Em meio às comemorações pelos 25 anos do lançamento de Psicopata Americano (2000), a diretora Mary Harron revelou estar “perplexa” com a forma como o filme foi adotado por alguns homens como um símbolo de masculinidade idealizada — especialmente entre os chamados “sigma males” e profissionais do mercado financeiro.

Em entrevista ao Letterboxd Journal, Harron comentou sobre o fenômeno cultural que transformou Patrick Bateman, interpretado por Christian Bale, em um ícone aspiracional nas redes sociais. Segundo ela, esse tipo de recepção vai na contramão da proposta original da obra.

“Não era essa a nossa intenção. Então, falhamos?”, questionou a diretora. “Christian está claramente zombando deles… Mas as pessoas interpretam tudo de formas imprevisíveis. Alguém lê a Bíblia e decide matar. Alguém lê O Apanhador no Campo de Centeio e atira no presidente.”

Uma sátira homoerótica à masculinidade

Harron explicou que tanto ela quanto a roteirista Guinevere Turner, que também atua no filme, sempre entenderam Psicopata Americano como uma sátira da masculinidade, com toques evidentes de homoerotismo, algo que, segundo ela, ficou mais evidente por ambas serem mulheres e, no caso de Turner, uma mulher lésbica.

“Há algo muito, muito gay na forma como esses homens fetichizam aparência e músculos. Seja em Wall Street ou nos esportes, a masculinidade competitiva tem um lado homoerótico que queríamos destacar.”

O filme é baseado no romance polêmico de Bret Easton Ellis, que também é gay. Na história, Patrick Bateman é um executivo de sucesso que esconde um lado psicopata e mergulha em fantasias de violência e hedonismo. No livro, o personagem idolatra figuras como Donald Trump, algo que ressoa com o cenário político atual nos EUA.

Reflexão sobre a atualidade: “A sociedade está muito pior”

Harron também se mostrou surpresa com a forma como a crítica social presente em Psicopata Americano envelheceu — e se intensificou.

“Era sobre uma sociedade predatória, e agora está muito pior. Os ricos estão mais ricos, os pobres mais pobres”, disse. “Jamais imaginei que teríamos uma celebração tão aberta do racismo e da supremacia branca como vemos agora na Casa Branca.”

Com o romance sendo novamente adaptado para os cinemas, desta vez pelas mãos de Luca Guadagnino (de Me Chame Pelo Seu Nome), para a Lionsgate, a diretora original vê a nova versão com curiosidade, mas também com cautela.

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