Crítica | Uma Natureza Violenta - Quase que uma cópia de Sexta-Feira 13

Uma Natureza Violenta é tudo o que os fãs de filmes de terror não estão habituados a ver nos slashers, que geralmente seguem a fórmula clássica de um assassino mascarado perseguindo jovens e matando-os um a um com mortes criativas.

A história acompanha um assassino chamado Johnny, responsável pelo massacre de White Pines, que ressurge da terra em busca de um medalhão que o mantinha preso ao local. Ele retorna para matar todos em seu caminho na tentativa de recuperar o objeto e descansar em paz.

Dirigido por Chris Nash, o cineasta apresenta sua versão de Jason Voorhees e utiliza claramente a franquia Sexta-Feira 13 como referência para conceber sua história. Até a forma como Johnny é visto a todo instante e os enquadramentos que o mostram dão a impressão de que ele seria uma versão moderna de Jason.

O longa se destaca ao descaracterizar o formato clássico dos slashers, ao filmar o vilão de costas e apresentar seu ponto de vista dos acontecimentos, mostrando-o observando suas presas de longe e percorrendo a floresta em busca de vítimas.

Nash foi mais ousado do que parece ao adotar essa abordagem, pois pouquíssimos diretores topariam contar os crimes de um assassino sádico através de sua perspectiva. Tal prática permite revelar a outra parte do enredo que geralmente é ofuscada, que é a visão do serial killer. A câmera é colocada em cena de um jeito que lembra as obras de Terrence Malick, com ritmo lento e exploração de paisagens naturais. 

Essa é apenas uma das quebra de expectativas que o longa realiza. Os personagens não são apresentados e nem desenvolvidos, o papel da final girl não está definido desde o princípio, com a protagonista só ganhando destaque no ato final, e mesmo assim, não temos ideia de quem ela é ou por que está ali no meio do mato.

Essa falta de drama é algo que sentimos na trama; a narrativa é muito séria e direta ao ponto. O drama geralmente enriquece o roteiro, e a falta dele muda completamente a narrativa. Outro aspecto que sentimos ausência é da falta de sustos, devido à visibilidade do antagonista e à previsibilidade de seus próximos passos. Essa falta de sustos provavelmente irá frustrar parte do público, mas, em contrapartida, o longa é bastante violento, para não dizer brutal.

Uma Natureza Violenta possivelmente vai frustrar muitos espectadores que estão procurando um slasher convencional, mas encontrarão um projeto de terror quase experimental, que segue uma direção oposta ao habitual do subgênero, e por esse motivo deve ser visto.

Uma Natureza Violenta (In a Violent Nature, EUA – 2024)
Direção: Chris Nash
Roteiro: Chris Nash
Elenco: Ry Barrett, Andrea Pavlovic, Cameron Love, Reece Presley, Liam Leone, Charlotte Creaghan
Gênero: Drama, Terror, Suspense
Duração: 94 min.

https://www.youtube.com/watch?v=4BVW7axwtQk&ab_channel=Shudder


Crítica | Twisters é uma ótima surpresa que vale conferir nos cinemas

Crítica | Twisters é uma ótima surpresa que vale conferir nos cinemas

Lançado originalmente em 1996, o primeiro Twister foi um tremendo sucesso comercial e cultural. Sob produção de Steven Spielberg e direção do talentoso Jan de Bont, o filme ainda navegava pela empolgação de Hollywood em seus recém descobertos efeitos visuais - frutos do sucesso de Jurassic Park, também de Spielberg. Twister foi concebido meramente pelo entusiasmo da equipe ao perceber o que era possível fazer com a tecnologia: “por que não fazer um filme de tornados?”.

Corta para quase 30 anos depois e Hollywood simplesmente não demonstra mais o mesmo entusiasmo. A tecnologia avançou tanto que literalmente mais nada é capaz de impressionar o público: tudo pode ser feito com efeitos visuais. É por um sentimento inversamente proporcional que Twisters existe: não por artistas imaginando o que pode ser possível, mas sim um desejo desesperado de voltar ao passado e recapturar uma magia difícil de ser replicada.

