Em meio a uma indústria cada vez mais voltada a jogos expansivos e experiências que beiram o infinito, o ex-presidente da PlayStation, Shawn Layden, trouxe uma reflexão importante: o tempo do jogador é mais valioso que o escopo de um jogo. Em entrevista recente ao canal Player Driven, Layden criticou a tendência de títulos inflados e defendeu experiências mais curtas, porém marcantes.

O tempo como novo “custo”

Para Layden, o debate atual sobre a duração dos jogos ultrapassa o valor financeiro. Com lançamentos que ultrapassam facilmente as 100 horas de conteúdo, o ex-executivo pondera que nem todo jogador tem disponibilidade para esse tipo de investimento — especialmente adultos com agendas apertadas e responsabilidades familiares.

“Não preciso que você passe 100 horas no meu jogo”, afirmou. “Quero que você largue o controle depois de 20 horas e fique com as mãos suadas”.

A declaração vai de encontro à lógica dominante de mercado, que muitas vezes associa “mais tempo de jogo” a “mais valor”, mas que, segundo Layden, nem sempre gera uma experiência mais satisfatória.

Crítica velada aos próprios jogos da Sony

Curiosamente, Layden mencionou que títulos do próprio catálogo do PlayStation vêm exagerando na duração. Jogos como The Last of Us Part II e God of War: Ragnarok foram citados de forma implícita como exemplos de produções que se tornaram mais extensas do que o necessário — algo que, para ele, pode diluir o impacto emocional e narrativo.

“Perdemos, em alguns jogos dos últimos cinco, seis, sete anos, a ideia de conclusão“, analisou.

Astro Bot como exemplo de equilíbrio

Layden também destacou o jogo Astro Bot como um bom exemplo de design conciso. Mesmo com recursos praticamente ilimitados, a Equipe Asobi conseguiu criar fases bem desenhadas, focadas e com um ritmo que valoriza a experiência do jogador.

“Eles têm tecnologia infinita e toda a memória de que precisam. Mas cada fase é agradável e precisa”, elogiou.

Uma mudança de mentalidade necessária?

Em uma era onde jogos como Fortnite, Assassin’s Creed Shadows ou Starfield dominam o mercado com propostas gigantescas, Layden reforça a necessidade de repensar o design baseado na quantidade, sugerindo um retorno à qualidade contida, à imersão eficiente e ao prazer da conclusão bem-feita.

Com o tempo se tornando um recurso cada vez mais escasso — especialmente para jogadores mais velhos — a fala de Layden surge como um convite à indústria para valorizar mais o impacto do que o tamanho. Afinal, nem sempre mais é melhor.

Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

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