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Crítica | Moonlight: Sob a Luz do Luar

Lucas Nascimento Lucas Nascimento
In Catálogo, Cinema, Críticas•22 de fevereiro de 2017•9 Minutes

Durante diversos momentos de Moonlight: Sob a Luz do Luar, o protagonista Chiron é questionado por outros personagens sobre sua identidade: sobre quem de fato é, sobre como ele precisaria decidir o tipo de pessoa quem seria na vida, e que isso deveria vir de sua própria índole; não daqueles ao seu redor. Ao longo de três atos distintos, Barry Jenkins parte para um estudo de personagem fascinante e belissimamente executado. Mas, e isso pode ser analisado como demérito ou qualidade, eu não sei quem é Chiron.

Partindo do argumento de Tarell Alvin McCraney e do roteiro do próprio Jenkins, toda a trama gira em torno de Chiron, que é interpretado por Alex Hibbert em sua infância, Ashton Sanders na adolescência e Trevante Rhodes durante a fase adulta, todos os três períodos no qual a narrativa é dividida. Nessa passagem de tempo, vemos a criação sofrida de Chiron em um bairro pobre de Miami, a relação complicada com sua mãe viciada (Naomie Harris) e a descoberta de sua homosexualidade, que o torna alvo de agressões e bullyings na escola. Os únicos que realmente contribuem para a formação do rapaz são o traficante Juan (Mahershala Ali), sua namorada Teresa (Janelle Monáe) e o amigo Kevin (Jaden Piner, Jarrel Jerome e André Holland, em seus três períodos), que é seu primeiro interesse amoroso.

É impossível não levantar comparações do projeto com Boyhood: Da Infância à Juventude, épico indie de Richard Linklater onde acompanhávamos a vida e o crescimento de um menino ao longo de 12 anos de material. É uma semelhança que pára por aí, já que o filme de Barry Jenkins estabelece uma separação estrutural entre cada período, além de trocar os atores para cada personificação do protagonista, que por sua vez é uma figura radicalmente diferente daquela interpretada por Ellar Coltrane. Todo o contexto e ambientação também é diferente, com o enfoque na perigosa criação no subúrbio de Miami, um elenco todo negro e uma direção muito mais estilística e provocadora do que a de Linklater, além de ser muito mais perturbador e depressivo; mas, acima de tudo, humano.

Ainda mais seguindo a polêmica do Oscars So White em 2016, a onda de racismo nos EUA e a eleição de Donald Trump, é corajoso que vejamos uma obra desse teor e que aborde diversos tabus dentro do cinema americano, especialmente em seu retrato da homossexualidade em um ambiente do qual não estamos acostumados a ver; chega a ser uma desmistificação, de certa forma, da figura do gangbanger: a figura imponente e durona de Chiron em sua fase adulta é algo que remte ao rapper 50 Cent, e vê-lo abraçar a sensibilidade e a vergonha de uma situação delicada como essa é algo realmente poderoso, em um desempenho absolutamente sensível e multifacetado de Trevante Rhodes; assim como ver dois adolescentes negros com um dialeto típico da região, composto de gírias, palavrões e outros termos, compartilhando uma noite inquestionavelmente romântica em uma praia – o que também é desafiador e gera performances genuínas de Ashton Sanders e Jharrel Jerome.

Os diálogos de Jenkins são dos mais simples possíveis, o que acaba gerando um certo clichê quando acompanhamos o óbvio bullying escolar e toda a reciclagem temática do núcleo da mãe viciada, mas que ao menos ganha uma boa catarse em sua resolução e força graças à perturbadora performance de Naomie Harris. O texto ganha alguma substância quando o personagem Juan está no meio, que acaba tornando-se uma espécie de figura paterna para o protagonista e introduz a questão da identidade na história. A cena em que tenta delicadamente explicar a Chiron o que significa a palavra “bicha” é um ótimo momento, e que termina com uma sutil inversão de poder quando o jovem lhe pergunta se vende drogas como ofício – uma pergunta que o desarma e rende uma resposta envergonhada, admitida, em apenas um dos ótimos momentos de Mahershala Ali no longa.

Mas é mesmo com o visual que Barry Jenkins se mostra um talento ímpar. Durante uma história contada por Juan para Chiron, ele comenta como uma idosa cubana comentava que “quando um negro fica à luz do luar, ele fica azul”, e a partir dessa frase altamente simbólica (que sabiamente também é usada no título), a estética do filme abraça a cor azul de forma sutil, mas impactante. Por exemplo, os detalhes azuis nos uniformes escolares, a mochila de Chiron, a invasão da cor em pilastras, portas e janelas de um corredor durante o momento decisivo na vida do Chiron adolescente até a cena final, onde um dos personagens deliberadamente troca sua camisa branca por uma azul. É um cuidado preciso da direção de arte e dos adereços, que são sábios em não trazer nenhum elemento azul na sufocante casa de Chiron.

A câmera de Jenkins é fluida e mergulha o espectador naquele universo, como no longo plano que abre o filme ao praticamente “dançar” entre os personagens enquanto cineticamente nos apresenta ao ambiente da história e à boca de fumo, usando uma estratégia similar para criar tensão e antecipação quando um dos bullies escolhe sua vítima em meio a uma multidão, nos jogando em infinitas panorâmicas que rodeiam o agressivo personagem. Os planos mais contemplativos e que quebram o eixo ao sugerir uma abordagem mais sensitiva a algumas cenas são impactantes, como uma troca de olhares entre Chiron e Kevin na praia ou o denso plano que traz sua mãe gritando diretamente para a câmera, sem som.

Então voltamos à questão que o roteiro tenta responder ao longo de seus três atos: quem é Chiron? É curioso notar como sua fase adulta traz fortes influências de Juan, desde a touca preta, os dentes de metal e a carreira infeliz como traficante, já nos deixando claro que o jovem usou sua figura paterna mais forte como inspiração para sua própria identidade. O fato de não sabermos quem é Chiron ou qual é a motivação que o mantém seguindo é um fator interessante e que deve agradar outros observadores, mas que pessoalmente me provoca um sentimento de vazio e subjetividade: não consigo me importar com o personagem, com exceção dos momentos em que a mão de Jenkins interfere para gerar empatia ou suspense. 

Moonlight: Sob a Luz do Luar é uma história impactante e familiar, mas que ganha força graças ao poderio técnico e narrativo de Barry Jenkins, que explora cantos e raízes de um contexto que raramente é explorado no cinema americano. Não só sua câmera é infalível, o elenco perfeitamente dribla e nos faz ignorar os clichês da história, tornando esta uma experiência memorável.

Moonlight: Sob a Luz do Luar (Moonlight, EUA – 2016)

Direção: Barry Jenkins
Roteiro: Barry Jenkins
Elenco: Alex Hibbert, Ashton Sanders, Trevante Rhodes, Mahershala Ali, Naomie Harris, Janelle Monáe, Jaden Piner, Jarrel Jerome, André Holland
Gênero: Drama
Duração: 111 min

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Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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