Apesar de sentimentos pouco nobres, que certamente têm mais interesse no retorno financeiro, é com grata surpresa que este Twisters seja tão bom e divertido, e maior triunfo resida justamente em um saudosismo natural e nada forçado.

Sem nenhuma conexão aparente com o universo ou mitologia do original, o novo Twisters troca a trama de divórcio pendente entre Bill Paxton e Helen Hunt do original por algo mais batido, mas sempre eficiente se contando com o elenco certo: o casal improvável e de polos opostos que acabam se atraindo, aqui representados pela meteorologista correta e segura da ótima Daisy Edgar-Jones e o bad boy aventureiro caçador de tornados Tyler Owen, vivido pelo carismático Glen Powell - em meteórica ascensão após Top Gun: Maverick e Assassino por Acaso.

A dinâmica do casal é pura e divertidíssima, daquelas que marcavam grandes clássicos dos anos 1990, e que raramente vemos funcionando na Hollywood contemporânea. Através de uma dinâmica leve e até sensual, o roteiro bem correto de Mark L. Smith é capaz de trazer surpresas e reviravoltas interessantes, que funcionam graças ao investimento nesses dois excelentes personagens.

No sentido de direção, o coreano Lee Isaac Chung faz um grande salto de seu drama oscarizado Minari: Em Busca da Felicidade para uma produção gigantesca de US$200 milhões. Ao lado do diretor de fotografia Dan Mindel (com um lindo uso de película 35MM), a dupla é bem feliz ao emular o estilo nervoso e destrutivo de Jan de Bont para uma série de sequências mirabolantes e intensas de tornados, cujos efeitos visuais e práticos garantem uma imersão profunda; exacerbada também pela ótima trilha sonora de Benjamin Wallfisch.

Ao contrário de diversas “sequências legado” que apostam em resgatar de forma desengonçada elementos que só funcionavam no passado (seja personagens, figurinos ou objetos), Twisters é mais inteligente ao mirar na “sensação” de seu filme original, e não necessariamente em sua mitologia. O resultado é certeiro e proporciona uma das diversões mais desavergonhadamente pipocas de 2024, perfeitamente bem representada por um momento chave: onde os personagens acabam se refugiando de um tornado gigantesco no clímax?

Em uma sala de cinema, onde mais?

https://www.youtube.com/watch?v=q1OOPPe24uc


Crítica | Entrevista com o Demônio - Um filme que foge do convencional

Possessões demoníacas sendo mostradas no cinema já são algo comum, com a franquia Invocação do Mal popularizando esse subgênero que conta com grandes clássicos, como O Exorcista (1973) e O Exorcismo de Emily Rose (2005). Entrevista com o Demônio é uma dessas produções que tratam do assunto, mas que provavelmente não irá conquistar boas notas de uma parcela do público.

A nota no Rotten Tomatoes, onde o longa atualmente aparece com 97% da crítica e 81% da audiência, já é um indício de que os espectadores ou não entenderam o conceito do filme ou simplesmente não gostaram da trama. Se sustos, gritos e sangue aos montes são o que você procura ao assistir a esta produção, não é isso que encontrará; pelo contrário.

Late Night With the Devil (título original) foi dirigido e roteirizado pelos irmãos Cameron e Colin Cairnes. O filme conta a história de Jack Delroy (David Dastmalchian), um apresentador de programa de auditório nos anos 1970 que aspira superar a audiência de seu concorrente Johnny Carson e, para isso, decide apelar para o sensacionalismo, convidando figuras ligadas ao ocultismo para o especial de Halloween de seu programa.

