Uma mãe faria de tudo para ajudar a sua filha a alcançar o sucesso na vida profissional e também na pessoal. Se há uma relação familiar que o cinema adora transmitir para as telas essa é sem dúvida é entre mães e filhas, até porque é uma relação cheia de conflitos, mas também cheia de amor e ternura. E o filme Um Grito de Liberdade (Mustafa Kotan) é mais um desses expoentes.
A produção turca é exatamente o que os fãs do gênero desejam encontrar, pois é um drama que lembra uma novela, tamanha as reviravoltas que o roteiro apresenta. O longa conta a história de uma mãe que luta contra o preconceito de um pai machista para enviar a filha para a escolha, e depois para a faculdade, nesse meio tom o diretor dá uma guinada na história e faz a mãe se tornar vítima não apenas do marido, mas também da filha, que passa a tratar a mãe mal – isso já na fase adulta de Nazil, a filha. A filha tem vergonha da mãe, isso é mostrado em vários momentos do filme, e quando vai para a cidade grande simplesmente a ignora de vez.
Depois de um primeiro ato interessante, o longa em um segundo ato que começa a abraçar de vez a novela, com várias confusões que são feitas para forçar o drama, principalmente uma situação trágica envolvendo Nazli, que certamente está ali para fazer o espectador chorar e que lembra outro filme turco, O Milagre da Cela 7 (Mehmet Ada Öztekin), que também tinha umas cenas no roteiro aleatórias, filmadas apenas para o público chorar sem parar.
Já no terceiro ato o diretor resolve abraçar o novelão de vez, com Nazli já sofrendo suas tragédias pessoais, e agora o roteiro a faz sofrer mais ainda, e a coloca em outra situação pior ainda, e não dá para entender o porquê de ter feito isso com a personagem tão abruptamente, sendo que o filme não caminhava para esse sentido. Claramente o diretor quis novamente fazer o público chorar e força a mão para isso, não havia necessidade em fazer aquilo que ele fez nos últimos vinte minutos com a personagem que tinha tudo para ser a protagonista, praticamente jogou um final que seria interessante no ralo.
Fora esses encalços, Um Grito de Liberdade é um drama razoável e que tem um público cativo, pois ele trabalha bem certos elementos, principalmente a relação atemporal de mãe e filha e como questões familiares conflituosas podem tumultuar certos ambientes, fazendo com que estruturas familiares tradicionais possam mudar de uma hora para a outra. Outra discussão interessante que o filme traz é em relação ao papel da mulher na sociedade, com Nazli indo estudar em uma sociedade em que o machismo impera tema delicado, mas que é bem abordado pelo diretor.
Um Grito de Liberdade deve emocionar aqueles que buscam dramas carregados com histórias de vida, mas também pode decepcionar aqueles que procuram tramas mais bem elaboradas e trabalhadas e que fujam do óbvio.
Um Grito de Liberdade (Annem, Turquia – 2019)
Direção: Mustafa Kotan
Roteiro: Evren Erdogan, Bener Karaçor, Ayse Balibey Tanil
Elenco: Özge Gürel, Sumru Yavrucuk, Sercan Badur, Tuna Orhan, Itir Esen, Fatma Toptas
Gênero: Drama
Duração: 110 min.