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Crítica | Ascensor Para o Cadafalso - Perdidos na Noite

Redação Bastidores Redação Bastidores
In Capa, Catálogo, Cinema, Críticas•29 de janeiro de 2018•8 Minutes

Um imenso close-up de Florence Carala, enquanto conversa ao telefone com Julien Tavernier (Maurice Ronet), o seu amante, nos revela tanto os olhos hipnotizantes quanto os traços inesquecíveis de Jeanne Moreau. Momentos depois, a partir de uma câmera que se afasta aos poucos e uma montagem que alterna rapidamente entre os locais em que as duas personagens se encontram, descobrimos os suspiros e as declarações de amor desses dois amantes completamente apaixonados. Por fim, através de uma sequência digna de Alfred Hitchcock, acompanhamos a construção de um álibi e o assassinato que a segue: o marido de Florence é morto a tiros por Julien (o corte para o apontador, insinuando o homicídio, é um sinal da genialidade que nos aguarda). 

É assim, com uma economia de recursos impressionante, que Ascensor Para o Cadafalso se inicia e estabelece, com chocante precisão, não só a sua lógica visual como também os temas que serão abordados nos minutos seguintes. Nas Garras do Vício, de Claude Chabrol, é considerado por muitos críticos especializados e historiadores como o marco inaugural da Nouvelle Vague. Vários motivos justificam essa escolha; o principal deles está relacionado com a proximidade do longa com o formalismo estético e a narrativa do neorrealismo italiano. No entanto, como já foi indicado por outros autores, essa posição poderia muito bem ser ocupada por este filme de 1958 dirigido pelo talentoso Louis Malle (trata-se do seu primeiro longa de ficção).

Muitas das características presentes em Os Incompreendidos ou Acossado — como o retrato de uma juventude delinquente, o casal amoroso vivendo à margem da sociedade, a trilha jazzística, as filmagens em locações reais de Paris etc. — e que seriam consideradas revolucionárias na época em que os dois títulos foram lançados se encontram reunidas em Ascensor Para o Cadafalso. Esta é uma daquelas obras que, desprovida dos preceitos de uma determinada escola estética ou movimento artístico, os antevê e, de certa maneira, anuncia as vanguardas e transformações históricas que fervem no subsolo.

Das muitas razões que justificam essa posição dos historiadores e críticos, a forma como Louis Malle enxerga a trajetória dos dois amantes principais (e também do casal de jovens que rouba o carro de Julien) é a mais óbvia. Inegavelmente, há muito glamour na maneira em que as duas histórias são contadas. É verdade que os filmes da Nouvelle Vague sempre tiveram um charme tipicamente francês; basta ver os longas posteriores de François Truffaut, Jean-Luc Godard (a fase inicial), Claude Chabrol e Éric Rohmer para constatar esse fato. Porém, para um longa inaugurador de um movimento realista, Ascensor Para um Cadafalso talvez tenha glamour demais.

Quase tudo é filmado com fascínio por Malle. No primeiro plano, por exemplo, Moreau surge acompanhada de uma iluminação soft que lhe rodeia e dá ao seu rosto uma atmosfera etérea idêntica à que os diretores de fotografia obtinham para ressaltar a beleza das atrizes hollywoodianas nas décadas anteriores.  O fato de que ela é a cúmplice do assassinato premeditado do próprio marido parece ter pouca relevância. Embora haja uma moralidade no roteiro de Malle e Roger Nimier (o texto é baseado no romance de Noël Calef), às lentes do cineasta e do diretor de fotografia Henri Decaë (um dos maiores da história do cinema francês), são as grandes emoções e a beleza de corpos e rostos os componentes cinematográficos mais importantes.

Desde a mise-en-scène cuidadosamente trabalhada (apesar de começar com um close-up imenso, no restante do filme há sempre uma distância entre os atores e a câmera) até os planos elegantes e simétricos, passando pela montagem que permite o espectador passar um tempo com certos enquadramentos e composições, Ascensor Para o Cadafalso resulta sempre num gozo estético. A intenção por trás parece ser a de referenciar o cinema noir e os filmes norte-americanos, em que o impacto da história é obtido até mesmo quando os crimes e os seus perpetradores são vistos com olhos “favoráveis”.

Entre os atores, Jeanne Moreau é a que mais atrai os olhos de Malle e do público. Em sua maravilhosa autobiografia, intitulada Meu Último Suspiro, Luis Buñuel — que trabalhou com a atriz em Diário de uma Camareira — agradece Malle por ter descoberto o caminhar da atriz. De fato, é impossível desgrudar os olhos da tela nas cenas em que ela está andando pelas ruas de Paris à noite, com os carros, luzes e prédios por detrás. Isso se torna ainda mais encantador quando as músicas de Miles Davis embalam a ação, as quais, além de refletir a sensação de improviso característica dos filmes franceses das décadas de 1950 e 1960, preenchem o todo com formosura.

Aliás, torna-se relevante mencionar que é justamente na junção de todos esses elementos que se cria uma história irresistível na qual amantes caminham perdidamente em busca de sentimentos intensos, os mesmos que parecem inatingíveis em seus relacionamentos, uma vez que crimes são cometidos para reforçar uma paixão que se mostra insuficiente. Assim, a natureza trágica dessa trama é adquirida menos através dos seus elementos internos —  como personagens, situações e conflitos — e mais em razão dos aspectos narrativos. 

Que essas características tenham impedido Ascensor Para o Cadafalso de se tornar, aos olhos dos especialistas, o primeiro filme de um dos principais movimentos artísticos do século XX torna-se, diante das qualidades inegáveis da obra, um mero acidente histórico. Sim, ele poderia estar ao lado de Nas Garras do Vício, mas isso soa pouco relevante perto do impacto que o longa continua tendo nos espectadores mais novos. Assistir ao filme é constatar a influência do cinema hollywoodiano nas produções francesas, o início de transformações culturais profundas e o registro histórico do surgimento de um dos cineastas mais interessantes da segunda metade do século passado. O que mais poderíamos pedir?

Ascensor Para o Cadafalso (Ascenseur Pour L’Échafaud, 1958 – França)

Direção: Louis Malle
Roteiro: Louis Malle e Roger Nimier
Elenco: Jeanne Moreau, Maurice Ronet, Georges Poujoly, Yori Bertin, Jean Wall
Gênero: Suspense
Duração: 91 min.

Redação Bastidores

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