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Crítica | A Mulher do Dia - Um Filme do Passado que veio para o Futuro

Matheus Fragata Matheus Fragata
In Capa, Catálogo, Cinema, Críticas•16 de fevereiro de 2018•12 Minutes

O debate do cinema contemporâneo hoje não consegue mais explorar sobre a qualidade dos filmes, de suas histórias, da estética, entre outros elementos que tornam um filme, Cinema. Os espectadores estão preocupados em ver se o longa consegue ter uma moral fixa que não ofenda quaisquer minorias, o máximo possível de diversidade, além do uso sempre positivo de estereótipos de outrora.

É um tanto engraçado notar essa preocupação fiscalizadora de hoje quando um filme de 1942 conseguiu trazer elementos que conseguem atender algumas demandas desse novo “olhar” sobre cinema. A Mulher do Dia, um dos clássicos de George Stevens, é um filme fora da curva para a Hollywood Clássica, um período no qual a indústria era tão apegada em reiterar a superioridade moral do american way of life.

Dias Incríveis

Com o mundo em plena Segunda Guerra Mundial, temendo pela perda de todas as liberdades nas mãos dos nazistas, não iria demorar nada para Hollywood começar a entregar filmes que elevassem bastante a moral americana – mesmo que os EUA só participassem efetivamente da Guerra a partir de 1944.

Mesmo que diversos dramas retratassem com eficiência o sacrifício das vítimas da Guerra, era totalmente incomum que um filme buscasse discutir abertamente o Feminismo – se é incomum hoje, imagine em 1940. O que torna A Mulher do Dia tão interessante é justamente essa característica que o destaca dentre todos os filmes dessa conturbada década.

O trabalho é tão bem-feito que o roteiro de Ring Lardner Jr. e Michael Kanin venceu o Oscar em 1943. Basicamente, como todos os grandes filmes da época, muitas qualidades são concentradas na história extremamente verborrágica com diálogos bem construídos. Aqui, temos a jornada de Tess Harding (Katherine Hepburn), uma jornalista consagrada mundialmente pela qualidade indubitável de seus importantes artigos sobre diversos assuntos, encontrando o amor com Sam Craig (Spencer Tracy), um jornalista de esportes extremamente simples.

A apresentação de ambos se baseia no contraste que segura muito bem o primeiro ato do filme. Craig e Harding tem conflitos intensos sobre o que cada jornalista julga importante em seu trabalho, menosprezando o papel social que ambos têm com o público. Esse choque de ideologias traz o clássico arco que mostra os dois conhecendo as esferas de trabalho de um do outro. Como a comédia é bastante concentrada no primeiro ato, essas descobertas geralmente são constrangedoras, mas sempre para Craig.

Enquanto Harding se diverte e compreende com rapidez as regras dos jogos que Craig a convida, o jovem repórter sofre nas reuniões com diplomatas que conversam em inúmeros idiomas – dos quais Tess domina com bastante fluência, ou nas reuniões sobre emancipação feminina na América. Curiosamente, isso nunca é posto como ridículo pelos roteiristas. Harding é uma virtuosa completa no trabalho e serve como um ícone de inspiração para diversas mulheres buscarem a independência profissional, abandonando o modelo de dona de casa pregado pelo american way of life.

Com uma mulher tão incrível e fascinante, Craig se apaixona, assim como Harding em encontrar um homem que consiga aceitar bem o ritmo frenético de sua vida. Em questão de pouco tempo, eles se casam e os problemas começam a surgir. Os roteiristas já deixam o caminho praticamente pronto para os conflitos que o casal sofre no segundo ato, apenas reforçando como a vida profissional extrema de Harding não a permite viver o casamento de modo pleno.

Logo, há um trabalho fascinante para criar uma antagonista na figura de Harding, sem nunca precisar apelar a qualquer clichê boboca de guerra dos sexos. Com os dois morando juntos, Craig passa a se sacrificar mais pelo casamento, se mudando para o apartamento de Tess, além de respeitar as inúmeras viagens que esposa precisa realizar para o trabalho. A partir de situações absurdas, mas críveis para aqueles personagens, vemos como Tess pode ser uma mulher egoísta, colocando sua glória profissional sempre em primeiro lugar.

São diversas situações que Craig tenta superar até uma discussão final que exibe todo o despreparo de Tess no trato humano com seu marido e com as outras pessoas que a cercam, incluindo a própria família. Aliás, o pai e a “tia” de Tess tem um papel importantíssimo para encaixar uma poderosa catarse na protagonista. A insatisfação de Craig também é tratada com cuidado, evitando demonizar Tess. Apenas vemos que ele está insatisfeito em nunca poder aproveitar seu tempo com a esposa.

