Não Fale o Mal: as polêmicas do remake norte-americano e as críticas do diretor original

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Não Fale o Mal (Speak No Evil) é considerado um dos filmes de terror mais intrigantes de 2022. Apesar de seu lançamento recente, o longa dinamarquês já ganhou uma versão remake norte-americana, que chegou às telonas apenas dois anos depois. No entanto, as mudanças na narrativa, especialmente no final, geraram descontentamento por parte do diretor original, Christian Tafdrup.

Dirigido por James Watkins, conhecido por A Mulher de Preto (2012), o remake estreou no Brasil em 12 de setembro, contando com um elenco de peso, incluindo James McAvoy, Scoot McNairy, Mackenzie Davis e Aisling Franciosi. Tafdrup não hesitou em criticar as alterações feitas na nova versão, que, segundo ele, reduziram o impacto emocional da história.

Críticas ao “final feliz” dos filmes americanos

Em entrevista ao Kulturen, Tafdrup expressou sua frustração com a necessidade de filmes estadunidenses de apresentarem “finais felizes” e um sentimento de “heroísmo” nos protagonistas. “Não sei o que há com os americanos, mas eles são criados para uma história heroica, onde o bem deve vencer o mal”, apontou. O cineasta elogiou a produção americana como “extremamente divertida, eficaz e bem atuada”, mas alertou que isso pode resultar em uma narrativa menos impactante. Ele explicou: “Quando vi o filme ontem, percebi que eles nunca teriam sucesso com um filme onde os personagens são apedrejados até a morte, como fazem no nosso filme.”

Tafdrup também mencionou que as reações do público foram bastante distintas entre as duas versões. Enquanto o original provocou reações de choque e traumatização, com o público “aplaudindo, rindo e gritando” na nova versão, a experiência emocional proporcionada pelo filme dinamarquês foi muito mais intensa.

Mudanças na narrativa

A premissa básica dos dois filmes é similar, seguindo duas famílias que se tornam próximas durante uma viagem e que posteriormente se visitam. No entanto, as mortes brutais e o sofrimento dos personagens na versão de 2022 foram suavizados no remake de 2024. No original, as vítimas enfrentam um destino trágico, com mortes apedrejadas e a filha sendo “roubada”. Já a versão mais recente cria uma dinâmica de “caça e rato”, onde os personagens de Scoot McNairy e Mackenzie Davis conseguem se defender, derrotando os sequestradores e fugindo com as crianças.

Essas mudanças suscitam um debate sobre como o tratamento de temas sombrios e perturbadores pode ser alterado para se adequar às expectativas do público americano, questionando a autenticidade e a intensidade emocional da narrativa original. A crítica de Tafdrup ressalta a diferença de abordagem entre as culturas cinematográficas e como isso pode impactar a recepção de histórias intensas e sombrias.

Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

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