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Crítica | Twin Peaks - Os Últimos Dias de Laura Palmer

Redação Bastidores Redação Bastidores
In Catálogo, Cinema, Críticas•17 de junho de 2017•9 Minutes
Crítica | Twin Peaks - Os Últimos Dias de Laura Palmer
Reprodução
Crítica | Twin Peaks - Os Últimos Dias de Laura Palmer
Reprodução

Com Spoilers

Em 1992, ano em que foi exibido no Festival de Cannes, Twin Peaks – Os Últimos Dias de Laura Palmer foi duramente vaiado pelo público presente. É difícil dizer quais foram os motivos por trás dessa recepção tão hostil, pois, assim como há a possibilidade de que muitos que estavam na platéia eram fãs do programa de televisão original e ficaram decepcionados com a ausência de respostas concretas, a chance de que algumas pessoas desconheciam por completo o material fonte e não entenderam nada do que estava acontecendo é tão plausível quanto a primeira opção. No fim, o que podemos afirmar é que o longa não agradou gregos nem troianos.

É bem verdade que, tanto no caso de um dos motivos ter reinado sobre o outro quanto na chance de as duas razões terem atuado em conjunto, ambas as reações são justificáveis. Aos que buscaram no filme um ponto final para as questões que ficaram em aberto na série, a experiência de assisti-lo é uma constante decepção, pois quase tudo é trabalhado de maneira enigmática e simbólica. E, àqueles que viram o longa sem conhecer o seriado, a estrutura narrativa da história, que começa com um prólogo longuíssimo, passa por alguns flertes indevidos com a linguagem televisiva e termina com uma indefinição de atos, pode ser insuportável.

No entanto, deixando de lado essas ressalvas pertinentes e compreensíveis e admitindo que é essencial ter visto as duas primeiras temporadas da série para apreciar totalmente o filme, Twin Peaks – Os Últimos Dias de Laura Palmer é um conto devastador e cinematograficamente poderoso sobre o fim da inocência. As idiossincrasias de David Lynch e o charme irresistível da maioria dos personagens colocaram um véu sobre a questão mais alarmante de toda a série: o caso de incesto, pedofilia, estupro e assassinato perpetrado por um pai, Leland Palmer (Ray Wise).

Na maneira de agir de Laura Palmer (Sheryl Lee) estão contidas todas as consequências provenientes do crime abusivo que lhe era cometido desde a infância. Ter relações sexuais forçadamente ainda numa idade tenra acaba por impedir o desenvolvimento natural da inocência e dá vida, precocemente, a uma sexualidade torta que se exterioriza das maneiras mais estapafúrdias e contraditórias possíveis. Porém, ao mesmo tempo, aprisiona a pessoa numa espécie de infância eternamente interrompida, já que o desenvolvimento normal de uma biografia supõe a finalização de etapas e momentos históricos. 

Sendo assim, não é casual que a protagonista oscile abruptamente entre a inocência e o devasso. Em um momento, ela é uma linda criança cujos olhos brilham frente às promessas de um horizonte luminoso, em outro, ela se afunda perdidamente numa espiral de vícios e hábitos auto destrutivos. Nessas transições, Sheryl Lee, com muita destreza, contrasta o seu olhar bondoso com gestos insinuantes do seu avantajado e bonito corpo, numa atuação visceral e comovente. A vontade do espectador é de entrar naquele mundo e tirá-la a todo custo do caminho de perdição que ela está percorrendo e cujo melancólico fim já é conhecido.

Todavia, não podemos nos esquecer de que boa parte dos eventos que acontecem no universo de Twin Peaks ganham vida através da interferência de seres sobrenaturais. São demônios e anjos travando batalhas no interior dos personagens. Acima do humano, o que rege a ordem de eventos são os entes malignos, que buscam insaciavelmente por novas vítimas, e os bondosos, que, em ações pontuais e redentoras, trazem um pouco de luz e salvação para aqueles que são andarilhos espirituais e que tateiam no escuro em busca de um interruptor. Em outras palavras, é a eterna luta entre o Bem e o Mal.

