Crítica | Homem de Ferro 3 – Uma conclusão decepcionante

om espetaculares cenas de ação que impressionam pela coreografia de simultâneas armaduras trabalhando juntas, Homem de Ferro 3 é decepcionante

Quando Robert Downey Jr revelou ser o Homem de Ferro no primeiro filme do personagem, nascera um novo ícone do cinema moderno. Cinco anos depois (nossa, já faz tudo isso?) e um universo de quadrinhos estabelecido nas telas, Homem de Ferro 3 surge para continuar a grandiosa saga da Marvel e acaba por trazer um inesperado clima de conclusão. Mesmo que empalideça diante dos filmes já lançados pelo estúdio, explora rumos inéditos de seu carismático protagonista.

A trama começa com Tony Stark sofrendo com ataques de ansiedade e uma irreparável paranóia, consequências dos eventos de Os Vingadores – The Avengers. O perigo novamente bate à sua porta (literalmente) quando reencontra figuras de seu passado (os personagens de Guy Pearce e Rebecca Hall), tendo que lidar também com a presença do terrorista Mandarim (Ben Kingsley), que ameaça sua vida pessoal e a segurança de sua amada Pepper Potts (Gwyneth Paltrow).

Com o sucesso bilionário da superequipe da Marvel Studios (que já botou a concorrente DC Comics pra correr com o vindouro Liga da Justiça), ficou com o diretor e roteirista Shane Black a tarefa de assumir o cargo de Jon Favreau (que reprisa o papel de Happy Hogan, dessa vez trazendo alguns – muitos – quilos a mais) e entregar um filme que ficasse à altura dos anteriores. Como peça de um conjunto, o longa faz pouco sentido pois, mesmo reparando o principal defeito de Homem de Ferro 2 ao evitar as referências masturbatórias a uma nova reunião dos Vingadores, apresenta incongruências dentro do próprio universo: se o presidente dos EUA encontra-se em perigo, por que não convocar o Capitão América e os agentes da SHIELD? Claro que este é um filme do Homem de Ferro, mas se a Marvel apostou tanto nessas histórias interligadas, deveria ao menos ter exigido de seus roteiristas uma justificativa que comprove a ignorância de Nick Fury (Samuel L. Jackson) diante da situação.

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E os problemas são ainda maiores se vermos Homem de Ferro 3 isoladamente. Tomando como base uma série dos quadrinhos batizada como Extremis, o roteiro de Drew Pearce e do próprio Black decepciona ao apostar em antagonistas extremismente extremamente estúpidos, que consiste, em seres humanos geneticamente modificados que têm a habilidade de cuspir lava e até regenerar membros – figuras absurdas até mesmo se pensarmos que Stark já enfrentou chicotes elétricos e um exército de alienígenas. O núcleo de história também se perde com os novos personagens: a botânica de Rebecca Hall é completamente desinteressante e pouco faz para mostrar-se relevante; ao passo em que Guy Pearce surje inspirado na pele Aldrich Killian, uma figura vilanesca cativante, mas cujos objetivos jamais são revelados totalmente.

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Mas o que os fãs realmente queriam ver era a estreia daquele que prometia ser o mais perigoso oponente do herói: o Mandarim. Vivido por um versátil Ben Kingsley, o terrorista e seus métodos de exibição midiática são um eficiente retrato do atual contexto de “guerra ao terror” dos EUA (a comparação entre o país e um biscoito da sorte é brilhante) sem recorrer ao ufanismo, mesmo tendo um herói batizado como Patriota de Ferro (nova armadura trajada por Don Cheadle), fonte constante de merecidas piadas e citações irônicas do tipo: “Ele agora se chama Patriota de Ferro, caso as novas cores tivessem sido muito sutis”. Aliás, a subtrama do coronel James Rhodes consegue ser muito mais empolgante do que aquela do personagem-título.

Ainda que se beneficie do ótimo trabalho de Robert Downey Jr, que surpreende ao explorar facetas de desespero de seu Tony Stark, os roteiristas o enfiam em uma investigação tediosa pelo estado americano do Tennessee que conta até mesmo com um inusitado parceiro mirim para o sujeito – que na ausência de suas armaduras, transforma-se num verdadeiro McGyver ao invadir uma mansão com armas construídas a partir de mercadorias de uma loja de departamentos. Isso sem mencionar as coincidências: de todas as 6,456 milhões de pessoas que Stark poderia encontrar no Tennessee, ele acaba por se abrigar justamente na oficina de um mecânico…

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Com espetaculares cenas de ação que impressionam pela coreografia de simultâneas armaduras trabalhando juntas, Homem de Ferro 3 é decepcionante em quesitos de trama. Surpreende pelas mudanças no protagonista e pelos rumos inusitados que este poderá seguir a partir de agora, mas mostra-se o mais fraco da trilogia – se é mesmo uma conclusão, não é na melhor nota do personagem.

Homem de Ferro 3 (Iron Man 3, EUA – 2013)

Direção: Shane Black
Roteiro: Shane Black e Drew Pearce
Elenco: Robert Downey Jr., Don Cheadle, Gwyneth Paltrow, Ben Kingsley, Guy Pearce, Rebecca Hall, Jon Favreau, Paul Bettany 
Gênero: Aventura
Duração: 131 min

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Sobre o autor

Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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