Para o lendário criador de jogos Hideo Kojima, um feedback excessivamente positivo pode ser um sinal de problema. O músico e compositor francês Woodkid, responsável pela trilha sonora de “Death Stranding 2: On The Beach”, revelou que Kojima fez alterações no jogo justamente porque os primeiros testes com jogadores foram bons demais, e ele temia que a obra não fosse “polarizadora” o suficiente.

“Temos um problema”: a ansiedade da aceitação

Em uma nova entrevista à revista Rolling Stone, Woodkid (cujo nome real é Yoann Lemoine) contou um episódio que ilustra perfeitamente o processo criativo único de Hideo Kojima. “Houve um momento crucial em que tivemos uma discussão, provavelmente na metade do desenvolvimento do jogo, em que ele veio até mim e disse: ‘Temos um problema’”, relembrou o músico.

A natureza do “problema” era surpreendente. “Ele disse: ‘Vou ser bem honesto, estamos testando o jogo com jogadores e os resultados estão bons demais. Eles gostaram demais. Isso significa que algo está errado; precisamos mudar alguma coisa’”, contou Woodkid. Segundo o compositor, Kojima de fato “mudou coisas no roteiro e na forma como alguns pontos cruciais [acontecem] no jogo” por causa disso.

A filosofia de Kojima: criar arte que desafia

A preocupação de Kojima, segundo Woodkid, era evitar criar algo “mainstream” ou “pré-digerido”. A filosofia do diretor japonês é que a arte verdadeiramente memorável é aquela que desafia o público inicialmente. “Se todo mundo gosta, significa que é convencional”, teria dito Kojima. “E eu não quero isso. Quero que as pessoas acabem gostando de coisas que não gostaram quando as encontraram pela primeira vez, porque é aí que você realmente acaba amando algo”.

Woodkid afirmou que a conversa foi uma grande lição para ele como artista: “não fazer coisas para agradar as pessoas, mas para fazê-las mudar um pouco e comovê-las.” A declaração ecoa o que o próprio Kojima já havia dito em outras entrevistas, sobre sua busca por criar obras que gerem um debate “ame ou odeie”, como aconteceu com o primeiro “Death Stranding” (2019).

Uma pitada de “Metal Gear” na mistura

Enquanto Kojima busca desafiar os jogadores com sua narrativa, a jogabilidade de “Death Stranding 2” pode trazer elementos mais familiares. Em uma prévia recente, a VGC, que jogou o game na sede da Kojima Productions em Tóquio, relatou que certas seções de infiltração remetem diretamente à série “Metal Gear Solid”.

“Enquanto eu atirava em um guarda de uma torre de vigia, equipava um rifle com silenciador e planejava uma infiltração furtiva em uma base inimiga […] era impossível escapar do pensamento: ‘Nossa, isso realmente parece Metal Gear'”, escreveu o jornalista da VGC.

“Death Stranding 2: On The Beach” tem seu aguardado lançamento marcado para 26 de junho, exclusivamente para o PlayStation 5. As revelações de Woodkid apenas aumentam a expectativa para descobrir quais foram as mudanças que Kojima implementou para garantir que sua nova obra seja tão complexa, estranha e, em última análise, inesquecível quanto seu antecessor.

Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

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