Essa dicotomia, insolúvel até o fim dos tempos, é plenamente refletida nas estruturas narrativa e emocional de Twin Peaks – Os Últimos Dias de Laura Palmer. No filme, visual e tematicamente, tudo existe na forma de opostos. Laura Palmer é loira e Donna Hayward (Moira Kelly), morena, assim como Mike (Gary Hershberger) e Bobby (Dana Ashbrook), respectivamente. Estes, por sua vez, possuem o mesmo nome de dois seres que habitam o Black Lodge. Dentro de Laura e Leland Palmer, existem o beato e o diabólico. No mundo em que a protagonista abraça o Mal, Donna é representada por Ronette Pulaski (Phoebe Augustine). Bobby é o namorado problemático, e James (James Marshall), o ideal. Há o vermelho e azul, a luz e escuridão e a morte e o renascimento. 

Também é importante perceber como esses opostos se duelam o tempo todo na narrativa. Sempre que Laura se relaciona e conversa com James, minutos depois, ela está interagindo com Bobby. No momento em que está dançando nua na boate, após ver que Donna corre o risco de cometer os mesmos erros, ela interrompe o ato sexual e parte para salvar a sua amiga. Quando Leland age como um louco por causa das mãos sujas da filha, no instante seguinte, ele está arrependido e pede desculpas. E, nos breves segundos em que Laura está feliz, rapidamente, ela abraça a negatividade.

Já do ponto de vista técnico, essa dualidade é somente um dos elementos que possibilitam Lynch de compor momentos estética e sonoramente ricos, que vão desde uma cena cuja iluminação, totalmente azulada, se dá porque o personagem interpretado por Kiefer Sutherland havia perguntando sobre a Rosa Azul segundos antes, até as sequências que começam a partir de uma canção sobre o sentimento de se perder no Mundo e terminam numa boate em que as cores e o comportamento dos presentes remetem ao Inferno, passando pela repetição de sons elétricos sempre que o Mal está agindo. Entretanto, é essa dualidade que dá a oportunidade para Lynch construir a mais impactante rima visual do filme: vejam como, na cena em que Laura e Donna estão conversando, o comentário emitido pela primeira acerca do sentimento de queda que lhe aflige é reiterado pelo ângulo contra-plongée e a lenta aproximação da câmera, que imitam essa queda. Depois, notem como, no final, quando anjos vêm resgatar Laura, o ângulo se repete, mas, desta vez, a câmera se afasta, indicando que, em vez de cair, agora, ela e sua alma estão subindo aos céus (num final inteiramente cristão).

Criando também um bonita rima entre a inocência da protagonista e a de Dale Cooper (Kyle Maclachlan),  Twin Peaks – Os Últimos Dias de Laura Palmer é um filme para os fãs do seriado. Quem assistiu às duas primeiras temporadas do programa sentirá completamente os dramas do longa. E é um mérito de Lynch e Robert Engels (o co roteirista) o fato de terem dobrado as informações que já haviam sido dadas nos episódios e transformar a triste jornada de Laura Palmer num evento cheio de descobertas e novos mistérios. Não sabíamos que precisávamos de uma pré-sequência até ver este lindo filme.

Twin Peaks – Os Últimos Dias de Laura Palmer (Twin Peaks: Fire Walk With Me, EUA – 1992)

Direção: David Lynch
Roteiro: David Lynch e Robert Engels
Elenco: Sheryl Lee, Ray Wise, Moira Kelly, Dana Ashbrook, James Marshall, Frank Silva, Grace Zabriskie, David Lynch, Miguel Ferrer, David Bowie, Chris Isaak, Kiefer Sutherland, Mädchen Amick, Peggy Lipton, Eric DaRe, Harry Dean Stanton, Kyle Maclachlan
Gênero: Drama, Suspense
Duração: 135 minutos

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