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Crítica | Velozes e Furiosos 8

No capítulo mais fraco da saga, + Velozes + Furiosos, o histérico Tyrese Gibson entra em pânico quando o falecido Paul Walker alerta que eles pularão com um carro para dentro de um barco. Corta para 14 anos depois e ninguém imaginaria que a equipe de Velozes e Furiosos enfrentaria tanques de guerra, carros voadores e, neste oitavo filme, um submarino em plena geleira. Com a equipe de VF servindo como o equivalente da Universal aos Vingadores, o oitavo filme revela-se um dos mais completos e engraçados, estabelecendo ainda mais esse universo louco e divertido.

A trama começa com uma instigante reviravolta, quando Dominic Toretto (Vin Diesel) trai sua equipe e embarca em uma missão obscura, obedecendo à chantagem de uma hacker misteriosa conhecida como Cipher (Charlize Theron). Com a equipe nebulosa da hacker armada com pulsos eletromagnéticos e um plano que envolve o roubo de códigos para ogivas nucleares, Luke Hobbs (Dwayne Johnson) reúne a velha equipe com Letty (Michelle Rodriguez), Roman (Gibson), Tej (Ludacris), Ramsey (Nathalie Emmanuel) e ainda é forçado a recrutar o bandido Deckard Shaw (Jason Statham) para deter Cipher e recuperar Dom.

Com a cinessérie chegando em seu oitavo filme, é de se levar com curiosidade como o roteirista Chris Morgan é capaz de inventar novas maluquices e tramas minimamente cativantes a cada nova produção. Certamente a chave para o sucesso redescoberto da franquia foi abraçar o ridículo, apostar no absurdo e no exagero surreal a cada novo filme, o que torna Dom, Hobbs e todos os demais personagens algo que encontraríamos em filmes de super-heróis; o policial brutamontes de Dwayne Johnson literalmente quebra paredes e arrebenta algemas com seus músculos saltitantes, enquanto as cenas de ação seguem mais divertidas de tanto exagero e dedos do meio metafóricos às leis da Física.

A ideia de ter Dom como um antagonista é algo que rende momentos dignos de uma novela mexicana, vide Letty gritando que ele ainda o ama enquanto Cipher surge para lhe roubar um beijo mortal; algo que definitivamente foi feito para “satirizar” momentos levado a sério demais. Temos muito disso no núcleo que acompanha Dom como “refém” no super avião de Cipher, onde só depois descobrimos o motivo que o fizera rebelar-se e trabalhar com a vilã, sendo necessário dar crédito a Morgan por resgatar um elemento passado da franquia e desenvolvê-lo, sem inventar algo de última hora ou puxar cartas inexistentes da manga. Surpreendentemente, Velozes 8 amarra ainda mais as pontas entre cada filme, formando seu próprio universo cada vez mais coeso e ainda ganhando com a presença marcante e memorável da Cipher de Theron, facilmente a melhor antagonista que a franquia já teve.

Com um claro desfalque pela perda trágica de Paul Walker, e também com a virada sombria de Dom, a equipe principal ganha uma reinvenção sensacional. Com Hobbs assumindo a liderança e trazendo consigo não só o ex-vilão Shaw, mas também o assistente júnior do sempre carismático Sr. Ninguém de Kurt Russell, vivido por um correto Scott Eastwood, e apelidado carinhosamente de “Ninguenzinho”. Temos aí a criação de uma dinâmica fantástica entre Johnson e Statham, com os dois antigos rivais constantemente se provocando e ironizando, rendendo frases do calibre de “vou socar seus dentes goela abaixo, assim você vai poder escovar seu rabo”. É algo tão absurdo e engraçado que os personagens simplesmente tornam-se amigos após essas tiradas, quase quebrando a quarta parede e revelando a nítida diversão que o elenco está tendo por trás das câmeras. Só essa dupla já seria algo inédito na franquia, e Dwayne Johnson novamente comprova que é um absoluto tesouro não só de Hollywood, mas da raça humana – o que dizer da fantástica cena que apresenta Hobbs aqui?

Já em quesitos técnicos, a franquia sofre uma queda perceptível com a substituição de James Wan por F. Gary Gray (Straight Outta Compton), que claramente sabe construir a expectativa e o impacto dos eventos grandiosos que suas câmeras captam; com a “chuva de carros” em uma Nova York nublada e sem floreios sendo seu grande acerto, mas que acaba limitado por sua decisão de usar uma montagem intensa demais, planos que variam do aberto para o fechado e uma velocidade do obturador da câmera ainda mais intensa do que a adotada pelos irmãos Russo em Capitão América: Guerra Civil, tornando os movimentos durante lutas corporais praticamente incompreensíveis. Felizmente, o clímax na geleira russa com um submarino consegue oferecer algo mais nítido e que valoriza os altos gastos da produção, conseguindo ser mais interessante do que a perseguição de James Bond em 007 – Um Novo Dia para Morrer.

Mas quando Gray acrescenta humor às sequências mais agitadas, o resultado é consideravelmente melhor. Basta observar a sequência onde temos uma rebelião na prisão, com o diafragma alto prejudicando nossa compreensão do quadro geral, mas nos deixando bem claro como Johnson está simplesmente surtado e arrebentando todos com seus braços enormes, além da trilha sonora pop digna da série – misturando eletrônico com versos latinos – oferecer o tom apropriado. E sem querer entrar em spoilers, mas o potencial cômico de Jason Statham descoberto em A Espiã que Sabia de Menos rende frutos impressionantes aqui, e espero sinceramente que os próximos filmes sigam apostando na presença do ator – e também de uma impagável Helen Mirren, acreditem se quiser.

Velozes e Furiosos 8 segue levando a franquia para o status de super-heróis, oferecendo um espetáculo povoado por figuras divertidas, um roteiro que é ciente de seus conceitos ridículos e que se sai muito bem ao abraçá-los. Pode não ter a melhor ação da série, mas é um sinal de aprimoramento notável quando estamos mais empolgados para ver a interação entre os personagens do que um submarino perseguindo carros. Que Diesel e Morgan continuem apostando em loucuras cada vez maiores.

Velozes e Furiosos 8 (The Fate of the Furious, EUA – 2017)
Direção: F. Gary Gray
Roteiro: Chris Morgan
Elenco: Vin Diesel, Dwayne Johnson, Charlize Theron, Scott Eastwood, Jason Statham, Michelle Rodriguez, Kurt Russell, Helen Mirren, Tyrese Gibson, Ludacris, Nathalie Emmanuel, Luke Evans
Gênero: Ação
Duração: 136 minutos

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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