Se pararmos para pensar, a ideia do roteiro é bem simples, mas, nas mãos dos irmãos Cairnes, revela todo o seu potencial, indo além do ocultismo e entrando na esfera da possessão demoníaca. O primeiro ato é arrastado, pois precisa apresentar Jack, seu programa noturno Night Owl e suas ambições pessoais, além de seu trauma particular envolvendo a morte de sua esposa.

Filmado no estilo found footage, mas não no formato convencional de câmera na mão. Em vez disso, utiliza as câmeras do programa de TV para criar a impressão de que se trata da única cópia de uma fita master e de que aquele conteúdo é real. O filme intercala entrevistas do apresentador com os convidados e conversas de bastidores entre Jack e o produtor, causando uma maior imersão do público com a trama.

Com todo o falatório nas redes sociais sobre esse filme, é natural que se crie uma grande expectativa ao seu redor. No entanto, isso provavelmente frustrará aqueles que procuram uma história de possessão demoníaca convencional, algo que o longa não oferece. Somente em seu último ato é revelado todo o horror envolvendo a garota de 13 anos, Lilly (Ingrid Torelli). É quando o verdadeiro mal se manifesta que entendemos o que os diretores pretendiam com todo o suspense construído até então.

A mensagem que o roteiro quer transmitir não é óbvia, mas é possível captar seu sentido. Jack entrevista, em seu programa especial de Halloween, um médium, um homem cético em relação às artes ocultas e uma parapsicóloga que está tratando a garota de 13 anos, que alega estar possuída pelo demônio. O debate não se limita à espetacularização dos programas de TV que trazem tantas bobagens para as telas, mas também à escuridão envolvida na criação desses programas e à indiferença dos produtores em relação às consequências de seus atos, focando apenas na audiência.

Entrevista com o Demônio lembra bastante os curtas amadores da bizarra franquia de terror V/H/S, que simula fitas de vídeo perdidas. Os irmãos Cairnes utilizaram o terror atmosférico para dar um ar de realidade à trama, o que funciona bem e cria uma rápida conexão com o público, situando-os no ambiente onde a ação acontece. O jeito de pensar um programa de TV foge do óbvio, proporcionando uma experiência imersiva e original.

Entrevista com o Demônio (Late Night with the Devil, EUA – 2023)
Direção: Cameron Cairnes, Colin Cairnes
Roteiro: Cameron Cairnes, Colin Cairnes
Elenco: David Dastmalchian, Laura Gordon, Ian Bliss, Fayssal Bazzi, Ingrid Torelli, Rhys Auteri
Gênero: Terror
Duração: 93 min.

https://www.youtube.com/watch?v=7pzCItd7FRs&ab_channel=DiamondFilmsBrasil


Crítica | Meu Malvado Favorito 4 - Uma franquia que perde o fôlego

Quando o primeiro longa animado de Meu Malvado Favorito estreou em 2010, foi um sucesso instantâneo, principalmente entre o público infantil, que logo se encantou com a animação que trazia Gru como um vilão malvado e seus bobinhos, porém divertidos, Minions, que rapidamente se tornaram a marca registrada da produção. 

É óbvio que tamanho sucesso faria com que o filme recebesse continuações, dois derivados e curtas-metragens, além de transcender as telas e vender produtos, como mochilas, camisas e brinquedos. É nesse cenário que surge Meu Malvado Favorito 4, uma sequência natural, mas não tão encantador quanto às versões anteriores.

Isso não quer dizer que a animação seja ruim; pelo contrário, sua qualidade continua sendo de primeira linha, graças à produtora Illumination Entertainment, responsável pela criação e animação da produção. O grande problema do quarto filme da franquia, e nisso há uma parcela de culpa dos diretores (Chris Renaud, Patrick Delage) e roteiristas (Ken Daurio, Patrick Delage), é que a história não se renova com o passar do tempo, apenas inserindo um ou outro elemento novo à narrativa.

