Atenção: este texto contém grandes spoilers do filme!
Até a Última Gota (Straw), o novo e angustiante thriller dirigido por Tyler Perry, rapidamente escalou para o primeiro lugar no top 10 da Netflix, deixando os espectadores impactados com sua trama tensa e, principalmente, com seu final devastador. Estrelado por uma atuação intensa de Taraji P. Henson, o filme acompanha a espiral de desespero de uma mãe e culmina em uma reviravolta que ressignifica toda a história.
O longa nos apresenta a Janiyah (Henson), uma mãe solteira que trabalha como caixa de supermercado e luta para pagar os caros remédios de sua filha, Aria (Gabby Jackson), que sofre de asma e convulsões. O filme constrói uma narrativa de opressão e desespero, mostrando Janiyah enfrentando um dia infernal que a empurra para o limite.
O dia de fúria de Janiyah
A jornada de Janiyah rumo ao colapso é retratada em uma sequência de eventos catastróficos. Em um único dia, ela tem sua filha levada pelo Conselho Tutelar, é demitida do emprego após um desentendimento com o chefe, Richard (Glynn Turman), é despejada de seu apartamento debaixo de chuva e, como se não bastasse, é assaltada enquanto tentava receber seu último pagamento no supermercado.
É neste ponto que a protagonista cruza uma linha sem volta. Durante o assalto, ela consegue tomar a arma de um dos ladrões e o mata. Em pânico, ao ver seu chefe ligando para a polícia para acusá-la de cumplicidade no roubo, ela o assassina também. Atordoada e com a arma em mãos, Janiyah vai ao banco para tentar sacar o dinheiro do cheque, mas, sem documentos, tem o serviço negado. Ali, ela surta de vez e faz os funcionários do banco de reféns, incluindo a gerente Nicole (Sherri Shepherd), dando início a uma tensa negociação com a polícia, liderada pela detetive Raymond (Teyana Taylor).
O final explicado: a verdade devastadora sobre Aria
Durante o sequestro, Janiyah cria um laço de empatia com a gerente do banco, Nicole, que se comove com a história da mãe desesperada que só quer dinheiro para salvar a filha doente. É neste momento que o filme entrega sua grande e trágica reviravolta.
Através das conversas e da investigação policial, é revelado que Aria, a filha de Janiyah, já estava morta. A menina havia sofrido uma convulsão fatal na noite anterior ao início da onda de crimes. Tudo o que Janiyah vivenciou em relação à filha naquele dia — levá-la à escola, a urgência pelos remédios — era, na verdade, uma alucinação, um colapso psicológico gerado pela dor insuportável da perda.
Sua mente, incapaz de processar o luto, criou uma realidade paralela onde sua filha ainda estava viva e precisava dela. O desespero por dinheiro para um tratamento que já não era mais necessário foi o motor de sua espiral de violência. Ao ser confrontada com essa verdade pela detetive, Janiyah finalmente volta à realidade, desmorona em dor e se entrega à polícia.
O final, embora chocante, não é ambíguo em seu acontecimento principal, mas sim em suas consequências. Janiyah é presa, mas o filme deixa em aberto como o sistema de justiça lidará com uma mulher que cometeu crimes graves em meio a um surto psicótico causado por um trauma inimaginável. O que parecia ser a história de uma criminosa se revela a trágica jornada de uma mãe em luto.
Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.
Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.
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