O Brasil perdeu na manhã desta sexta-feira (14), aos 84 anos, o cineasta Cacá Diegues, um dos ícones do Cinema Novo e membro imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL). A morte do diretor foi causada por complicações durante uma cirurgia, conforme informado oficialmente pela ABL. Seu corpo será velado neste sábado (15), a partir das 9h, na sede da instituição, localizada no Rio de Janeiro.
O legado de Cacá Diegues no Cinema Novo
Cacá Diegues foi um dos principais nomes do movimento Cinema Novo, que revolucionou o cinema brasileiro nos anos 1960, ao lado de cineastas como Glauber Rocha e Leon Hirszman. O movimento se destacou por abordar temas sociais e culturais, e foi fundamental para a renovação estética e política do cinema nacional. Diegues, com sua sensibilidade e olhar crítico, explorou a realidade social brasileira de forma profunda e, ao mesmo tempo, acessível ao grande público.
O cineasta começou sua trajetória no cinema ainda jovem, fundando um cineclube durante sua época de estudante de Direito na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Seus primeiros filmes, como “Ganga Zumba” (1964), “A Grande Cidade” (1966) e “Os Herdeiros” (1969), foram marcantes por refletirem o contexto de sua época, especialmente o período da ditadura militar.
A trajetória e os principais filmes
Além de ser um dos pilares do Cinema Novo, Cacá Diegues também ficou conhecido por seu trabalho após o exílio. Durante a ditadura militar, ele viveu na Itália e na França, mas sempre manteve-se presente no debate sobre cultura e política. Após retornar ao Brasil, dirigiu filmes emblemáticos como “Quando o Carnaval Chegar” (1972) e “Joanna Francesa” (1973), mas foi com “Xica da Silva” (1976) que alcançou um de seus maiores sucessos, sendo esse um marco da abertura política no país.
Em sua carreira, Cacá também dirigiu filmes que se tornaram ícones do cinema nacional, como “Bye Bye Brasil” (1980), “Quilombo” (1984), “Um Trem para as Estrelas” (1987) e “Chuvas de Verão” (1978). Seu trabalho foi reconhecido internacionalmente, e ele foi indicado três vezes à Palma de Ouro no Festival de Cannes, com os filmes “Bye Bye Brasil”, “Quilombo” e “Um Trem para as Estrelas”. Cacá também participou do júri do festival em 1981.
Reflexões sobre a vida e a morte
Conhecido por suas declarações impactantes, Cacá Diegues afirmou em uma entrevista de 2006 que era “inimigo mortal da morte”, citando a obra de Ingmar Bergman como uma das mais belas representações da vida e da morte no cinema. Sua visão de que “mais importante que o conjunto da obra, na vida, é o instante que a gente vive”, reflete sua sensibilidade tanto na vida pessoal quanto na carreira cinematográfica.
Cacá Diegues: um cineasta imortal
Em 2018, Cacá Diegues foi eleito para a cadeira número 7 da ABL, sucedendo o cineasta Nelson Pereira dos Santos, e sempre defendeu a academia como um espaço de proteção e provocação cultural. Durante sua posse, ele destacou a importância de criar elementos que permitissem à cultura brasileira se desenvolver, e essa foi uma das marcas de sua carreira: ele sempre esteve disposto a desafiar os limites culturais e artísticos, tanto no cinema quanto na vida.
Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.
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