Desta vez, o elemento novo é Gru Jr., o bebê recém-nascido da relação do ex-supervilão com Lucy, que ele conheceu e por quem se apaixonou em Meu Malvado Favorito 3. Esse fato já demonstra que a obra está se transformando em uma produção voltada para a família, não apenas pela história centrada nesse novo componente, mas também pelas mudanças na vida dos personagens.

Gru abandonou sua vida de supervilão há algum tempo e agora busca transmitir uma imagem de pessoa gentil e amável. Enquanto isso, Lucy e sua filha mais velha, Margo, enfrentam desafios ao se adaptarem a uma nova vida na cidade. É nesse contexto que surgem diversas situações engraçadas que devem divertir o público.

Nos outros longas da franquia, o principal era o vínculo entre Gru e suas três filhas adotivas, além do processo de humanização do vilão através desse vínculo. Neste novo capítulo, porém, são poucas as oportunidades para as três crianças se destacarem, sendo praticamente deixadas de lado. A falta de coragem da dupla de diretores, Chris Renaud e Patrick Delage, em dar um passo além e amadurecer os personagens representa uma grande oportunidade perdida.

São várias as subtramas criadas pelo roteiro e a história não consegue suportar tantas variações. Um exemplo são os Minions que se tornam espécie de super-heróis e que são pessimamente apresentados pelo roteiro. A partir do momento que mais e mais personagens vão surgindo na narrativa, mais difícil fica desenvolver suas histórias e deixando a trama cada vez mais vazia e artificial.

Meu Malvado Favorito 4 é praticamente uma cópia dos filmes anteriores, reproduzindo a fórmula que deu certo, incluindo o surgimento de um vilão com um plano maquiavélico para criar o caos no mundo. De todos os longas da franquia, este é o mais fraco, dando a impressão de que, com o tempo, a criatividade se esgotou e não há mais nada para inovar. Certamente agradará ao público infantil, mas para os outros espectadores, pode se tornar cansativo e previsível.

Meu Malvado Favorito 4 (Despicable Me 4, EUA – 2024)
Direção: Chris Renaud, Patrick Delage
Roteiro: Ken Daurio, Mike White
Elenco: Vozes - Steve Carell, Kristen Wiig, Joey King, Will Ferrell, Sofía Vergara, Miranda Cosgrove
Gênero: Animação, Aventura, Comédia
Duração: 95 min.

https://www.youtube.com/watch?v=-9QBR0BwK3E&ab_channel=UniversalPicturesBrasil


Crítica | Um Lugar Silencioso: Dia Um - É melhor ficar em silêncio quando nada se tem a dizer

Crítica | Um Lugar Silencioso: Dia Um - É melhor ficar em silêncio quando nada se tem a dizer

"Um Lugar Silencioso: Dia Um" é um spin-off do original "Um Lugar Silencioso" de 2018, este dirigido pelo também ator John Krasinski. O prólogo dirigido por Michael Sarnoski (de Pig - A Vingança) mostra a chegada dos alienígenas à Terra e o caos social imediato resultante da invasão. A protagonista Samira (interpretada por uma esforçada Lupita Nyong'o) é uma paciente terminal vivendo em Nova York que testemunha a chegada das criaturas e o massacre que se segue. Ela é acompanhada pelo tímido Eric (Joseph Quinn) e um gato de estimação numa fuga em círculos pela cidade arruinada.

A pergunta que um amante de cinema pode se fazer é: a premissa iniciada no primeiro filme teria fôlego para dois mais (ou sabe-se lá quantos ainda virão)? A resposta parece evidente na metade deste enredo, quando os protagonistas vagam em cenas que forçam um lirismo entrecortado por sustos gratuitos que aparecem para nos lembrar de que, afinal, se trata apenas de mais um filme de terror, apocalipse ou algo parecido.

