Uma nova disciplina acadêmica oferecida pela Universidade de Nottingham, no Reino Unido, está gerando uma intensa polêmica ao afirmar que a representação dos Orcs e outras raças na obra de J.R.R. Tolkien, autor de O Senhor dos Anéis, promove o racismo. O curso, intitulado “Decolonizando Tolkien e outros”, argumenta que os monstros de pele escura e os povos do Leste na Terra-média são exemplos de “antipatia anti-africana” e “chauvinismo étnico”.
A alegação, liderada pelo Dr. Onyeka Nubia, professor da universidade, foi recebida com fúria por fãs e estudiosos de Tolkien, que acusam a abordagem de ser uma distorção deliberada da obra e das intenções do autor, reacendendo o debate sobre a aplicação de ideologias modernas a obras clássicas.
A tese do curso: Orcs e povos do Leste como representações racistas
De acordo com uma reportagem do jornal The Telegraph, o curso ensina aos alunos que a forma como Tolkien descreveu criaturas como os Orcs e povos como os Haradrim e Orientais reflete uma visão de mundo colonialista e racista, onde os heróis de pele clara do Oeste simbolizam a virtude branca, enquanto as raças mais escuras e estrangeiras representam a vilania.
Dr. Nubia teria dito aos alunos que O Senhor dos Anéis espelha uma visão que “coloca os africanos como o inimigo natural dos brancos” e que as representações de Tolkien refletem uma “hierarquia cultural” arraigada na narrativa britânica, presente também em autores como C.S. Lewis e até Shakespeare. A disciplina ainda argumenta que a literatura inglesa como um todo tem sido culpada por apagar a diversidade, ignorando a presença de africanos na sociedade medieval.
Fãs e estudiosos rebatem: ‘Injeção de raça onde não pertence’
A reação à tese do curso foi imediata e contundente. Fãs proeminentes e comentaristas online zombaram da alegação, classificando-a como uma leitura equivocada e ideológica. O principal argumento contrário é que o próprio Tolkien afirmou repetidamente que suas histórias não eram alegorias de eventos ou ideologias do mundo real.
Críticos também apontam uma contradição lógica na tese: se os Orcs, descritos como monstros corrompidos a serviço do mal puro, representam grupos raciais do mundo real, a própria afirmação acadêmica se torna inerentemente racista ao associar os vilões mais hediondos da ficção a pessoas reais.
A visão predominante entre estudiosos é que O Senhor dos Anéis é uma obra de alta fantasia, uma mitologia moral enraizada na fé católica de Tolkien e em sua fascinação por linguagem e mito. A dicotomia entre luz e trevas seria uma metáfora espiritual, não racial.
O próprio Tolkien rejeitou o racismo
Para reforçar a crítica à tese do curso, fãs resgatam declarações do próprio Tolkien. Em uma carta de 1938, o autor rejeitou veementemente as teorias raciais alemãs da época, descrevendo seu desgosto pela “doutrina racial totalmente perniciosa e não científica”. Acusar um homem com tais convicções de promover racismo através de goblins fictícios é visto por muitos como um apagamento de sua própria moralidade.
O curso da Universidade de Nottingham se insere em um debate mais amplo sobre a “descolonização” e a reinterpretação de obras clássicas sob a ótica de ideologias contemporâneas, um movimento que tem gerado controvérsia e acusações de revisionismo histórico e censura.
Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.
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