto, especialmente considerando que o longa de 2019 foi um fiasco de enormes proporções. Também não se entende por que essas produções — no caso a dirigida por Neil Marshall e a versão de Brian Taylor — são tão ruins, já que o personagem possui um simbolismo e uma boa história a ser adaptada.
No entanto, parece que os roteiristas e diretores não souberam aproveitar esses aspectos, como a atmosfera sombria, que inicialmente até funciona, e os seres míticos, que são prontamente abandonados, como a aranha gigante que aparece ainda no primeiro ato. Além disso, as várias ameaças sobrenaturais têm um aspecto tão ridículo e são tão caricatas que parecem ter saído de um filme de terrir (terror cômico).
Não que uma história protagonizada por Hellboy não deva ter humor; pelo contrário, o alívio cômico é essencial e bem-vindo. Entretanto, ao optar por contar uma história com elementos de terror no estilo trash, a obra comete um grande erro. A produção, aparentemente, foi desenvolvida para se tornar um sucesso cult através do boca a boca, mas, ao exagerar no trash, perde sua própria identidade. Em vez de equilibrar o humor com o horror sombrio que o personagem pede, o longa se afoga em uma trama confusa e sem vigor, deixando de conceber uma narrativa de excelência.
Se a ideia era fazer um filme cult trash de qualidade, o diretor Brian Taylor, junto com os roteiristas Christopher Golden, Mike Mignola e o próprio Taylor, fizeram um péssimo trabalho. A trama é confusa, com a narrativa, desde o primeiro minuto, se desenvolvendo em meio à ação e apresentando personagens de forma tão caótica que se torna difícil se conectar com eles ou com os eventos da história.
O próprio clímax, que poderia ter sido a salvação do longa, acaba sendo um grande desperdício, caindo em clichês típicos de histórias do gênero e não explorando as nuances essenciais de uma boa trama de terror, como a construção da tensão, o medo do desconhecido e a atmosfera horripilante.
Hellboy e o Homem Torto é tão esquecível que é difícil entender por que alguém investiu tempo e dinheiro para produzi-lo. Os fãs da Besta do Apocalipse (apelido do personagem nas HQs) devem ficar chateados ao ver dois longas ruins do meio demônio e meio humano em um período tão curto de tempo.
É triste que um personagem tão interessante esteja caminhando para o limbo ou deixando no imaginário do público, que não o conhece, a impressão de que não vale a pena ler suas obras. Pelo contrário, Hellboy tem muita qualidade, só precisa ser melhor adaptado para as telonas — e que Mike Mignola deixe imediatamente a produção dos futuros filmes.
Hellboy e o Homem Torto (Hellboy: The Crooked Man, EUA – 2024)
Direção: Brian Taylor
Roteiro: Christopher Golden, Mike Mignola, Brian Taylor, baseado no personagem criado por Mike Mignola
Elenco: Jack Kesy, Jefferson White, Joseph Marcell, Leah McNamara, Adeline Rudolph, Martin Bassindale
Gênero: Drama
Duração: 99 min.
Crítica | Batman: Cruzado Encapuzado: 1ª Temporada - Traz bons momentos do homem-morcego em trama repetitiva
Não é nenhuma surpresa que Batman seja um ícone da cultura pop, com inúmeras adaptações em filmes, séries, games, e muito mais. Os longas animados do personagem geralmente agradam aos fãs do Cavaleiro das Trevas, e a tradição da DC em criar ótimas animações sobre o herói de Gotham já é consolidada. Em Batman: O Cruzado Encapuzado, uma série em dez episódios disponível no Prime Video, não há grandes novidades em relação ao que já foi visto em outras produções do Batman, mas, mesmo assim, a série consegue divertir.
A demanda por novidades é alta, especialmente em um cenário onde o herói mascarado de Gotham já foi retratado de todas as formas possíveis em sua luta contra o crime. Cruzado Encapuzado não reinventa a roda; a série segue a fórmula conhecida de diversas animações e filmes do Batman, trazendo caos por meio da aparição de vários vilões e colocando o justiceiro bilionário para enfrentá-los. Como mencionado, nada de novo.
A questão é que, mesmo sem trazer um ar de novidade, a série ainda empolga por inserir o herói em uma história noir, que confere um tom sombrio à trama e dá maior destaque ao personagem. Ambientada em uma época que remete aos anos 1940, a narrativa acompanha Bruce Wayne no início de sua ascensão como Batman, quando ele decide iniciar sua jornada heroica na luta contra o crime.
