A bilheteria do último fim de semana se transformou em um cemitério de filmes de prestígio. Produções aclamadas pela crítica e estreladas por alguns dos maiores nomes do mundo, como Leonardo DiCaprio, Dwayne “The Rock” Johnson e Channing Tatum, fracassaram em atrair o público, expondo uma crise profunda para os dramas adultos em Hollywood e levantando um debate urgente: os espectadores ainda se importam com filmes que não sejam de super-heróis ou grandes franquias?

Mesmo com boas críticas, títulos como “The Smashing Machine” (Johnson) e “Roofman” (Tatum) tiveram desempenhos desastrosos, enquanto o épico “One Battle After Another” (DiCaprio) caminha para um prejuízo de US$ 100 milhões, segundo analistas.

A falta de ‘FOMO’ e a espera pelo streaming

Para os especialistas, o problema é multifatorial. “Esses filmes de prestígio não conseguiram criar um senso de FOMO [Medo de Ficar de Fora] entre o público”, explica o analista de bilheteria Shawn Robbins, do Fandango. “Eles não foram ‘eventizados’ o suficiente.”

Outro fator crucial é a mudança de hábito do consumidor pós-pandemia. Com a janela entre a estreia no cinema e a chegada ao streaming cada vez menor, o público parece ter sido treinado para esperar. “As pessoas passaram a esperar que esses filmes estejam disponíveis em casa muito mais cedo do que costumavam”, diz Robbins.

O prejuízo milionário de ‘One Battle After Another’

O caso mais emblemático é o do aclamado filme de Paul Thomas Anderson, “One Battle After Another”. Apesar de uma arrecadação global de US$ 140 milhões — um número impressionante para um filme original de quase três horas —, o longa precisa de cerca de US$ 300 milhões apenas para empatar. Isso se deve ao seu orçamento de US$ 130 milhões, mais US$ 70 milhões em marketing, e ao acordo de Leonardo DiCaprio, que lhe garante uma porcentagem da bilheteria desde o primeiro dólar. Fontes da indústria preveem um prejuízo de US$ 100 milhões. A Warner Bros., no entanto, contesta a estimativa, afirmando que o filme é valioso para a empresa para além da bilheteria, e que o estúdio teve um ano de grande sucesso com outros títulos.

O risco da nova estratégia da A24 com The Rock

Para o estúdio indie A24, o fracasso de “The Smashing Machine” é particularmente preocupante. O filme, que custou US$ 50 milhões, é parte da nova e mais cara estratégia da empresa de produzir filmes de médio orçamento. Após uma queda brutal de 70% em sua segunda semana, o longa arrecadou apenas US$ 10,1 milhões até agora.

A A24 conseguiu mitigar parte do prejuízo vendendo os direitos de distribuição internacional, o que limita suas perdas a cerca de US$ 10 milhões. No entanto, a jogada pode ter “queimado” a reputação do estúdio com seus parceiros estrangeiros, que arcarão com a maior parte do prejuízo. “Isso é um fracasso épico”, disse um executivo de um estúdio rival à Variety.

A dura realidade: o público prefere o que já conhece

No fim, a crise dos dramas adultos reforça uma tendência do mercado. “Consumidores vão ao cinema poucas vezes ao ano. Eles gravitam em direção ao que conhecem; sequências, prequels e spinoffs, onde é menos provável que saiam decepcionados”, resume o analista Eric Wold. Para Hollywood, a lição parece ser cada vez mais clara: em um mercado competitivo, a aposta em uma propriedade intelectual original é um risco cada vez maior.

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Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

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