
Magnus von Horn não é um cineasta conhecido do grande público e ainda não figura entre os grandes diretores suecos da atualidade, como Ruben Östlund e Daniel Espinosa.
Em A Garota da Agulha, Magnus nos dá uma amostra de como seu cinema só melhora a cada nova produção. Em Suor (2020), o diretor sueco já havia feito um trabalho interessante ao abordar o mundo dos influenciadores fitness. Agora, à frente do longa dinamarquês Indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional, conta uma história que chocou Copenhague em 1919.
Baseado em fatos reais
A trama se passa no período pós-Primeira Guerra Mundial, quando grande parte da Europa estava enfrentando dificuldades econômicas e a Dinamarca passava por um período de instabilidade na economia, com crise na indústria local.
Karoline (Vic Carmen Sonne) é uma operária que aguarda o retorno de seu marido da guerra. Sem dinheiro, ela é expulsa de sua moradia por falta de pagamento. Para piorar, envolve-se com um homem rico que a engravida, a abandona e, além disso, a faz perder o emprego.
Nesse cenário, Karoline faz amizade com Dagmar (Trine Dyrholm), uma mulher conhecida pelos moradores locais por encontrar famílias dispostas a adotar os bebês de mães que não querem criar os filhos.
A princípio, a produção parece contar a vida de Karoline e, de fato, isso acontece, mas o que Magnus realmente quer nos mostrar é como Dagmar era uma assassina cruel, e isso é apresentado sob a perspectiva de Karoline.
O choque causado quando nos são reveladas as reais intenções de Dagmar se torna a cereja do bolo de uma narrativa que começa com o sonho de Karoline de se casar com um homem rico e mudar de vida, mas termina em um pesadelo, à medida que a própria Karoline, e depois a sociedade dinamarquesa, fazem descobertas sombrias sobre os acontecimentos.
O longa é baseado na vida de Dagmar Johanne Amalie Overbye, uma das maiores assassinas em série da Dinamarca. Entre 1913 e 1920, ela matou várias crianças entregues por mães que acreditaram em sua palavra sobre a adoção dos bebês e a promessa de que teriam uma vida melhor.
Realidade monocromática
O filme soa quase como um conto de horror, no qual Karoline se encontra na pobreza, grávida, abandonada por um homem e sem dinheiro, isso em uma época em que o feminismo ainda não havia ganhado força. Esse é um dos principais acertos do roteiro escrito por Magnus em colaboração com Line Langebek Knudsen.
Karoline desiste do marido ao ver o que aconteceu com seu rosto durante a guerra e não quer mais ser sua esposa; ela deseja liberdade e quer ficar sozinha, embora acabe se arrependendo momentaneamente dessa decisão mais adiante.
É perturbadora a forma como Magnus retrata Copenhague, um lugar marcado pela sujeira e pobreza, e o tom em preto e branco, criado pelo diretor de fotografia Michał Dymek, contribui para intensificar a atmosfera sombria da narrativa.
A Garota da Agulha é uma melancólica obra que retrata a realidade de uma época. Não é apenas um filme sobre uma assassina em série, mas também uma história sobre mulheres que tomam decisões que impactam suas vidas e a de terceiros como um todo. No caso de Karoline, isso envolve sua filha. O ato final é de partir o coração, é como se o espectador recebesse um golpe brutal.
Memórias de um Caracol (Memoir of a Snail, Austrália – 2024)
Direção: Adam Elliot
Roteiro: Adam Elliot
Elenco: Jacki Weaver, Sarah Snook, Charlotte Belsey, Agnes Davison, Mason Litsos, Daniel Agdag, Eric Bana
Gênero: Animação, Drama
Duração: 95 min.