Criônica: O Sonho da Imortalidade e os Obstáculos Científicos
O conceito de criopreservação humana, popularizado por histórias como a de Walt Disney, que alegadamente teria sido preservado criogenicamente, continua a ser um tema fascinante, mas longe de ser viável. Embora a ideia de “congelar” um ser humano para ser ressuscitado no futuro tenha capturado a imaginação de muitos, as atuais técnicas de criônica ainda estão longe de alcançar tal façanha de forma segura e eficaz.
O Caso de Walt Disney e as Origens do Mito
O mito de que Walt Disney teve seus restos preservados criogenicamente surgiu logo após sua morte em 1966. A alegação foi amplamente desmentida pela filha do magnata, Diane Disney, que afirmou que seu pai foi cremado e enterrado no Cemitério Forest Lawn, em Glendale, Califórnia. O boato sobre a criogenia de Disney se espalhou após um artigo da revista Ici Paris de 1969, atribuindo a história a animadores descontentes com a Disney. Esse rumor deu origem a um dos mitos urbanos mais discutidos em Hollywood: que o corpo de Disney estaria escondido sob o brinquedo Piratas do Caribe na Disneylândia.
O Conceito de Criônica e as Dificuldades Técnicas
A criônica é a ciência que propõe a preservação de corpos humanos com o objetivo de reviver as pessoas no futuro, quando a tecnologia puder curar doenças e até reverter a morte. A prática foi popularizada após a morte de James Bedford em 1967, o primeiro ser humano a ser congelado criogenicamente, após sua cremação.
Entretanto, a criobiologia, ciência que estuda os efeitos do frio sobre os seres vivos, aponta grandes desafios para a preservação adequada dos corpos. Quando um organismo é congelado, a água em suas células forma cristais de gelo, o que pode danificar gravemente os tecidos e órgãos. Para que a criopreservação seja viável, seria necessário evitar a formação de cristais de gelo, algo que ainda não é possível de forma eficaz.
A Vitrificação e os Avanços na Criopreservação
Pesquisadores em criobiologia têm buscado uma solução para esse problema por meio da vitrificação, um processo que utiliza agentes crioprotetores para impedir que o gelo se forme durante o resfriamento. Embora a vitrificação tenha mostrado sucesso em preservar pequenos tecidos e órgãos, como vasos sanguíneos e córneas, ainda não é possível preservar com eficácia um organismo humano inteiro devido à complexidade e ao tamanho do corpo, que contém grandes quantidades de água.
Mesmo que a vitrificação pudesse ser realizada em um ser humano, a dificuldade em descongelar o material sem danos significativos continua sendo um grande obstáculo. Isso se deve à necessidade de aquecer o corpo de maneira uniforme, sem causar o retorno do gelo ou fissuras nos tecidos, o que, até hoje, não foi alcançado.
A Realidade da Criônica e Seus Desafios Éticos
Apesar das promessas, a criônica como praticada atualmente oferece apenas esperanças vazias. O custo mínimo para congelar um corpo é de cerca de 200 mil dólares (aproximadamente 1,1 milhão de reais), e o procedimento não oferece garantias de preservação bem-sucedida. Além disso, o impacto da criopreservação sobre os tecidos e órgãos humanos é destrutivo, o que levanta questões éticas, legais e sociais sobre os benefícios reais da tecnologia.
Para especialistas como Arthur Caplan, professor de bioética na Universidade de Nova York, a criônica ainda é uma “ideia ingênua” que pertence ao campo da ficção científica, e não à ciência. Assim, o sonho da criônica de “enganar a morte” continua distante, com a ciência ainda longe de encontrar uma solução segura para a preservação humana de forma eficaz.
Enquanto isso, a criônica permanece congelada, aguardando um avanço científico que, por enquanto, parece improvável.