A emissora norte-americana CBS anunciou nesta quinta-feira (17) o cancelamento de seu principal talk show, o “The Late Show With Stephen Colbert”, que chegará ao fim em maio de 2026. A decisão, justificada pela empresa como “puramente financeira”, gerou uma tempestade política imediata, com uma avalanche de críticas de comediantes, políticos e analistas de mídia que acusam a CBS e sua empresa-mãe, a Paramount, de capitularem à pressão política do presidente Donald Trump.
Stephen Colbert é um dos críticos mais ferozes e consistentes de Trump na televisão norte-americana desde que assumiu o programa, em 2015. O anúncio de seu cancelamento, poucas semanas após a Paramount fechar um acordo milionário com o presidente, alimentou as suspeitas de que a decisão foi uma forma de autocensura.
“F*da-se você, CBS”: a fúria dos comediantes
A reação da comunidade de comédia foi rápida e furiosa. Jimmy Kimmel, apresentador de um programa rival na ABC, foi um dos mais vocais. Em seu story no Instagram, ele postou um clipe do anúncio de Colbert e escreveu: “Te amo, Stephen. F*da-se você e todos os seus Sheldons, CBS”, em uma alfinetada à preferência da emissora por sitcoms mais “inofensivas” como Young Sheldon.
O produtor de TV Mike Schur (Parks and Recreation, The Good Place) foi ainda mais longe, traçando um paralelo com o fascismo. “A maneira número 1 de explicar o funcionamento adequado dos Estados Unidos é dizendo: ‘comediantes podem zombar do presidente na TV’. Uma boa maneira de explicar o fascismo é: ‘o presidente obriga as empresas a demitir esses comediantes'”, escreveu.
A suspeita de uma decisão política
O que alimenta a narrativa de censura é o timing da decisão. O cancelamento foi anunciado apenas três dias depois de Colbert ter criticado a Paramount em seu programa, por conta de um acordo de US$ 16 milhões que a empresa fez para encerrar um processo movido por Trump. O processo, que a própria Paramount já havia classificado como “sem mérito”, era sobre uma entrevista com a então candidata Kamala Harris no programa “60 Minutes”.
A senadora Elizabeth Warren se manifestou nas redes sociais: “A CBS cancelou o programa de Colbert apenas três dias depois de Colbert ter criticado a Paramount […]. A América merece saber se o programa dele foi cancelado por motivos políticos.”
A justificativa “puramente financeira” da emissora
Em seu comunicado oficial, a CBS tentou se distanciar da polêmica, afirmando que o fim do “The Late Show” é uma “decisão puramente financeira em um cenário desafiador no horário noturno”. A emissora enfatizou que o cancelamento “não está relacionado de forma alguma ao desempenho, conteúdo ou outros assuntos do programa”.
Apesar da justificativa, a percepção geral na indústria e entre o público é de que a decisão foi, no mínimo, convenientemente alinhada aos interesses políticos da Paramount, que busca a aprovação federal para sua fusão com a Skydance Media. Como escreveu o ex-repórter de mídia do New York Times, Bill Carter: “Se a CBS acredita que pode escapar sem questionamentos sérios sobre capitular a Trump, eles estão seriamente enganados”.