Além de esticar ao limite uma premissa que não parece ter material dramático para se sustentar por uma hora e meia (e você já assistiu à uma situação semelhante com melhor sorte em Cloverfield -  Monstro, por exemplo), o roteiro força a barra de maneira pueril, quando meia hora depois de a cidade ser atacada por um inimigo alienígena do qual rigorosamente nada se sabia até então, os habitantes já parecem plenamente convencidos (e mobilizados) de qual é a "regra do jogo" (ficar quietos para não atrair atenção das criaturas), o que é bastante inverossímil e só serve para conduzir a história aonde o roteirista quer.

Quando, evidentemente, seria muito mais razoável imaginar que a população levaria dias (ou ao menos umas boas horas) para entender o que estava acontecendo e aceitar a "regra de segurança" (que é a base de toda a franquia e, até por esse motivo, merecia ser mais bem trabalhada). Exigir realismo tampouco parece razoável, porque precisamos lembrar que este não é muito mais que outro filme de "monstro" e se comporta como tal.

O filme repete também o mesmo truque barato dos dois anteriores: nenhum deles é nada "silencioso", pois tanto aqui, como nos outros, a direção lança mão de todo tipo de intervenção sonora e música constante, de modo que os sussurros são compensados por uma barulheira bem exagerada. Seria surpreendente e realmente "inovador" conseguir provocar sustos sem efeitos sonoros, por exemplo. Mas esta é uma proeza que nem Krasinski, nem Sarnoski, sequer cogitariam.

No deserto de qualidades no qual se converteu a indústria de entretenimento nos últimos anos, a ideia do primeiro filme de Krasinski soou bastante original num primeiro momento (embora sorrateira fosse uma palavra melhor). Depois, entretanto, de mais de cinco horas de correria e monstrengos fazendo careta, a impressão que se sobressai é que se trata apenas de mais uma fórmula sendo reprisada. No fim do mundo, como Hollywood tem nos ensinado há décadas, não há muito que se dizer: o jeito é correr mesmo.

Um Lugar Silencioso: Dia Um (A Quiet Place: Day One – EUA, 2024)
Direção: Michael Sarnoski
Roteiro: Michael Sarnoski, John Krasinski, Bryan Woods
Elenco: Lupita Nyong’o, Joseph Quinn, Alex Wolff, Djimon Hounsou, Thara Schoon, Thea Butler
Duração: 100 min.


Review | Beyond Good & Evil: 20th Anniversary Edition é a edição definitiva de um clássico

Review | Beyond Good & Evil: 20th Anniversary Edition é a edição definitiva de um clássico

A carreira de Beyond Good & Evil já é longa, afinal o jogo faz 21 anos agora em 2024. Apesar de ter sido considerado um fracasso comercial na época de seu lançamento, a obra conseguiu se tornar um cult mantendo uma fiel base de fãs que se empenhou em popularizar o game ao longo dos anos. 

Tanto que atualmente, a franquia de apenas um jogo já se tornou uma lenda no cenário graças a produção da sequência produzida há mais de quatorze anos e que segue sem previsão de lançamento. A esse ponto, o jogo original conseguiu ser lançado duas vezes, o que é bastante irônico. 

A Ubisoft já tinha feito um primeiro remaster em 2011 trazendo o game para a era HD. E agora, de surpresa com o segundo remaster que traz mais novidades do que apenas uma repaginada visual. 

https://www.youtube.com/watch?v=CaU4tMuvvdc

O carisma de uma era

A história de Beyond Good & Evil sempre foi um dos pontos mais elogiados, principalmente por ter sido bastante vanguardista em uma época que as narrativas em jogos estavam começando a amadurecer após alguns anos do lançamento de GTA III. 

Acompanhamos Jade, uma fotojornalista independente que vive em um farol de refugiados no planeta aquático de Hillys em 2435. Há anos que o planeta é atacado por uma raça de alienígenas chamados DomZ e a instituição de governo ditatorial Setor Alpha também não é muito eficaz em proteger a população. 

Após repelir um último ataque e se conectar brevemente com os DomZ, Jade e seu melhor amigo, tio Pey’j são recrutados para um trabalho misterioso envolvendo uma invasão de DomZ. Esse trabalho acaba virando a porta de entrada para a ordem secreta rebelde IRIS que busca expor uma aliança bizarra entre os DomZ e o Setor Alpha. 

