Crítica | A Noite Devorou o Mundo – Um Filme de Zumbis Diferente

Uma produção que não deve agradar aos fãs de Walking Dead.

Se há um personagem da cultura pop que vem ganhando cada vez mais espaço em hqs, livros, séries e filmes esse é o zumbi. Hora ou outra aparece algo relacionado a eles e quem é fã desses seres vai gostar de assistir ao longa A Noite Devorou o Mundo. Não é uma produção que estamos habituados a assistir sobre o gênero. É comum vê-los matando, devorando pessoas, e suas vítimas quase sempre que possível passam o tempo todo correndo deles.

A diferença deste bom filme francês é o trabalho que o diretor Dominique Rocher fez. Ele expõe o lado humano do personagem principal em meio a tanto caos. Se em Walking Dead presenciamos a todo instante situações novas e cheias de ação para mover os episódios, aqui encontramos a presença única de um homem (Anders Danielsen) preso em um apartamento de Paris. Ele havia ido buscar objetos pessoais no apartamento da ex-namorada e acaba dormindo por lá. Quando acorda quase toda população da cidade virou zumbi e os poucos que estão vivos precisam fazer algo para sobreviver a essa nova realidade. 

Quem não gosta de filmes “parados” certamente não irá curtir a produção francesa, até porque a ação não é necessária para a construção da narrativa. Não há mortes e rios de sangues que nos habituamos a assistir em produções do gênero e isso que o torna um filme diferente. Seria muito fácil colocar os zumbis matando por matar sem explicação alguma. A ideia do diretor é se aprofundar na mensagem por trás de todo o caos instaurado que em primeiro momento pode parecer brega. Se em Madrugada dos Mortos, Zack Snyder trouxe uma crítica interessante ao consumismo em A Noite Devorou o Mundo há os desafios de se viver sozinho.

De início o protagonista se encontra sozinho, mas com uma motivação que era a de encontrar comida, outras pessoas vivas e tentar sobreviver. Depois de passar muitas semanas no apartamento começa a vir o desespero de não ter com quem conversar, não ouvir nada de diferente que não a própria voz e o som dos zumbis. Esse isolamento é bem trabalhado pelo diretor, cria um ambiente solitário e triste para o protagonista. Ele está livre para fazer o quiser, mas se mantem naquele local como se fosse o único lugar seguro da cidade, acaba por se acomodar com a situação. 

Nada mais atual que trabalhar a solidão em uma época em que as pessoas vivem em casulos, com a facilidade de se comunicar pelo meio digital perdemos um modo de conexão pessoal, deixamos de nos socializar. A situação em que o personagem central se encontra é um resumo do isolamento que as pessoas estão vivenciando nos dias de hoje. 

Chega a ser angustiante sua solidão, tanto que começa a conversar com um zumbi para não ficar louco ou ouvir fitas e a fazer sons para dar a falsa sensação de não estar sozinho, e até a ter alucinações relacionadas com a falta de convívio. Pode não ser um tema nada original, já que muitas produções já trabalharam o silêncio e a solidão, mas o diferencial é a ousadia em fazer isso em um filme de terror ainda mais com essa temática dos zumbis.

A tensão e o terror de se viver sozinho em meio a todo aquele caos é bem explorado, o terror sempre é mostrado pela visão do protagonista. A todo instante surgem novas perguntas ou algo novo que faz movimentar o roteiro, como a hora em que o protagonista tenta resgatar um gatinho. O diretor usa desses pequenos detalhes para criar uma atmosfera sombria e assim continuar mantendo o interesse do telespectador. 

É um trabalho bastante pretensioso de Dominique Rocher que adaptou para os cinemas o livro de mesmo nome do escritor Pit Agarmen. Há sim muitos filmes de zumbis no mercado, mas vale a pena dar uma chance para este bom filme francês.

A Noite Devorou o Mundo (La nuit a dévoré le monde, França – 2018)

Direção: Dominique Rocher
Roteiro: Dominique Rocher
Elenco: Anders Danielsen, Golshifteh Farahani, David Kammenos, Denis Lavant
Gênero: Terror, Thriller
Duração: 94 min

Add a comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sobre o autor

Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

Ler posts desse autor