Fim do regime Assad na Síria: cineastas celebram, mas temem o futuro incerto

A queda do governo de Bashar al-Assad trouxe alívio para cineastas sírios deslocados. No entanto, o futuro sob novos líderes islâmicos gera incertezas.
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Instagram/G1

O golpe que encerrou cinco décadas de regime de Bashar al-Assad na Síria na manhã de domingo reverberou intensamente no meio cinematográfico global. Para muitos cineastas sírios, o fim do governo autoritário é motivo de alívio, mas também de apreensão quanto ao futuro sob o comando dos rebeldes islâmicos do Hayat Tahrir al-Sham.

Após 13 anos de guerra civil, que deixaram mais de 500 mil mortos e milhões de deslocados, cineastas sírios e ativistas expressam um misto de alegria e preocupação. “Este é um sonho que todos nós tivemos”, disse Orwa Nyrabia, ex-diretor artístico do Festival Internacional de Documentários de Amsterdã (IDFA). “Mas é doloroso ver isso após tantas perdas desnecessárias.”

Um momento de alívio e apreensão

Sam Kadi, diretor de Lamya’s Poem, descreveu o momento como um dos mais felizes de sua vida. Hassan Akkad, documentarista vencedor do BAFTA por Exodus: Our Journey to Europe, compartilhou do sentimento, mas alertou para os desafios da reconstrução do país.

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Já Alaa Karkouti, CEO da MAD Solutions, expressou uma visão cautelosa. “A questão é: quem controla as armas?”, questionou, apontando o papel dos grupos islâmicos na derrubada do regime. Ele também destacou os riscos de novas interferências externas, especialmente de potências como Rússia, Estados Unidos e Israel.

O papel do cinema na reconstrução da Síria

Cineastas acreditam que o cinema e a TV terão um papel crucial na reconstrução da identidade cultural síria. “Precisamos de mais histórias que reflitam as experiências e aspirações do povo sírio”, disse Kadi. Antes da guerra civil, a Síria era um dos principais polos de produção televisiva no Oriente Médio. Agora, com a queda do regime de Assad e o fim da censura, há uma oportunidade única para revitalizar a indústria cultural.

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Orwa Nyrabia destacou que a televisão síria, especialmente os dramas, continua sendo uma plataforma poderosa para influenciar a opinião pública e resgatar a unidade nacional. Ele também ressaltou a importância de conectar a produção cinematográfica síria ao cenário global.

O futuro ainda incerto

Apesar do alívio com o fim do regime, a incerteza sobre os rumos políticos e a influência dos grupos islâmicos ainda preocupa. Hassan Kattan, diretor do documentário One Day in Aleppo, enfatizou a responsabilidade de reconstruir uma Síria livre e unida, enquanto expressava temor sobre as novas lideranças.

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Orlando von Einsiedel, codiretor de The White Helmets, premiado com o Oscar, destacou a coragem e resiliência do povo sírio. “Os sírios são algumas das pessoas mais corajosas e engenhosas que já conheci”, afirmou, manifestando otimismo sobre a capacidade do país de superar este período sombrio.

A queda do regime Assad é um marco histórico, mas o caminho para a reconstrução política, social e cultural da Síria ainda será longo e desafiador. Enquanto isso, cineastas sírios, tanto dentro quanto fora do país, continuam determinados a contar histórias que reflitam a complexa realidade e as esperanças de seu povo.

Sobre o autor

Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa. Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer. Contato: matheus@nosbastidores.com.br

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