O produtor executivo da série é Matt Reeves, diretor de Batman (2022), e fica evidente que Reeves utilizou como referência o clássico animado dos anos 1990, Batman: A Série Animada. A atmosfera sombria e o estilo visual de Cruzado Encapuzado lembram bastante essa obra, o que não é coincidência, já que Bruce Timm, um dos cocriadores de A Série Animada, também participou deste projeto.
No segundo episódio, o vilão e sua motivação são revelados, definindo o foco do roteiro da série. Em vez de um antagonista único que o Batman enfrenta ao longo dos dez episódios, a série adota uma abordagem diferente, apresentando um novo vilão em cada capítulo, como a Mulher-Gato, Arlequina, Vagalume, Fantasma Fidalgo e até a versão feminina do Pinguim, a Mulher-Pinguim.
O grande problema em se introduzir um vilão diferente a cada episódio é a falta de tempo para o desenvolvimento adequado de cada antagonista. Tal fato resulta em uma trama sobrecarregada, com personagens que aparecem e desaparecem rapidamente. Muitos ganchos interessantes são deixados de lado e não são suficientemente explorados pelo roteiro.
Ao revisitar o trauma de Bruce Wayne com a morte de seus pais e como essa perda ainda o afeta, a série tenta inserir maior dramaticidade à trama. Tal elemento é tratado de forma superficial e com diálogos sem profundidade. Embora o impacto emocional da morte de seus pais continue sendo o foco central para a construção do personagem, moldando sua identidade no presente, o seriado apenas arranha a superfície desse delicado assunto. Apesar dos tropeços, Batman: Cruzado Encapuzado consegue captar o tom sombrio que essa história exige, mas deixa a desejar ao não explorar plenamente o potencial dramático da narrativa.
Batman: Cruzado Encapuzado (Batman: Caped Crusader, EUA, 2024)
Criadores: Bob Kane, Bruce Timm
Direção: Christina Sotta, Christopher Berkeley, Matt Peters
Roteiro:Ed Brubaker, Bruce Timm, Greg Rucka
Elenco Principal (Vozes): Hamish Linklater, Jason Watkins, Diedrich Bader, Eric Morgan Stuart, Michelle Bonilla, Krystal Joy, Cedric Yarbrough, Jamie Chung
Duração: 25 min. (cada episódio)
https://www.youtube.com/watch?v=VdQVQRX68Ns&ab_channel=PrimeVideoBrasil
Crítica | O Caso Asunta - Sem muitas respostas, minissérie acerta ao abordar caso real
O caso apresentado na minissérie espanhola O Caso Asunta remete ao ano de 2013, na Espanha e até hoje, não se sabe ao certo se os verdadeiros culpados são aqueles que foram presos. A dúvida envolve o casal Rosario Porto (Candela Peña) e Alfonso Basterra (Tristán Ulloa), que em 2001 adotou uma menina chinesa chamada Asunta Fong Yang.
Doze anos após a adoção, o casal chamou a polícia para relatar o desaparecimento de Yang. Inicialmente, a hipótese de sequestro foi considerada, mas com o avanço das investigações, o casal se tornou o principal suspeito e foi preso, gerando grande comoção no país na época.
Essa é mais uma produção da Netflix que faz parte do gênero True Crime, abordando crimes reais que conquistaram o público global. Por essa razão, o serviço de streaming tem se focado cada vez mais em criar conteúdos sobre o assunto.
A minissérie, criada por Ramón Campos, Gema R. Neira, Jon de la Cuesta e David Orea, faz várias suposições e apresenta diferentes pontos de vista sobre o que poderia ter acontecido com Yang. No entanto, ela não apresenta nada de irrefutável que mude a versão da polícia, que sustenta terem sido os pais adotivos os responsáveis pela morte e que os levou à prisão, mesmo sem provas contundentes apresentadas pela polícia local.
O roteiro se enrola um pouco ao tentar conceber uma tese sobre quem cometeu o crime brutal. Dá voltas e voltas sem chegar a lugar algum. Há momentos em que parece que o casal é inocente e outros em que são culpados, mas nada de novo é apresentado além do que a polícia já havia divulgado, nem tenta focar em teses ou linhas de investigação diferentes.
