Giuseppe Tornatore, o aclamado diretor italiano por trás da obra-prima vencedora do Oscar, Cinema Paradiso, revelou um segredo surpreendente sobre seu processo criativo: a história que emocionou o mundo ficou em gestação em sua mente por 11 longos anos antes que ele escrevesse uma única palavra. A confissão ocorreu durante uma masterclass no Festival Internacional de Cinema de Xangai, onde Tornatore atuou como presidente do júri e compartilhou memórias e reflexões sobre sua carreira.

“Quando fiz meu primeiro filme sobre a Máfia [‘O Professor’], eu já estava elaborando o roteiro de ‘Cinema Paradiso’ na minha mente”, explicou o diretor. “Foram necessários 11 anos de contemplação antes de eu realmente começar a escrever.” Quando finalmente sentiu que a história estava madura, o processo foi incrivelmente rápido: o roteiro ficou pronto em apenas dois meses e meio. “Senti que a história já estava completa na minha mente”, disse. Curiosamente, essa filosofia foi validada anos depois em um encontro com o escritor Gabriel García Márquez. “Ele me disse: quando você começa a criar uma história, não a escreva imediatamente, apenas pense nela — quanto mais você pensa, mais rica a história se torna”, contou Tornatore.

A vida que imita a arte: a origem do filme

A noite, que se seguiu a uma exibição de Cinema Paradiso, serviu para que o diretor mostrasse como o filme é um espelho de sua própria vida. A paixão do jovem Totò pela magia da projeção foi inspirada diretamente na infância de Tornatore na Sicília. “Eu via esses closes gigantes na tela e ficava me perguntando de onde essas pessoas vinham”, lembrou ele sobre sua primeira ida ao cinema, aos seis anos. “Durante o intervalo, quando as luzes se acendiam, essas pessoas desapareciam. Eu me perguntava constantemente: de onde elas vêm e para onde vão?”

Essa curiosidade o levou a fazer amizade com o projecionista local, que, assim como o personagem Alfredo no filme, o ensinou sobre a técnica e a arte da fotografia. Aos 14 anos, o próprio Tornatore já trabalhava como projecionista, aproveitando para estudar edição ao examinar os cortes nas tiras de filme. “Aprendi que a edição de filmes é um trabalho realmente crucial”, disse, aconselhando jovens cineastas a aprenderem múltiplos ofícios, especialmente a montagem, que ele considera essencial e ainda pratica pessoalmente na maioria de seus filmes.

Cinema, princípios e o futuro da arte

Na conversa, Tornatore também abordou sua visão sobre o cinema contemporâneo. Embora otimista com o fato de que o público hoje assiste a muito mais filmes do que há 50 anos, ele fez uma defesa enfática da experiência na sala de cinema. “Eu incentivo os jovens a irem ao cinema. A tela grande e a atmosfera que você encontra lá são completamente diferentes de outros métodos de visualização”, afirmou.

Ao longo da noite, o diretor reforçou a importância de se manter fiel às próprias convicções, tanto na vida quanto na arte, usando as decisões opostas de seus personagens — Totò, que parte em Cinema Paradiso, versus 1900, que decide permanecer no navio em A Lenda de 1900 — como exemplos da necessidade de seguir princípios. Para ele, cada filme é um registro de uma fase de sua vida, e ele não se arrepende de nenhum. “Cada filme que fiz representa uma parte da minha vida”, concluiu, sintetizando uma carreira onde vida e cinema se fundem de maneira inseparável.

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