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Crítica | Homicídio - O Fantasma da Identidade

Matheus Fragata Matheus Fragata
In Capa, Catálogo, Cinema, Críticas•4 de junho de 2018•8 Minutes

Raramente os longas de ação policial de 1990 abordavam questões profundas sobre a natureza dos próprios protagonistas. Muitos inspirados por uma retomada e renovação do noir clássico e também pela onda de violência perpetrada principalmente em Nova Iorque, mas em quase todos EUA, havia uma abordagem de questionamento do sistema. Isso obviamente explodiu com Se7en, clássico moderno de David Fincher que jogou os olhos de diversos produtores para o potencial adormecido destes então chamados neo noirs.

Entretanto, já em 1991, em conjunto com outro filme policial fantástico, O Silêncio dos Inocentes, o prestigiado roteirista David Mamet ousaria ir a temáticas raramente exploradas em uma jornada inesperadamente profunda para um estudo de personagem em seu terceiro filme como diretor, Homicídio. Apesar de pouco conhecido ao público casual, é preciso jogar mais gracejos a Mamet a fim de populariza-lo, afinal suas histórias são realmente boas e acessíveis.

O Não-Pertencimento

Homicídio é uma grande surpresa para o espectador assim como se tornou para o próprio Mamet que antes visava adaptar uma obra policial popular, mas acabou se afastando tanto do texto original que criou uma narrativa totalmente inédita. O espectador é convidado a acompanhar a rotina pouco prazerosa do detetive de homicídios Bobby Gold (Joe Mantegna) e seu parceiro Tim Sullivan (William H. Macy) que se encontram em um verdadeiro desafio após falharem na captura de um assassino de policiais. Com o homem foragido e muita pressão do departamento, Bobby acaba se envolvendo por acidente em outro assassinato: uma senhora judia morta sob circunstâncias muito suspeitas.

Removido do caso do assassino de policiais que prometia uma chance real de promoção, Bobby fica preso em uma investigação indesejada que o concentra no cerne da comunidade judaica local o forçando a vasculhar antigas feridas sobre a sua própria fé, afinal ele próprio também é judeu.

Mamet é um roteirista cuidadoso e logo no começo da obra já joga diversas migalhas de temas pertinentes que são retomados posteriormente, ajudando a sintetizar todo o complexo conflito que Bobby passará. Por isso, é de suma importância que o espectador esteja atento na miríade de diálogos que, em primeiro momento, parecem supérfluos ou simplesmente banais, retratando as conversas entre os policiais.

As rusgas na instituição são demonstradas através da dureza do trabalho cotidiano, limando a gentileza em qualquer nível criando um sistema perpétuo de infelicidade e pequenas opressões que retroalimentam preconceitos diversos. A abordagem pessimista não para por aí, afinal até mesmo Bobby, o protagonista, possui tons cinzentos sobre a falta de tato com terceiros.

Apesar da questão policial ser importante, ela passa longe de ser central. Até mesmo elementos raciais como a busca pelo homicida original é escanteada para dar vazão a essa inusitada jornada de autodescobrimento que Bobby passa a contragosto ao ser obrigado a conviver com a comunidade judaica. É curioso que Mamet, em questão de poucas cenas, já elimina completamente hipóteses de um romance – coisa que era de grande importância em noir clássicos.

O roteirista/diretor ilustra perfeitamente como Bobby é um alienado nas duas comunidades nas quais deveria estar inserido: na policial e na judaica. A policial renega melhores oportunidades e a judaica o vê como elemento externo já que é um judeu não-praticante que desconhece preceitos básicos da religião. Sua falta de empatia de primeiro momento também mostra como Mamet pretende criar um ciclo de hostilidades que no final prejudicam de modo agravado o primeiro elemento.

Centrado na busca sobre quem matou a senhora judia, incluindo com o auxílio de algumas conveniências narrativas descaradas, Bobby avança em um mistério mais perturbador negligenciado pelo departamento policial. Sem maiores revelações, é justo apontar que Mamet é excepcional ao enfim contextualizar comentários e ações de Bobby nesse momento do longa.

O espectador passa a compreender totalmente uma dor anestesiada do detetive sobre seu sentimento de não-pertencer e de agradar ao opressor que sempre o repudiará na vã esperança de ser aceito em comunidade. É um conflito interno que pode parecer bobo para o espectador, mas o roteirista apresenta tudo de modo tão engajador que é impossível perder o interesse pela jornada de Bobby.

O interesse pela subversão e desconstrução do gênero policial também perdura com as conclusões da obra. Independente das escolhas que o protagonista toma, seu fim sempre de condenação e infelicidade. Dividido por uma escolha ética muito cinzenta entre duas entidades que nunca realmente o ampararam, o protagonista entra em um vórtice autodestrutivo perigoso e inescapável. Bobby é um homem falho em quase todos os sentidos.

A Destruição de um Homem

Por ser principalmente um roteirista, David Mamet não se esforça em criar imagens complexas na direção ou até mesmo de tornar a câmera uma voz ativa para sua história na grande maioria das cenas. Homicídio é um longa cinematográfico apesar de tudo, a paleta de cores monocromáticas e o constante jogo de sombras evocam o sentimento noir, além do espectador ser presenteado em momentos pontuais com algo verdadeiramente poderoso.

A melhor cena do longa, perturbadora e crua, não apela para nenhum tipo de violência gráfica. O homicídio que dá título ao longa mostra a cara através de símbolos muito conhecidos pelo espectador. Símbolos verdadeiramente desprezíveis que conseguem maquinar emoções fortes refletidas diretamente no desencanto do protagonista. Mamet, sabiamente, depois de explodir a emoção em seu filme, então maquina o outro lado, mostrando que no jogo do poder, o maniqueísmo se torna um conceito falho. Bobby se encontra em uma situação que vai além do seu polícia e ladrão cotidiano, o levando a um estado pleno de confusão mental que lhe custará preços altíssimos.

Por conta de um texto tão redondo e sábio em ponderar sobre questões sociais sobre criminalidade que são, de fato, ignoradas em grande escala, além de oferecer um dos panoramas mais intensos sobre o estudo de personagem, é fácil afirmar que estamos diante de um verdadeiro filmaço. É o que dizem: um roteiro ótimo salva uma direção medíocre.

Homicídio (Homicide, EUA – 1991)

Direção: David Mamet
Roteiro: David Mamet
Elenco: Joe Mantegna, William H. Macy, Vincent Guastaferro, Jack Wallace, Charles Stransky
Gênero: Crime, Drama
Duração: 104 minutos.

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Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

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