As pontas soltas que o roteiro apresenta sobre a investigação são fielmente retratadas conforme o que foi relatado pela polícia na época. Nesse aspecto, a minissérie acerta ao abordar a trama do ponto de vista do policial Juez Malvar (Javier Gutiérrez).
Por ser uma minissérie, é natural que O Caso Asunta se estenda além do necessário em alguns pontos. Algumas tramas secundárias são bastante irrelevantes e não acrescentam muito ao arco narrativo principal. Essas histórias paralelas vão além do necessário, diluindo o impacto da trama e desviando a atenção do mistério central, deixando a sensação de que a série poderia ser mais direta ao ponto.
O Caso Asunta (El caso Asunta, EUA, 2024)
Criadores: Ramón Campos, Jon de la Cuesta, Gema R. Neira, David Orea
Direção: Carlos Sedes, Jacobo Martínez
Roteiro: Ramón Campos, Jon de la Cuesta, Gema R. Neira, David Orea, Javier Chacártegui
Elenco Principal: Candela Peña, Tristán Ulloa, Javier Gutiérrez, María León, Carlos Blanco, Iris Wu, Tito Asorey
Duração: 40 min. (cada episódio)
https://www.youtube.com/watch?v=ve9EAJ41zhU&ab_channel=NetflixEspa%C3%B1a
Crítica | Desaparecidos na Noite esbarra em história uma batida
Surpreende e é interessante perceber como certos filmes, que se fossem lançados nos cinemas ninguém daria a mínima para assistir, mas fazem tanto sucesso na Netflix a ponto de figurarem por dias ou semanas no ranking dos mais assistidos. Aconteceu com Agente Oculto (2022) e volta a ocorrer com o fraco Desaparecidos na Noite.
Em um cenário dominado por enlatados americanos, é algo bastante raro que produções italianas figurem na lista dos mais assistidos da Netflix. No entanto, Desaparecidos na Noite, longa dirigido por Renato De Maria, conseguiu isso ao contar uma história batida: a de Pietro (Riccardo Scamarcio) e Elena (Annabelle Wallis), que estão separados e precisam se aliar para encontrar seus dois filhos, sequestrados enquanto o pai tomava conta das crianças.
O filme trabalha em cima de um tema saturado no audiovisual e, por isso mesmo, precisa ter, pelo menos, um roteiro alinhado com a proposta da narrativa, que é o de criar um mistério sobre quem sequestrou os filhos de Pietro, a motivação do vilão e o sentido de todas as situações que ocorrem com o protagonista estarem acontecendo.
Nisso, o roteiro, pelo menos inicialmente, se sai bem. Cria uma atmosfera que mostra o desespero dos pais em relação ao sequestro e um clima de vingança em que Pietro precisa enfrentar antigos fantasmas em Bari, na Itália, local onde nasceu e onde está apenas de passagem. Além disso, explora os aspectos dramáticos que cercam o crime, como o fato de precisar se aliar à sua ex-mulher e entrar em algumas enrascadas para conseguir dinheiro e pagar o resgate das crianças.
Há muitos problemas envolvendo o roteiro do longa. Um deles, que fica bastante evidente para quem já tem um olhar apurado ou pelo menos já viu muitas produções do gênero, é o fato dele ser óbvio: tudo o que se imagina acaba realmente acontecendo. Essa falta de novidade, de algo que surpreenda o público, é frustrante e torna o ato de chegar ao seu final uma tarefa árdua.
A ambientação é bem construída, com um suspense inicial bem desenvolvido, mas isso se sustenta apenas no primeiro ato. No segundo ato, essa atmosfera começa a ruir e o roteiro se enrola, deixando o suspense de lado e transformando a história em uma obra vazia de vingança. Essa mudança no curso da narrativa atrapalha o desenvolvimento e o andamento da trama, que chega ao seu terceiro ato sem força para finalizar o filme.
Desaparecidos na Noite falha ao criar muita expectativa no espectador, sugerindo que o sequestro poderia ser algo maior do que realmente foi, e acaba quebrando essa expectativa por não entregar o que deveria e por deixar questões mais relevantes de lado, sem um desenvolvimento apropriado. Infelizmente é apenas mais uma produção que está disponível na Netflix que não agrega em nada ao gênero.
