Crítica | É Assim que Acaba mostra que qualquer um merece final mais ou menos feliz

Em “É Assim que Acaba”, entretanto, o primeiro é um pai carinhoso, que sofre de certo “destempero”, e o segundo é tão rico, charmoso e tem um penteado tão caprichado
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Recorte em cinema é tudo e, como se sabe, você pode fazer um filme sobre literalmente qualquer coisa e dar a perspectiva que desejar. A Vida é Bela é talvez o exemplo mais emblemático, mas ele vem à mente por ser um caso radical – na verdade, você pode contar uma história horrenda e dar a ela ares de primavera, ou vice-versa, e este é de fato um dos encantos da narrativa cinematográfica.

Dizem que Justin Baldoni e Blake Lively – respectivamente, ator-diretor e estrela – não se deram lá muito bem nos bastidores de “É Assim que Acaba”, libelo ultrarromântico adaptado do best-seller de mesmo nome. Mas isso pouco importa porque, na tela, a sintonia deles é bastante evidente e o casal funciona – o que também termina por aumentar o estranhamento que sobrevém em algum momento.

É assim que acaba toca delicadamente em temas sensíveis

A trama segue duas linhas do tempo para contar a história de Lily Bloom (Lively), uma garota que cresceu no Maine e vai morar em Boston para realizar seu sonho de ter sua própria floricultura. Ao retornar à cidade natal para o enterro do pai, as lembranças dolorosas de um caso de amor adolescente ganham vida, enquanto no tempo presente ela se envolve com um médico rico e misterioso vivido por Baldoni.

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A partir daí, o que determina os rumos que o filme toma é o recorte escolhido: ele poderia virar um suspense, um drama social ou até um filme de terror. Mas o objetivo aqui está longe de tudo isso, e se concentra em embalar devaneios idealizados a respeito dos relacionamentos amorosos e, para não deixar a “peteca cair”, vale (quase) tudo.

“É Assim que Acaba” é um título que não faz jus ao nome original, que dá mais especificamente a ideia de pôr fim a uma história triste, quase uma “tradição familiar”, que pode se repetir. Uma produção bem acabada que, se não traz nada de muito novo, consegue abordar temas delicados com sutileza (até exagerada) e sensibilidade, sem abrir mão do realismo, por um lado, mas também do romantismo, que é o que realmente a audiência desse tipo de conteúdo está procurando. 

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Se você não quer spoilers, pare de ler agora.

A observação inevitável que se faz a respeito do filme é como ele aborda o tema do abuso e da violência contra a mulher no ambiente doméstico de maneira levemente condescendente, tanto em relação ao pai de Lily, quanto ao protagonista vivido por Baldoni. Em um drama social ou “filme denúncia”, ambos os personagens seriam caracterizados como monstros – o que, de fato, não está distante do que eles realmente são, ao menos em suas vidas privadas.

Em “É Assim que Acaba”, entretanto, o primeiro é um pai carinhoso, que sofre de certo “destempero”, e o segundo é tão rico, charmoso e tem um penteado tão caprichado que o fato de ele tentar matar a esposa três vezes acaba em segundo plano – ele é até homenageado no final com o nome de sua filha que referencia o irmão falecido. Este é um aspecto curioso e irônico do filme e que levanta certas questões, como se o protagonista fosse pobre e se vestisse mal – para ficar numa caracterização caricatural – ele se safaria tão facilmente das violências que perpetra?

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Mas aí estaríamos partindo os corações do público ávido por histórias românticas que motivem a resiliência diante das dificuldades da vida, e “É Assim que Acaba” quer demonstrar que, se acaba bem até para espancadores de mulheres, até o mais infeliz dos espectadores parece ter a chance de um final feliz.

Sobre o autor

Daniel Moreno

Cineasta, roteirista e colaborador esporádico de publicações na área, diretor do documentário “O Diário de Lidwina” (disponível no Amazon Prime e ClaroTV), entre outros.

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