Infelizmente, o final do longa é julgado de modo bastante preconceituoso pelos espectadores, o taxando de misógino. Entretanto, é bastante claro que essa interpretação é equivocada por uma característica boba do filme em resgatar o tom cômico do primeiro ato, já que o drama é bastante intenso no miolo do filme. De modo lógico e também bastante justificado pelo filme, vemos Tess tentando se encaixar no modelo de dona de casa perfeita que ela julga ser o que Craig procura – ou seja, a catarse da mulher é bastante única, pois ela não entende praticamente nada do que havia sido dito antes.

Por isso, temos um trecho muito longo exibindo a completa falta de dotes da mulher com a cozinha ao preparar um café da manhã surpresa para Craig. É aqui que a mensagem do filme fica ainda mais forte, explorando como a força do matrimônio pode trazer equilíbrio na vida do casal. Craig não quer que Tess sacrifique sua vida profissional, apenas deseja que ambos consigam ter uma vida normal, dividindo e celebrando as conquistas de cada um. De modo subjetivo, vemos que aquela loucura profissional da mulher não permite nem mesmo que Tess consiga ter uma vida para si mesma, já que tudo é engolido pelo trabalho.

Sem ofender nenhum dos lados, colocando a importância da mulher no cenário profissional, além desconstruir a moral absurda do american way of life, os roteiristas criam uma história simplesmente memorável que nem parece pertencer aos anos 1940 de tão atual que consegue ser. Ainda mais hoje que a vida profissional é sempre colocada em primeiro lugar para ambos os sexos.

Um Mestre Limitado

Não existem dúvidas que George Stevens seja um excelente profissional. O prolífico diretor era um dos favoritos para encabeçar produções importantes, se portando como um ótimo faz tudo que compreendia muito bem as minúcias do sistema de estúdio que imperavam com muita força na época.

Stevens sabia que era limitado por diversos elementos como a problemática do peso da câmera e da limitação dos cenários em estúdios compartilhados. Mesmo que tenhamos algumas cenas externas, o diretor as falseia encaixando os atores em um plano distinto construído dentro de um estúdio. Com o peso do maquinário necessário para montar uma cena, não havia a menor possibilidade de realizar algo visualmente mais atrativo, ainda mais em um filme de orçamento modesto concentrado no talento dos atores na troca de diálogos.

Essa certamente é uma das maiores forças do diretor em unir tão bem os talentos de Hepburn e Tracy que apresentam uma química tão fantástica que gerou uma parceria futura de mais oito filmes. Os dois carregam o filme inteiro com performances espetaculares sem a necessidade de apelar a caricaturas ou quaisquer exageros. O contraste do descontentamento de Tracy com a expressão sossegada de Hepburn é simplesmente impagável.

O curioso é que Stevens tem plena consciência da limitação cinematográfica técnica que atinge seu talento. Nunca podendo realizar um plano reverso, sempre obedecendo a um eixo teatral, movimentando a câmera de modo sempre simples, Stevens oferece uma dinâmica de montagem bastante acelerada para a época trazendo novos planos, sempre com a hierarquia bem definida, em questão de poucos segundos. Tudo isso para dinamizar o ritmo do filme que realmente é bastante fluído.

O único ponto que pesa negativamente para a direção de Stevens é o clímax da obra. Além da piada ser extensa fora dos limites do saudável, a duração da cena, com uma dinâmica cafona, tira muito tempo de exibição que poderia ser aproveitado com outras que mostrassem, enfim, a conquista do equilíbrio por Tess, conseguindo conciliar o casamento com o sucesso profissional. Por conta dessa piada boba, o filme termina de modo abrupto, sem abandonar o clichê do beijo final.

Troca de Papéis

A Mulher do Dia não é a melhor obra de George Stevens, obviamente, mas se trata de um longa simplesmente visionário que conseguiu trazer uma protagonista feminina independente sem apelar para estereótipos pejorativos, respeitando as características da mulher trabalhadora, mas exibindo que o equilíbrio sempre é a solução para salvar todos os relacionamentos.

Muito mais do que um filme de piadas bobas com as infames “trocas de papéis”, temos aqui um clássico esquecido que carrega uma mensagem muito valiosa para hoje e, muito provavelmente, para sempre.

A Mulher do Dia (Woman of the Year, EUA – 1942)

Direção: George Stevens
Roteiro: Ring Lardner Jr., Michael Kanin
Elenco: Katherine Hepburn, Spencer Tracy, Fay Bainter, Reginald Owen, Minor Watson, Dan Tobbin
Gênero: Comédia, Drama
Duração: 114 minutos.

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Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

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