Desaparecidos na Noite (Svaniti nella notte, Itália – 2024)
Direção: Renato De Maria
Roteiro: Patxi Amezcua, Alejo Flah
Elenco: Riccardo Scamarcio, Annabelle Wallis, Massimiliano Gallo
Gênero: Drama
Duração: 92 min.
Crítica | Está Tudo Bem Comigo? - Uma história sobre amor e amizade
Antes de estrelar o fracasso de público e crítica Madame Teia, Dakota Johnson havia atuado no filme Está Tudo Bem Comigo?, que teve sua primeira exibição no Festival de Sundance em 2022. O longa demorou um bocado para estrear, indo direto para o streaming Max, e acabou surpreendendo pela sua simplicidade e qualidade.
Lucy (Dakota Johnson) e Jane (Sonoya Mizuno) são duas amigas inseparáveis, saem todos os dias, conversam sobre relacionamentos e sobre os rumos da vida. Porém, tudo muda quando Jane decide se mudar devido a uma proposta de emprego melhor, deixando Lucy desorientada e sem saber como se adaptar à nova realidade.
O roteiro de Lauren Pomerantz não se limita apenas à amizade entre as duas e aos problemas decorrentes da decisão de Jane de se mudar para Londres. Ele também aborda uma questão existencial que Lucy precisa enfrentar: a descoberta e aceitação de sua sexualidade aos 30 anos. Este dilema é central para a trama, e sua amizade quase platônica serve como uma válvula de escape para que Lucy se descubra e enfrente seus próprios dramas.
O fato de se assumir aos 30 anos é algo que as produções audiovisuais raramente abordam, geralmente focando mais em dilemas adolescentes do que em situações existenciais de jovens adultos. Está Tudo Bem Comigo? trata esse tema de maneira sensível e no tom certo. O sentido dramático que o roteiro segue, ao mostrar Lucy se dando conta e admitindo pela primeira vez que sente atração por mulheres, é desenvolvido de forma delicada e emocionalmente envolvente.
O que torna o longa da dupla Stephanie Allynne e Tig Notaro irregular é o fato de focar grande parte da trama no laço de amizade entre Lucy e Jane, deixando de lado outras ligações e, assim, prejudicando a jornada de autodescoberta de Lucy. O ponto alto está no sentimento de Lucy de se encontrar e saber o que deseja para o futuro em sua vida pessoal e em suas relações amorosas.
Está Tudo Bem Comigo? é um filme que trata não apenas da amizade entre duas mulheres, suas brigas e o desgaste natural por se conhecerem há muito tempo, mas também aborda sentimentos reprimidos de maneira sensível e emocionante, provocando diversas sensações no espectador. A moral do longa é clara: sempre seja você mesmo, não importa o que os outros vão pensar.
Está Tudo Bem Comigo? (Am I OK?, EUA – 2022)
Direção: Stephanie Allynne, Tig Notaro
Roteiro: Lauren Pomerantz
Elenco: Dakota Johnson, Sonoya Mizuno, Jermaine Fowler, Kiersey Clemons
Gênero: Comédia, Drama, Romance
Duração: 86 min.
https://www.youtube.com/watch?v=b80FbdimIHs&t=2s&ab_channel=Max
Crítica | O Banho do Diabo - Perturbador de tão real
The Devil's Bath, ou em uma tradução livre para o português, O Banho do Diabo, não deve figurar na lista dos melhores filmes de terror do ano, mas deveria. O longa de folk horror, dirigido e co-roteirizado pela dupla Severin Fiala e Veronika Franz, os mesmos por trás de O Chalé (2019) e Boa Noite, Mamãe (2014), apresenta várias mensagens bastante relevantes nos dias atuais com uma protagonista cheia de camadas.
A trama conta a história de Agnes (Anja Plaschg), em possivelmente uma das grandes performances femininas do ano. Ela é uma mulher que vive no século XVIII um casamento infeliz com seu recém-marido e precisa ainda lidar com os mandos e desmandos da mãe dele. Um sentimento de vazio toma conta da protagonista e a leva à depressão. O roteiro apresenta como esse estado depressivo toma conta de Agnes aos poucos.
Agnes dedica seus dias a orações, pedindo para ter um filho, e trabalha arduamente, mas não encontra prazer nos afazeres domésticos. Ela vive andando de um lado para o outro na floresta, em busca de um sentido para sua vida. O fato de ter na reza sua válvula de escape não a ajuda, e a ausência de uma “ajuda” divina só faz com que ela caia cada vez mais na escuridão da solidão.
