A já fragilizada indústria de cinema e televisão de Israel, que ainda se recuperava dos impactos dos ataques de 7 de outubro de 2023, entrou em colapso total. Desde o início da retaliação militar do Irã, em 13 de junho, o setor foi completamente paralisado, com cineastas e produtores abrigados em hotéis e porões, enquanto suas casas e estúdios no centro de Tel Aviv sofrem com os ataques. Para muitos artistas, a crise é dupla: uma guerra externa contra mísseis e uma batalha interna contra o próprio governo e o crescente isolamento internacional.

O cenário é de suspensão total. “Neste momento, ninguém está trabalhando, toda a indústria está em espera. Estamos esperando que as coisas se acalmem”, afirma Adar Shaffran, chefe da associação de produtores de Israel. Ele descreve a atual onda de ataques, que já disparou cerca de 350 mísseis contra o país, como a mais “assustadora de todas”, devido ao poder de destruição do arsenal iraniano. A diretriz é uma só: ficar em casa e tentar sobreviver. O estado de emergência decretado pelo governo se estende até 30 de junho, e pelo menos 24 mortes já foram registradas.

Relatos de uma indústria sob ataque

As histórias pessoais ilustram o drama coletivo. A renomada showrunner Natalie Marcus, cocriadora de sucessos globais como Fauda e Teerã, teve sua casa em Tel Aviv severamente danificada pelas ondas de choque de um míssil que explodiu a 20 metros de distância, forçando-a a se abrigar com a família em um hotel. “Fomos evacuados e temos que ir para o abrigo no porão duas ou três vezes por dia”, relata. Outros nomes importantes, como Daniel Sivan e Mor Loushy (diretores de O Diabo da Casa ao Lado), também tiveram suas residências atingidas.

Enquanto o principal aeroporto do país permanece fechado, isolando ainda mais a população, Marcus expressa uma frustração que vai além do medo dos míssees. Ela critica duramente o governo de Benjamin Netanyahu, classificando-o como “insano” e “corrupto”. “Há tantas pessoas boas e talentosas aqui, mas temos o governo mais corrupto, e é como se não pudéssemos confiar neles”, desabafa.

O paradoxo de ser um artista israelense hoje

Para Marcus e muitos de seus colegas de esquerda, a dor maior vem de um paradoxo cruel. Enquanto participam de manifestações pelo fim da guerra em Gaza, eles se veem cada vez mais isolados pela comunidade artística global. “É de partir o coração ser uma artista israelense hoje em dia”, lamenta. “As pessoas dizem que o Irã tem um regime louco e extremista, mas isso não impede que os cineastas deles sejam celebrados, enquanto nós, israelenses, fomos banidos de festivais de TV e cinema.”

Esse boicote tem um impacto devastador, já que a indústria local depende vitalmente de coproduções e vendas internacionais para financiar projetos ambiciosos. “Desde o início da guerra em Gaza, muitas coproduções foram interrompidas e ninguém está comprando. Muitas pessoas pararam de atender ligações”, explica Marcus. Ela cita como exemplo a decisão da Apple TV+ de não lançar a terceira temporada de Teerã fora de Israel, supostamente para evitar a repercussão negativa.

Nesse cenário desolador, Danna Stern, produtora de renome e ex-diretora do Yes Studios, enxerga uma pequena luz de esperança no fato de o país ter conseguido sediar o festival DocAviv há duas semanas, um “milagre” em meio ao caos. A esperança da comunidade criativa é que as guerras cessem para que possam começar a “construir pontes criativas na região” novamente. Por enquanto, eles seguem sob ataque, por dentro e por fora.

Mostrar menosContinuar lendo