O diretor e roteirista James Gunn, hoje um dos homens mais poderosos da indústria de quadrinhos no cinema, revelou que sua controversa demissão da Marvel, em 2018, foi uma experiência transformadora e fundamental para que ele pudesse, anos depois, escrever a versão do “Superman” que chegará aos cinemas no próximo mês. Em uma entrevista profundamente pessoal à revista Rolling Stone, Gunn confessou que a crise o fez abandonar a necessidade de agradar e o permitiu abraçar a pureza do Homem de Aço.

“Não estaria fazendo este trabalho se não tivesse sido demitido”

Em 2018, a Disney demitiu Gunn da direção de “Guardiões da Galáxia Vol. 3” após tweets antigos com piadas ofensivas virem à tona. A decisão gerou uma onda de apoio ao diretor por parte do elenco e de fãs, e a Marvel o recontratou meses depois. Segundo Gunn, a experiência de se sentir “verdadeiramente amado” pela primeira vez, mesmo em seu pior momento, mudou sua perspectiva criativa.

“Não há dúvida de que, sem essa experiência, acho que não teria escrito o Superman que escrevi”, declarou. “Definitivamente, não estaria fazendo este trabalho [na DC] se não tivesse sido demitido, mas não sei se estaria fazendo este trabalho [especificamente ‘Superman’] mesmo se não fosse por isso. Simplesmente não acho que um personagem tão puro me teria atraído tanto.”

Ele explica que a crise o libertou. “Isso me abriu a porta para parar de criar para que as pessoas gostassem de mim […] para que as pessoas me amassem”, admitiu. “Acho que, em algum nível, tudo o que fiz veio de um lugar agradável.”

A jornada de um criador: da raiva à pureza

Gunn revelou que a DC lhe ofereceu o filme do Superman pela primeira vez há sete anos, mas ele recusou por não se sentir pronto. “Eu precisava do caminho certo”, explicou. Para ele, sua carreira foi um “abrandamento gradual das arestas”.

“Eu ainda gosto de humor negro. Ainda tenho arestas. Mas eu costumava gostar muito de provocar. E hoje, embora pareça que ainda faço isso, não gosto muito de fazer isso”, refletiu. “No meu coração, sou bastante sentimental. Eu simplesmente acredito em valores humanos básicos. Acho que ‘Guardiões da Galáxia’ foi um bom ponto de partida para isso.”

Ele vê seu trabalho com os Guardiões – personagens com “garra”, “esquisitices” e “nervosismo” – como uma preparação para abraçar a pureza de Superman. “Superman não é isso […] Ele é bem puro. Então, chegar ao ponto em que eu consegui escrever esse personagem foi uma jornada. No passado, eu teria feito isso zombando do personagem, e não acho que seja isso que eu faça aqui.”

Um Superman sentimental e até “bobo”

Essa nova autoconfiança criativa permitiu a Gunn abraçar todos os aspectos de Superman, incluindo os mais fantásticos e, para alguns, “bobos”. “Um cachorro voador com uma capa é estranho. Robôs gigantes andantes e kaijus – tudo isso é estranho”, disse, referindo-se aos elementos clássicos dos quadrinhos que ele trará para o filme.

“Tenho menos medo agora do que antes. Permito-me ser puramente criativo mais do que antes. E eu pensava que estava sendo puramente criativo, mas muitas vezes era apenas a raiva se liberando de outra forma”, concluiu. “Tenho menos medo de ser bobo ou sentimental”.

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