Nota-se em questão de poucos minutos de gameplay que Beyond Good & Evil era mesmo um projeto bastante ambicioso, até mesmo tecendo críticas sociais audazes bem além da compreensão simples da faixa etária indicada do jogo (o público infanto juvenil). 

Dirigido pelo veterano Michel Ansel, criador da saga Rayman, o título busca trazer elementos de mundo aberto para uma aventura expansiva, explorando diversos cenários com personagens interativos com diversas linhas de diálogo. 

Logo, o diretor mistura diversos gêneros aqui, trazendo elementos de aventura, tiro, arcade, corrida e até sobrevivência. Sendo um jogo curto, é impressionante a quantidade de atividades necessárias que delineiam o jogo. 

É óbvio que se trata de uma obra já datada em termos de jogabilidade, mas é inegável que envelheceu bem, principalmente pelo estilo visual único dos traços de Ansel para os personagens, inimigos e cenários. Aliás, é justamente o carisma dos personagens que seguram a narrativa até o fim, já que ela é simples e previsível para uma audiência mais adulta. 

Dito isso, com um sistema de progressão baseado em duas moedas: uma de créditos para a compra de itens normais e outra baseada em pérolas para adquirir upgrades para o barco voador que a dupla protagonista usa, o jogo te incentiva a realizar atividades secundárias e explorar o singelo mundo aberto. 

Enquanto para ganhar pérolas é preciso realizar algumas missões extras, os créditos são obtidos ao tirar fotos da fauna de Hillys, com diversas criaturas alienígenas interessantes para descobrir e catalogar. A mecânica é divertida e claramente inspirada em Pokémon Snap, de 1999.

Review | Beyond Good & Evil: 20th Anniversary Edition é a edição definitiva de um clássico
Ubisoft

Atravessando gerações 

Infelizmente, por ser já datado em diversos termos, existem algumas rusgas que mostram tanto a idade quanto algumas fraquezas do original. Essas se concentram principalmente na mobilidade truncada de Jade e no combate enjoativo. 

Nunca havia sido a intenção de Ansel em introduzir mecânicas de combate no jogo e isso se vê claramente pelo único combo de três golpes que Jade domina para lutar contra alienígenas. São raras as chances que ele mistura o combate com quebras-cabeças e menos ainda em sessões de parceria com o NPC parceiro de Pey’j que nos acompanha na saga. 

Neste novo remaster, aliás, a Ubisott caprichou em aprimoramentos necessários que funcionam corretamente. A IA dos parceiros está menos errática, atendendo a comandos mais rapidamente para solucionar puzzles. A edição de 20 anos, na verdade, funciona mesmo como uma versão definitiva do jogo. 

Os controles foram remapeados para aprimorar a qualidade de vida do jogador, se tornando um pouco mais adequados ao consenso moderno de jogabilidade. As texturas também ganharam melhorias ante a versão HD, conseguindo manter o design artístico de Ansel sem causar estranheza como já vimos em remasterizações anteriores - como no caso da infame edição definitiva de GTA: The Trilogy. 

Agora o jogo pode ser executado a 4K em 60fps - constantes e em bom estado no PC, inclusive. As melhorias também incluem a habilidade de pular cinemáticas, salvamentos automáticos e salvamentos cruzados em todas as plataformas. Outro ponto de destaque notório é a regravação de algumas faixas musicais clássicas da excelente trilha original de Christophe Héral que facilmente é um dos pontos mais altos do jogo. 

A edição também inclui uma missão secundária inédita de caça ao tesouro que traz maior contexto histórico para a protagonista Jade. Além disso, a problemática câmera do clássico foi retrabalhada, mais afastada da personagem, embora ainda seja meio complicada em passagens em primeira pessoa. Por fim, há um novo modo de speedrun, conquistas inéditas e também diversos conteúdos bônus trazendo mais detalhes das fases de produção do jogo. 

