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Crítica | O Grande Golpe

Redação Bastidores Redação Bastidores
In Catálogo, Cinema, Críticas•27 de abril de 2017•8 Minutes

Uma das principais críticas direcionadas ao corpo de trabalho de Stanley Kubrick é a de que os seus filmes são frios ou racionais demais. Essa recepção negativa existe tanto por parte do público em geral quanto por parte dos críticos e cineastas. Jacques Rivette, o célebre diretor francês da Nouvelle Vague, disse certa vez que Kubrick “era uma máquina, um mutante, um marciano” e que “ele não tinha sentimento humano algum”. No entanto, se as suas obras mais famosas possibilitam esse tipo de impressão, são os filmes realizados ainda no começo da carreira que mostram um coração pulsante por detrás de cada frame. Glória Feita de Sangue e O Grande Golpe são os dois maiores expoentes dessa fase inicial.

O filme de 1956 conta a história de um complexo plano de roubo a um hipódromo idealizado e perpetrado por um grupo heterogêneo de ladrões. Estes preveem cada uma das etapas para que tudo saia de acordo com o planejado, mas a partir do momento em que as idéias começam a ser colocadas em prática uma série de eventos inimagináveis entram em ação e põem o sucesso da empreitada em risco.

Embora Kubrick estivesse dando os primeiros passos, a sua direção neste filme é surpreendentemente segura. É comum que diretores intelectualmente voluptuosos busquem fazer malabarismos com a câmera nos seus primeiros trabalhos, mas, no caso do terceiro longa-metragem de Kubrick, o que se tem é um diretor consciente de cada elemento em cena e rígido na composição dos quadros e na hora de estabelecer a movimentação dos atores. Um exemplo dessa destreza é o primeiro diálogo entre Sharry Peatty (Marie Windsor) e o marido, George Peatty (Elisha Cook), no qual a distância que a câmera do diretor mantém dos dois ilustra o abismo que separa o casal e a opção de colocar em boa parte do tempo Sharry no lado direito (sempre o mais forte do quadro)  enquanto George ocupa o lado esquerdo ou a periferia do plano é essencial para mostrar o poder emocional e psicológico que a esposa exerce sobre o marido (Kubrick acerta também na escolha dos atores, já que Marie Windsor é fisicamente superior à Elisha Cook).

O diretor é igualmente competente no trabalho que realiza ao lado do montador e do diretor de fotografia. A montagem alternada (porém com quebra na linearidade do tempo) usada brilhantemente durante o assalto serve tanto para ajudar o espectador a se localizar na sucessão de eventos (há o auxílio de aparições recorrentes de outros personagens e da locução da corrida para surtir esse efeito) quanto para criar a tensão necessária.  E no que diz respeito à cinematografia, ao investirem em sombras e contrastes, Kubrick e Lucien Ballard não só flertam com o noir (O Grande Golpe é considerado por muitos críticos como um legítimo filme noir, mas isso é um erro, pois trata-se claramente de um heist movie) como determinam a ambiguidade moral dos personagens.

Aliás, essa dubiedade dos personagens é corroborada constantemente pelo roteiro escrito pelo próprio diretor, ao lado de Jim Thompson (responsável pelos diálogos), a partir de um livro de Lionel White. Percebam como o sujeito contratado para atirar num dos cavalos de corrida surge em cena acariciando docemente um filhote de cachorro e como há certa “nobreza” em alguns dos motivos que levam determinados personagens a cometerem o crime (um desses personagens quer o dinheiro para cuidar da esposa moribunda). Além disso, há a breve porém inesquecível aparição do lutador Kola Kwariani, cujo personagem esconde atrás dos músculos e da voracidade física a alma de uma poeta e filósofo. É um outro acerto do roteiro o tempo dado para que cada um dos personagens (embora uns apareçam mais que outros) surja em cena e tenha a oportunidade de justificar a sua participação no roubo. Isso faz com que o público se envolva mais emocionalmente com a narrativa.

No entanto, é no pessimismo do filme que Kubrick parece estar inteiramente desnudo. Assim como a personagem que, logo após ser baleada, diz: “Uma piada de mau gosto sem nenhuma lição de moral”, o cineasta parece acreditar nessa fatalidade e, aparentemente, na inutilidade dos nossos esforços. Nesse sentido, o uso da máscara de palhaço durante o roubo passa a adquirir um significado muito mais simbólico, e a insistência do roteiro em construir boa parte do filme sobre cenas de longas conversas é imensamente potencializada pela imagem do papagaio preso na gaiola nos momentos finais.

Não obstante, a narração em off usada em alguns momentos da história e a comicidade dos eventos finais não deixam de gerar na mente do espectador a interpretação de que o aparente “acaso” que coloca tudo a perder nada mais é do que uma correção moral do universo, destino ou coisa parecida. Essa visão, além de ser oposta à apresentada anteriormente, dá à obra uma dimensão metafísica que ninguém suporia existir num “mero” filme de roubo e mostra como Kubrick estava aberto para inúmeras possibilidades.

Inclusive, é curioso notar como O Grande Golpe parece fazer um comentário de maneira premonitória sobre essa tal de “racionalidade fria” na obra posterior de Kubrick. Interessado nas diversas facetas humanas e na dualidade acaso/destino, o filme trata de questões que são pertinentes para cada um de nós, e não deixa de ser uma ironia que a obra do diretor passasse a sofrer ao longo dos anos a pecha de ser maquinal, mais interessada em técnica do que em conteúdo.

Com uma rica rima visual envolvendo um outro cachorro no minuto final, O Grande Golpe é uma daquelas obras cuja aparente superficialidade esconde um tesouro de significados e interpretações que só podem ser escavados a cada novo retorno do espectador ao filme. E este parece ser um dos principais problemas enfrentados por alguns críticos e até mesmo cineastas tão grandiosos quanto Jacques Rivette quando analisam a obra de Stanley Kubrick: ao passo que há filmes que gritam aos quatro cantos toda a sua humanidade e generosidade, existem algumas histórias  que reservam para o espectador o prazer de encontrar aos poucos todo o seu poder e toda a sua magia. Kubrick construiu a sua carreira levando em conta a verdade desse segundo caso.

O Grande Golpe (The Killing, EUA – 1956)

Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stanley Kubrick e Jim Thompson
Elenco: Sterling Hayden, Jay C. Flippen, Marie Windsor, Elisha Cooke Jr., Joe Turkel
Gênero: Suspense/Policial
Duração: 85 min

Redação Bastidores

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