A construção da história tem um ritmo lento, quase parado, e isso é um fato que não dá para ser ignorado. No entanto, não é algo entediante que cansa o espectador, pois o longa cria uma curiosidade em entender as causas que levaram Agnes a sofrer e quais são suas motivações para praticar um ato hediondo e chocante no ato final.
Inspirada em fatos reais, a produção tem um valor dramático ao retratar o passado e o sofrimento que as mulheres viveram no período, bem como os artifícios que encontravam para se libertarem dessa aflição, o que as levava a praticar crimes e buscar o perdão de Deus. Há um paralelo com os dias atuais, visto que o sofrimento psicológico da protagonista reflete a realidade de muitas mulheres hoje em dia.
Na época em que a história se passa, a depressão era uma doença estigmatizada e pouco conhecida, e seus malefícios não eram compreendidos. Isso é o que torna O Banho do Diabo mais interessante, pois sua trama foge do terror convencional e entra na esfera do horror psicológico, retratando como a enfermidade afeta a protagonista. É sem dúvida um dos grandes filmes do ano.
O Banho do Diabo (Des Teufels Bad, Áustria – 2024)
Direção: Severin Fiala, Veronika Franz
Roteiro: Severin Fiala, Veronika Franz
Elenco: Anja Plaschg, Maria Hofstätter, David Scheid
Gênero: Drama, História, Terror
Duração: 121 min.
https://www.youtube.com/watch?v=PaGMdANhmrw&ab_channel=Shudder
Crítica | Exhuma é um dos filmes mais surpreendentes do ano
Que a qualidade do cinema sul-coreano é alta, isso ninguém duvida. Os gêneros nos quais eles se destacam são o drama, suspense e o terror. Neste último, encontra-se Exhuma, uma produção que foi líder de bilheteria na Coreia do Sul por várias semanas consecutivas.
A história, que conta com a direção e o roteiro de Jang Jae-hyun, não é assustadora, mas possui um ar sombrio e uma densidade no ambiente que conferem um tom de horror à trama. Seu primeiro ato já é uma demonstração disso, quando os quatro xamãs encaram aquele morro que traz uma sepultura em seu topo.
O longa lembra bastante O Lamento, obra de Na Hong-jin, que, embora não fosse inspirado em um conto popular coreano específico, trazia elementos tradicionais do folclore do país asiático. Exhuma faz o mesmo, indo de encontro com o horror popular e tradicional da Coreia do Sul.
A obra de Jae-hyun é uma das maiores surpresas do ano, até porque inicialmente não se espera muito do filme, que se desenvolve em um ritmo lento até que o verdadeiro horror se manifesta, transformando o suspense em um intenso e assombroso terror.
O roteiro trabalha as crenças e superstições locais de modo eficiente, trazendo um mistério acerca do túmulo que serve para aumentar a tensão e a curiosidade sobre o que há de tão maligno naquele lugar. Jae-hyun Jang trabalha de forma competente o horror, que se manifesta e mostra ao público como o passado ainda reflete no presente do país.
Essa é a mensagem escondida na obra. Além da tradição e do folclore regional, ela mostra como a Coreia do Sul encara os acontecimentos históricos, como a invasão japonesa entre 1592 e 1598 e a anexação da Coreia pelo Japão em 1910. A geração atual não parece demonstrar muito interesse por esses eventos, e o longa vem para relembrar esses momentos e mostrar que esses fantasmas do passado ainda assombram o país.
Exhuma apresenta um dos monstros mais legais de filmes de terror vistos nos últimos anos, com um semblante maligno e sombrio. Surge a figura de um ser sobrenatural que se manifesta justamente desse peso do passado. É, sem dúvida, um dos filmes mais surpreendentes do ano e que deve ser visto com paciência pelo espectador.
Exhuma (Pamyo, Coreia do Sul – 2024)
Direção: Jang Jae-hyun
Roteiro: Jang Jae-hyun
Elenco: Kim Go-eun, Lee Do-hyun, Choi Min-sik, Yoo Hae-jin, Hong Seo-jun
Gênero: Terror, Mistério, Suspense
Duração: 134 min.
https://www.youtube.com/watch?v=H2O193v3jkM&ab_channel=RottenTomatoesIndie