Review | Beyond Good & Evil: 20th Anniversary Edition é a edição definitiva de um clássico
Ubisoft

Uma chance imperdível

Dado o baixo preço sugerido para o lançamento de Beyond Good & Evil: 20th Anniversary Edition e a antecipação gigantesca para a prometida sequência, se trata da oportunidade perfeita de conhecer esse excelente clássico do catálogo da Ubisoft. Melhor ainda se tratando da atenção e carinho que a empresa dedicou ao remaster que está bastante estável e polido, trazendo mudanças notórias e conteúdos adicionais muito bem-vindos. 

Agora é torcer para que Beyond Good & Evil 2 não demore mais dez anos para finalmente chegar ao mercado dando tempo para uma cômica e desnecessária edição de 30 anos do jogo original. 

Agradecemos a Ubisoft pela cópia gentilmente cedida para a realização da análise


Crítica | As Cores do Mal: Vermelho - Um eficiente thriller policial

Se há algo a se elogiar na Netflix, é o fato de trazer para a sua audiência produções originais de diversos países, como é o caso de As Cores do Mal: Vermelho, um filme polonês que foi adaptado do primeiro livro de uma trilogia escrita pela autora Małgorzata Oliwia Sobczak.

A história se passa na cidade de Gdynia, na Polônia, onde Monika (Zofia Jastrzębska) convence o gerente de uma boate de que ela é a pessoa certa para trabalhar no local e vender, além de bebidas, drogas. Surge um romance entre Monika e o gerente, mas ela não espera que o pior possa acontecer com ela. Monika é brutalmente assassinada, e seu corpo é encontrado na beira da praia, dando início a toda uma investigação policial.

Essa cena inicial, com Monika encontrada de bruços na praia e seu corpo marcado por sinais de violência, já mostra ao público a linha que o longa seguirá: uma história de assassinatos. O roteiro não revela de imediato o motivo nem o autor. Esse mistério gerado já no primeiro ato prende o espectador, despertando o desejo de solucionar o crime e em cada reviravolta só deixa com mais vontade de seguir acompanhando a narrativa.

A trama é apresentada em dois tempos distintos: um no presente, em que a investigação policial acontece, e outro no passado, mostrando Monika se envolvendo cada vez mais no mundo das drogas e como sua morte ocorreu.

Há vários personagens que podem ser considerados vilões, sendo o principal o chefe do tráfico na região. Ele é retratado como um homem cruel e sádico, que pratica atos violentos com uma naturalidade que lembra Frank Costello, de Os Infiltrados, devido à sua brutalidade.

O thriller de suspense traz todos os ingredientes que são vistos com frequência em obras do gênero, como assassinatos bárbaros, investigação e inúmeras reviravoltas, esse último elemento, por sinal, é o grande trunfo do longa, que traz uma reviravolta atrás da outra e nunca dando margem para que o público descubra quem é o verdadeiro vilão da história.

As Cores do Mal: Vermelho tem uma atmosfera fria e sombria, e tal ambiente se reflete na narrativa, trazendo muito mistério. Enquanto a trama se desenrola, é possível acompanhar a investigação se desenvolvendo em meio a momentos de tensão. Não é uma obra-prima, mas é uma produção eficiente e que desempenha bem o seu papel de entreter.

As Cores do Mal: Vermelho (Kolory zla. Czerwien, Polônia – 2024)
Direção: Adrian Panek
Roteiro: Lukasz M. Maciejewski, Adrian Panek, baseado na obra de Malgorzata Oliwia Sobczak
Elenco: Jakub Gierszal, Maja Ostaszewska, Zofia Jastrzebska, Andrzej Konopka
Gênero: Policial, Drama, Mistério
Duração: 111 min.

https://www.youtube.com/watch?v=ZDrN-w8yFps&ab_channel=NetflixPolska